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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Diante da catástrofe atual: Repensar a Igreja com múltiplas vozes




Anne-Marie Pelletier 
Teóloga e biblista francesa, professora do Collège des Bernardins e vencedora do Prémio Ratzinger 2014


Neste momento em que as profundezas da vergonha parecem sem fundo e porque o Papa Francisco nos chamou a nós, o "povo de Deus", precisamos de acabar com o nosso silêncio!

Em primeiro lugar, precisamos de fazer isso para enfatizar alto e claro, particularmente para aqueles cristãos que se sentem devastados pelos eventos, que há apenas UM sacerdote ou “sumo sacerdote”, como a Carta aos Hebreus diz, e como igualmente o expressa a Lumen Gentium.

E este Sacerdote nunca faltará na Igreja, não importa as provações que possam surgir. Vamos todos reler o que o Evangelho de João diz sobre o “Bom Pastor”!

A instituição - particularmente o sacerdócio ministerial - não é a coroa sagrada da Igreja.

Devidamente entendida e dentro de seus limites, a Igreja institucional é um serviço humilde para a atualidade, responsável pela presença sacramental de Cristo para o povo batizado.

Isso é completamente diferente do que o mundo poderia pensar tendo como base para o seu entendimento os "príncipes da Igreja".

Re-examinar o papel sacerdotal

Esta é a questão principal. Está aí a necessidade fundamental hoje de reexaminar radicalmente a nossa eclesiologia. 

Na opinião de muitos, uma das causas dos crimes de pedofilia e abuso de autoridade é uma maneira muito deficiente, desequilibrada e arrogante de entender o poder sacerdotal.

Uma teologia tradicionalmente piramidal da Igreja tem reconfortado a identidade do padre como um cristão da elite que domina as outras pessoas batizadas, mantendo a jurisdição sobre as vidas dos outros.

O sentido de omnipotência que emana daqui inevitavelmente leva a excessos e remove quaisquer barreiras ao jogo das fantasias de algumas pessoas.

Essa realidade precisa, agora, de ser corajosamente desafiada. Primeiro nos seminários, mas também pelos cristãos que nem sempre estão isentos de uma visão sacralizada do papel sacerdotal, que o Evangelho de facto repudia.

Nesse sentido, não podemos apegar-nos mais a uma eclesiologia desenvolvida e implementada exclusivamente por padres.

Precisamos de imaginar uma Igreja com várias vozes, que evidentemente incluirá as vozes das mulheres. Elas têm um relacionamento diferente dos homens com o poder, o que poderia inspirar de forma útil a igreja institucional.




Questionando o celibato sacerdotal

Da mesma forma, também é necessário dar uma olhada mais de perto na questão do celibato eclesiástico. Como podemos falhar em ver que a sua justificação está quase sempre intimamente ligada à visão problemática da Igreja sobre a sexualidade, quaisquer que sejam as perspectivas que a “teologia do corpo” possa oferecer?

Como ignorar o facto de que o celibato é adornado com um prestígio quase místico que certamente reforça o papel perigoso e exagerado do padre, enfatizando ainda mais a sua singularidade na comunidade cristã?

Da mesma forma, a cegueira de uma parte da hierarquia eclesiástica à gravidade dos crimes cometidos é uma realidade muito perturbadora que também precisa ser questionada.

A voz do papa Francisco é necessária

De qualquer forma, parece que todos os membros da instituição são necessariamente afetados em maior ou menor grau pelos atuais eventos, embora seja verdade que esses eventos estejam ligados a uma ordem eclesial problemática, o que ajuda a incentivar uma lei de silêncio culpável.

Sendo assim, e dadas as manobras intra-eclesiais que estão contribuindo para a crise, nós, como leigos, precisamos de afirmar fortemente que sentimos uma grande necessidade do ministério do Papa Francisco.

No mundo atual, incerto e ameaçador, ele permanece a mais alta autoridade moral capaz de tomar uma posição diferente das perigosas ideologias e políticas nacionalistas de retirada e exclusão que continuam alimentando o ódio no mundo e obscurecendo o futuro da comunidade humana.

Para a Igreja, o Papa Francisco também continua a ser o pastor essencial, que, com excepcional firmeza, dá consistência ao sacerdócio dos batizados. Em Gaudete et Exsultate, ele fez isso novamente, abrindo o conceito de santidade, permitindo-nos redescobri-lo como a vocação de todos e inseparável do batismo.

Necessário no mundo

Ele é também a pessoa que insistiu com vigor que a misericórdia é toda a mensagem do Evangelho, o que permitiu que o seu discurso transcendesse as fronteiras da Igreja.

Portanto, a misericórdia é o que devemos implementar em nossa relação com o mundo em lugar de uma estreiteza moralizante que desfigura a mensagem do mundo católico.

Não é uma questão de entrar na lógica das relações de poder, que de fato está muito ativa dentro da Igreja. Pelo contrário, significa que nós, como cristãos, devemos conhecer o que demandamos da instituição, a fim de cumprir fielmente a missão confiada por Cristo.

