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terça-feira, 26 de agosto de 2014

A padroeira de Cuba nos Jardins do Vaticano

Especial para ZENIT: uma imagem da Virgem da Caridade do Cobre será entronizada em 28 de Agosto


Cidade do Vaticano, 25 de Agosto de 2014 (Zenit.org)


A partir de 28 de Agosto, quando o papa Francisco e os peregrinos percorrerem os Jardins do Vaticano rezando os mistérios do santo rosário, encontrarão uma imagem de Maria com o nome de Nossa Senhora da Caridade do Cobre.

Ela é a padroeira de Cuba e será entronizada naquele mesmo dia nos Jardins, por representação dos bispos cubanos e do governatorado do Estado da Cidade do Vaticano.

A pequena imagem envolve uma singular história de fé e devoção mariana. Trata-se de uma réplica da imagem original, feita de bronze e colocada numa ermida na baía de Nipe, nordeste da actual diocese cubana de Holguín, no começo dos anos 1950. A ermida marcava o local em que, no ano de 1612, três mineiros de sal acharam a imagem da futura padroeira flutuando nas águas, sobre uma tábua em que se lia: “Eu sou a Virgem da Caridade”.

Por volta de 1961, a imagem da ermida junto à baía desapareceu e nunca mais se soube dela. Em 1975, um católico de origem libanesa, que passeava pela praia, viu algo que brilhava meio escondido na areia. Ao se aproximar, ficou surpreso: “É a imagem da Virgem”, exclamou. “Fiquei muito triste ao vê-la ali, sozinha e suja”, contou Alfonso Dager, emocionado, em entrevista de 2012, gravada semanas antes de falecer.

Seu testemunho era uma mostra de que a história se repetia. Como já tinham feito o escravo negro Juan Moreno e os índios Rodrigo de Hoyos e Juan de Hoyos, quatrocentos anos antes, Alfonso Dager recolheu a imagem e a levou para casa. Todos na família reconheceram a imagem que tinha desaparecido quatorze anos antes, no começo da revolução cubana. Eles a limparam e a colocaram na sala, onde “La Virgen de la Caridad” recebia as visitas dos devotos que lhe pediam graças.

Três anos depois, a família Dager recebeu a permissão de sair do país. Um tenente foi até a residência para fazer o inventário dos bens materiais que deviam permanecer no imóvel. Surpreso com a presença da imagem da Virgem, o tenente interrogou a família. “Nós a pedimos emprestada à Igreja para uma missa”, responderam. O tenente ordenou que a família a devolvesse à paróquia.
Os Dager a entregaram então ao pároco de Cueto, o padre Rafael Couso Falcón, que, por sua vez, a confiou a dom Héctor Luis Peña, bispo auxiliar de Santiago de Cuba com residência em Holguín. Dom Peña a enviou para o arcebispo, dom Pedro Meurice Estiú. A imagem ficou primeiro em seu escritório e depois na Casa de Retiros do Santuário do Cobre, à espera da construção de uma ermida no local original, em Nipe. Bento XVI a teve em sua capela privada durante a estada numa residência sacerdotal ao lado do Santuário do Cobre em 2012.

Quatro anos antes, o então Secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, tinha visitado o Santuário do Cobre, conhecido a imagem e se interessado pela sua história. Por isso, durante a visita ad limina de 2008, os bispos cubanos presentearam a Bento XVI uma réplica da imagem, que foi abençoada pelo pontífice na presença dos bispos. É esta réplica que, no dia 28 de Agosto, será entronizada no percurso dos Jardins do Vaticano, que já conta com outras treze imagens devocionais de Maria, da Itália e de outros países.

A pequena imagem cubana será colocada sobre uma coluna de mármore e, a pedido dos bispos cubanos, será o cardeal Bertone quem a abençoará, durante um ato programado para as 9h da manhã do dia 28, pelo horário romano.

Estarão presentes o cardeal Giuseppe Bertello, presidente do governatorado do Estado da Cidade do Vaticano, o secretário geral do governatorado, dom Fernando Vergez, e alguns membros da direcção de Serviços Técnicos do governatorado, organismo que projectou e realizou o monumento.

De Cuba, viajarão para o ato o arcebispo de Santiago, dom Dionisio Garcia Ibañez, o bispo de Holguín-Las Tunas, dom Emilio Aranguren Echeverría, o bispo emérito da mesma diocese, dom Héctor Luis Peña, o bispo de Guantánamo-Baracoa, dom Wilfredo Pino Estévez, o bispo de Santa Clara, dom Arturo González Amador, e o bispo auxiliar de Havana, dom Juan de Dios Hernández Ruíz.

A Igreja cubana celebrou em 2012 um Ano Jubilar Mariano pelos 400 anos do achado da imagem da padroeira de Cuba. Foi criado um itinerário que, a modo de peregrinação, pode ser percorrido pelos devotos e que é conhecido como O Caminho da Virgem. São 124 quilómetros que repassam os mesmos lugares pelos quais, no século XVII, a imagem foi transportada desde o seu achado nas águas da baía de Nipe até o povoado de El Cobre, a 13 quilómetros de Santiago de Cuba, junto às antigas minas de cobre da ilha e local de construção do actual santuário.

O percurso coincide com o dos escravos traficados da África, que, para evitar os naufrágios na chamada Passagem dos Ventos, entre as ilhas de Cuba e de Hispaniola, eram levados de barco pela parte nordestina de Cuba até a baía de Banes, e, depois, por terra, em direcção ao sul, até as minas. A Igreja cubana gosta de recordar que Maria, ao dizer seu sim a Deus para ser a Mãe de Jesus, se identificou precisamente como “escrava do Senhor”.

O vídeo com o testemunho de Alfonso Dager (em espanhol) e a história da imagem original pode ser visto no YouTube em:



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