Entrevista com Mikaeyel Misnasyan, embaixador da República da Arménia junto à Santa Sé
Roma, 20 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
A embaixada da Arménia perante a Santa Sé preparou uma
exposição sobre a cristandade no Oriente e recordará que a presença dos
cristãos em diversas partes do mundo corre perigo.
ZENIT conversou com o embaixador Mikaeyel Misnasyan, que nos falou da situação.
ZENIT: O seu povo conheceu a perseguição na própria pele. Qual é a
mensagem que os mártires cristãos do Oriente Médio dão ao mundo?
Embajador Misnasyan: Os mártires cristãos no Oriente Médio não são um fenómeno de hoje. Existe algo nos processos de modernização dessa
grande região que está saindo de controle. Os arménios foram vítimas de
uma limpeza étnica que durou quase cem anos, entre a Anatólia e o
Cáucaso, da qual o genocídio de 1915 foi um dos piores momentos, o mais
emblemático. E talvez pudesse ajudar a prevenir a evolução de
acontecimentos futuros. A mensagem há mais de cem anos é esta: temos que
evitar o pior.
ZENIT: Em algumas dessas regiões há comunidades arménias radicadas. Qual é o futuro delas?
Embajador Misnasyan: Elas estão bem integradas em quase todos os
países do Oriente Médio. Com excepção de Jerusalém e do Líbano, onde a
presença religiosa arménia tem origens muito antigas, nos outros países
eles são descendentes, em grande parte, dos sobreviventes dos arménios
da Anatólia, deportados para o deserto sírio em 1915. Para todos eles, a
situação das duas últimas décadas é uma trágica repetição da dor já
sofrida. Hoje é particularmente difícil a situação dos arménios sírios e
iraquianos. O ataque dos jihadistas contra o povoado arménio de Kessab,
na fronteira turca, e a destruição do monumento à memória em Deir ez
Zor, que conservava os restos dos arménios mortos durante as deportações
de 1915, foram um golpe tremendo numa população que já suporta quatro
anos de guerra civil.
ZENIT: Qual é o compromisso da Arménia com os seus irmãos no mundo?
Embajador Misnasyan: A Arménia está ajudando os arménios da Síria e
do Iraque. Uma das poucas embaixadas presentes em Damasco é a arménia,
que resiste graças à coragem dos diplomatas. A Arménia acolhe
diariamente as famílias de arménios que chegam da Síria ou do Iraque,
mas a nossa capacidade, infelizmente, é limitada. A Arménia tem os seus
problemas, como com o vizinho Azerbaijão, que ameaça novamente a
população arménia de Nagorno Karabakh.
ZENIT: Existe um projecto de colaboração entre a sua embaixada e a Santa Sé para intervir em apoio aos cristãos perseguidos?
Embajador Misnasyan: O estado arménio, através da sua diplomacia,
apoia os contínuos apelos do papa Francisco e a acção da Secretaria de
Estado da Santa Sé e dos outros dicastérios que estão trabalhando para
aliviar os sofrimentos de todas as pessoas afectadas pelo fanatismo no
Iraque e na Síria. Em Setembro, realizaremos iniciativas para
sensibilizar sobre os cristãos no Oriente Médio, com o apoio do
Pontifício Conselho para a Cultura.
ZENIT: No último aniversário do genocídio arménio, o presidente turco
Recep Tayyip Erdogan expressou a sua dor aos parentes das vítimas.
Embajador Misnasyan: Teria sido um grande passo adiante, mas é um
passo que está rodeado de mecanismos de negação cada vez mais
sofisticados. É doloroso, depois de cem anos, ainda ver que as vítimas
são equiparadas aos verdugos. Erdogan não deu o passo decisivo de
reconhecer o crime, embora a Turquia ainda tenha uma boa oportunidade no
centenário do genocídio, em 2015.
ZENIT: Na cidade italiana de Rimini, de 24 a 30 de Agosto, haverá uma
exposição sobre a cristandade na qual a sua embaixada participará,
correto?
Embajador Misnasyan: Sim. A ideia da exposição no Meeting de Rimini,
que depois será itinerante, nasceu há um ano com base na preocupação com
o futuro dos cristãos e com a presença do cristianismo nessas regiões
de perseguição.
(20 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
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