Seremos corajosos o bastante para lembrar àqueles que navegam em águas turbulentas que, se pedirem a renúncia do Papa Francisco, será necessário também “descanonizar” o Papa João Paulo II por seu relacionamento com o padre mexicano Marcial Maciel, e os Legionários de Cristo?

É claro que há um problema!

É verdade que a obstinação do Papa Francisco desde a sua eleição em invocar e comunicar “a alegria do Evangelho” pode parecer totalmente irreal no presente. Mas é isto que nos permite mergulhar fundo o suficiente no Evangelho, exatamente, para enfrentar a situação atual. 

[Artigo publicado por La Croix International, 29-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen com ligeiras adaptações para o português de Portugal e foi publicada na newsletter do Instituto Humanitas da Unisinos em 30..08-2018.
Crédito da foto: site de Anne-Marie Pelletier]





La ONCE y la asociación de Ciegos Católicos Españoles pasan a Braille los leccionarios de la Misa



Ciego leyendo en misa
Los leccionarios A, B y C, es decir los libros que contienen las lecturas de las misas de los domingos ya están disponibles en sistema Braille para que las personas ciegas puedan usarlos para su propia lectura o para ser proclamadas en las celebraciones eucarísticas. Se trata de una colaboración entre la ONCE, la Organización Nacional de Ciegos Españoles, y CECO, la asociación que agrupa a los Ciegos Católicos de este país.
El origen de esta iniciativa, aunque ya existía una versión en Braille de los anteriores leccionarios, encuentra su eco más reciente en el número 71 de la exhortación postsinodal Verbum Domini, de Benedicto XVI. En ella, el Papa señala que “quisiera también recordar que el Sínodo ha recomendado prestar una atención especial a los que, por su condición particular, tienen problemas para participar activamente en la liturgia, como, por ejemplo, los discapacitados en la vista y el oído. Animo a las comunidades cristianas a que, en la medida de lo posible, ayuden con instrumentos adecuados a los hermanos y hermanas que tienen esta dificultad, para que también ellos puedan tener un contacto vivo con la Palabra de Dios”.
Las preguntas para más de uno es dónde comprar estos leccionarios y cuánto cuestan. La respuesta es que están disponibles únicamente para los afiliados a la ONCE, y es a esta organización a quien hay que pedirlos. Y el precio es de únicamente 3 euros, pues están la ONCE se encarga de fomentar este tipo de publicaciones en Braille pues su precio sería realmente inviable, basta pensar que un libro en tinta implica cuatro del mismo tamaño en sistema Braille, pues el papel es significativamente más grueso y los caracteres requieren mayor espacio para su impresión.
El presidente de CECO, Ignacio Segura, ha explicado a Religión en Libertad que este primer paso tendrá en próximas fechas una continuidad en los leccionarios dedicados a los Santos y a las lecturas de los días entre semana.

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Asesinatos, amenazas, incendios… pero el P. Ludovic sigue promoviendo el diálogo en Centroáfrica

Resultados de la persecución en su parroquia: 32 muertos, cientos de heridos y dos templos quemados


