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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O cristianismo no Oriente Médio corre o perigo de desaparecer

Entrevista com Mikaeyel Misnasyan, embaixador da República da Arménia junto à Santa Sé


Roma, 20 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci


A embaixada da Arménia perante a Santa Sé preparou uma exposição sobre a cristandade no Oriente e recordará que a presença dos cristãos em diversas partes do mundo corre perigo.

ZENIT conversou com o embaixador Mikaeyel Misnasyan, que nos falou da situação.

ZENIT: O seu povo conheceu a perseguição na própria pele. Qual é a mensagem que os mártires cristãos do Oriente Médio dão ao mundo?
Embajador Misnasyan: Os mártires cristãos no Oriente Médio não são um fenómeno de hoje. Existe algo nos processos de modernização dessa grande região que está saindo de controle. Os arménios foram vítimas de uma limpeza étnica que durou quase cem anos, entre a Anatólia e o Cáucaso, da qual o genocídio de 1915 foi um dos piores momentos, o mais emblemático. E talvez pudesse ajudar a prevenir a evolução de acontecimentos futuros. A mensagem há mais de cem anos é esta: temos que evitar o pior.

ZENIT: Em algumas dessas regiões há comunidades arménias radicadas. Qual é o futuro delas?
Embajador Misnasyan: Elas estão bem integradas em quase todos os países do Oriente Médio. Com excepção de Jerusalém e do Líbano, onde a presença religiosa arménia tem origens muito antigas, nos outros países eles são descendentes, em grande parte, dos sobreviventes dos arménios da Anatólia, deportados para o deserto sírio em 1915. Para todos eles, a situação das duas últimas décadas é uma trágica repetição da dor já sofrida. Hoje é particularmente difícil a situação dos arménios sírios e iraquianos. O ataque dos jihadistas contra o povoado arménio de Kessab, na fronteira turca, e a destruição do monumento à memória em Deir ez Zor, que conservava os restos dos arménios mortos durante as deportações de 1915, foram um golpe tremendo numa população que já suporta quatro anos de guerra civil.

ZENIT: Qual é o compromisso da Arménia com os seus irmãos no mundo?
Embajador Misnasyan: A Arménia está ajudando os arménios da Síria e do Iraque. Uma das poucas embaixadas presentes em Damasco é a arménia, que resiste graças à coragem dos diplomatas. A Arménia acolhe diariamente as famílias de arménios que chegam da Síria ou do Iraque, mas a nossa capacidade, infelizmente, é limitada. A Arménia tem os seus problemas, como com o vizinho Azerbaijão, que ameaça novamente a população arménia de Nagorno Karabakh.

ZENIT: Existe um projecto de colaboração entre a sua embaixada e a Santa Sé para intervir em apoio aos cristãos perseguidos?
Embajador Misnasyan: O estado arménio, através da sua diplomacia, apoia os contínuos apelos do papa Francisco e a acção da Secretaria de Estado da Santa Sé e dos outros dicastérios que estão trabalhando para aliviar os sofrimentos de todas as pessoas afectadas pelo fanatismo no Iraque e na Síria. Em Setembro, realizaremos iniciativas para sensibilizar sobre os cristãos no Oriente Médio, com o apoio do Pontifício Conselho para a Cultura.

ZENIT: No último aniversário do genocídio arménio, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan expressou a sua dor aos parentes das vítimas.
Embajador Misnasyan: Teria sido um grande passo adiante, mas é um passo que está rodeado de mecanismos de negação cada vez mais sofisticados. É doloroso, depois de cem anos, ainda ver que as vítimas são equiparadas aos verdugos. Erdogan não deu o passo decisivo de reconhecer o crime, embora a Turquia ainda tenha uma boa oportunidade no centenário do genocídio, em 2015.

ZENIT: Na cidade italiana de Rimini, de 24 a 30 de Agosto, haverá uma exposição sobre a cristandade na qual a sua embaixada participará, correto?
Embajador Misnasyan: Sim. A ideia da exposição no Meeting de Rimini, que depois será itinerante, nasceu há um ano com base na preocupação com o futuro dos cristãos e com a presença do cristianismo nessas regiões de perseguição. 

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