Páginas

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Os países com ebola têm pouca infraestrutura de saúde e de recursos humanos"

Entrevista com Roberto Lorenzo, coordenador de projectos da Juan Ciudad, ONG da Ordem Hospitaleira de São João de Deus


Roma, 20 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


A epidemia de ebola continua se estendendo pela África Ocidental. Em cinco meses, o vírus provocou 1.229 mortes, de acordo com o último informe da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 8 de Agosto, a OMS decretou situação de emergência para a saúde pública mundial, recomendando medidas excepcionais nos países atingidos.

Entre os falecidos, conta-se o irmão Miguel Pajares, da congregação de São João de Deus, contagiado pelo ebola no hospital liberiano em que era missionário. A Juan Ciudad é uma organização não governamental com foco em desenvolvimento, criada pelos Irmãos de São João de Deus. Desde a fundação, em 1991, trabalha "para tornar possível a solidariedade entre os povos, a mudança de atitudes pessoais e a transformação das actuais estruturas, para nos encaminhar a uma distribuição de bens e de serviços mais justa e humanizadora".

ZENIT entrevistou Roberto Lorenzo, coordenador de projectos da Juan Ciudad, para apresentar aos nossos leitores um panorama sobre o trabalho da ONG na África, sobre a situação no continente e sobre o surto de ebola.

ZENIT: Há quanto tempo a Juan Ciudad trabalha na África?
Roberto Lorenzo: Desde a fundação, em 1991. A ONG foi criada como uma ferramenta da Ordem Hospitaleira de São João de Deus para trabalhar na cooperação internacional. Os projectos, campanhas e acções acontecem através dos centros sociais e de saúde de São João de Deus em todo o mundo.

ZENIT: Como são os projectos de cooperação internacional e desenvolvimento?
Roberto Lorenzo: Os projectos consistem na construção de infraestrutura social e de saúde, no equipamento dos centros, manutenção e melhora das instalações já existentes, além de programas de saúde preventiva, educativos, nutricionais, oficinas ocupacionais e de formação. Tudo em função das necessidades que os centros da ordem identificam nos países.

ZENIT: Quais são as dificuldades do seu trabalho humanitário nesses países da África?
Roberto Lorenzo: Os centros da ordem estão trabalhando há muitos anos nesses países. As dificuldades que podem surgir são as dificuldades próprias dos países empobrecidos. Podemos destacar, por exemplo, a falta de pessoal qualificado em muitos casos, o clima rigoroso para certos equipamentos, a falta de recursos, etc.

ZENIT: A OMS declarou este actual surto de ebola como emergência para a saúde internacional. Houve demora na reacção?
Roberto Lorenzo: Provavelmente, sim. A própria OMS reconhece. Os surtos anteriores tinham ficado circunscritos a áreas rurais e isoladas. O começo deste surto também foi assim, mas ele já chegou às zonas urbanas. E as medidas tomadas não estão sendo suficientes.

ZENIT: Como ajudar a paliar este surto de ebola?
Roberto Lorenzo: Em primeiro lugar, tomando consciência, que é uma coisa que já estamos fazendo. Em segundo lugar, disponibilizando recursos. Os países atingidos têm uma infraestrutura de saúde que em geral é muito frágil. Por isso eles precisam de recursos humanos e materiais que possam ser coordenados com os agentes locais.

ZENIT: Na sua opinião, existe falta de consciencialização sobre a situação que a África está vivendo?
Roberto Lorenzo: Infelizmente, existe uma falta de consciência sobre a África em geral. Ela costuma ser notícia por causa de assuntos como este, doenças, guerras, emigração. Mas a África é um continente cheio de vida, com uma enorme riqueza, com muitas possibilidades.

Sem comentários:

Enviar um comentário