El sacerdote católico centroafricano Ludovic Berthin Kpefio


El sacerdote católico centroafricano Ludovic Kpefio con ayuda de KAICIID ha desarrollado un proyecto dirigido a capacitar a líderes religiosos católicos, musulmanes y protestantes en materia de diálogo interreligioso. Su objetivo es promover el diálogo interreligioso en Centroáfrica para crear embajadores de cohesión social, pero también fortalecer el marco permanente de diálogo interreligioso en el país. El proyecto pretende tender un puente de paz y reconciliación entre las comunidades cristiana y musulmana, así como reducir la desconfianza entre ambas. Su parroquia ha sufrido dos atentados, con numerosos muertos en cada uno de ellos, y además de dos templos en los que también estuvo ardieron por completo: el P. Ludovic sabe en carne propia lo muy importante que es este diálogo.
KAICIID es la única organización intergubernamental que cuenta con una Junta Directiva compuesta por representantes de las principales religiones del mundo, y cuyos Estados fundadores fuero el Reino de Arabia Saudí, la República de Austria y el Reino de España, siendo la Santa Sede observador fundador del Centro.
Cuando en 2010 el abad Ludovic Berthin Kpefio Mbana Passanguere dejó su país, la República Centroafricana, para cursar Estudios Islámicos en Malí, su decisión sorprendió a mucha gente. Sin embargo, quería adquirir conocimientos objetivos sobre el islam y aprender cómo llevar a cabo el diálogo interreligioso. Estaba convencido de que el hecho de conocer al otro sería de gran ayuda para el diálogo y contribuiría a evitar la aprensión y las concepciones erróneas.
La gente “no se lo podía creer, porque las comunidades convivían pacíficamente. Sin embargo, en cuanto estalló el conflicto, en 2013, ambos bandos (cristianos y musulmanes) me pidieron que realizara presentaciones y que organizara talleres y conferencias sobre el diálogo interreligioso”, recuerda.
El padre Kpefio, de 38 años, trabajó en dos iglesias ubicadas en PK5, enclave musulmán de Bangui, que ha sido el epicentro de numerosos ataques en el marco del conflicto reciente. En 2008 y 2011 fue párroco de San Matías de Mulumba, y entre 2011 y 2014 también lo fue de San Miguel de Bazanga, a tan solo 800 metros de la mezquita central de Bangui.
Ludovic Kpefio (de pie, a la izquierda) durante un taller en N'délé, al noreste de la RCA (a 1.000 km de Bangui)
En 2011 fue nombrado jefe de la Comisión de Diálogo Interreligioso de la Archidiócesis de Bangui, y desde entonces ha dirigido un equipo integrado por dos sacerdotes, dos religiosas y dos laicos, que ofrecen sesiones de capacitación sobre temas relacionados con el islam y el diálogo interreligioso. En la actualidad desempeña asimismo los cargos de Director Nacional de Obras Católicas en Bangui, Director del Centro San Juan XXIII, Secretario de la Comisión Episcopal para el Apostolado Laico y Capellán Nacional de la Fraternidad de San José.
El padre Kpefio se encontraba en la iglesia de Nuestra Señora de Fátima el 1 de mayo de 2018 cuando se produjo un atentado que provocó la muerte a 15 personas, incluido un sacerdote, el abad Albert Tungumale Baba, e hirió a muchas otras. En un momento en el que el temor de que se produzca una nueva oleada de violencia en la República Centroafricana va en aumento, el abad Ludovic Kpefio comparte su historia y describe el horror del ataque, pero también expresa esperanza por lo que sus conciudadanos pueden lograr a través del diálogo en favor de la reconciliación.
- ¿Qué recuerda del atentado del 1 de mayo?
- Acudí a la parroquia de Nuestra Señora de Fátima para celebrar con los miembros de la Fraternidad de San José la renovación de sus votos y de su compromiso como miembros de esa fraternidad. Había más de 400 promitentes y más de 2.000 asistentes. En total, debía de haber en torno a 3.000 personas.
» La celebración de la Eucaristía comenzó con total serenidad a las 9:25 am. Dos horas después sonaron los disparos. Al principio cundió el pánico entre la comunidad cristiana. Después, el párroco tomó el micrófono pidiendo calma. Funcionó durante un momento, pero el tiroteo continuó. Dado que los terroristas se encontraban al otro lado de la verja de la iglesia, pedí al celebrante principal que el coro dejara de cantar y que se interrumpiera la celebración eucarística, puesto que todos estábamos en peligro de muerte. Me puse en pie y pedí a todos los sacerdotes que abandonaran el altar inmediatamente. Decidimos evacuar del altar a los bailarines litúrgicos, que en su mayoría eran niñas de 6 a 10 años de edad. Abandonaron el altar bajo una lluvia de balas y se metieron en el presbiterio de la parroquia. A continuación fuimos a la oficina del Vicario para llamar a las fuerzas de seguridad.
Cuando la Iglesia de Nuestra Señora de Fátima, en Bangui, fue atacada el 1 de mayo, 15 personas murieron y muchas más resultaron heridas
- ¿Por qué razones se cometió este atentado?
Los terroristas pretendían atentar directamente contra la comunidad cristiana católica mientras rezaba. El ataque duró dos horas y utilizaron armas cortas, armas largas y granadas; por lo tanto, queda claro que habían preparado el atentado meticulosamente. La intención expresa de los terroristas era matar al mayor número posible de personas. Como si esto no fuera suficiente, algunos de ellos habían trepado a los mangos que crecían en la parte exterior de la verja para asesinar a los pobres fieles.
» Fueron dos horas de terror, matanza y absoluta carnicería. Las balas silbaban por todas partes; las mujeres y las niñas se desmayaban de miedo. Fue espantoso. Las granadas, al explotar, arrancaron ambas piernas a una mujer que estaba dando el pecho a su hija, y mutilaron y mataron a otras tres personas. Una mujer discapacitada recibió impactos de bala en su pierna derecha y no podía moverse. Cuando el abad Albert Tungumale Baba acudió a socorrerla, le dispararon y cayó muerto. La gente huía en todas las direcciones. Era una auténtica locura.
Sin embargo, Dios salvó muchas vidas humanas e inspiró a los jóvenes, que rompieron el muro lateral de la verja y consiguieron evacuar a muchas personas, entre las que había gente que había sufrido múltiples heridas.
- Hace cuatro años, esa misma iglesia también fue objeto de un atentado en el que murieron 18 personas, entre ellas un sacerdote. ¿A qué se deben los repetidos ataques contra este templo?
- Es importante aclarar que los contextos en los que se produjeron ambos atentados eran radicalmente opuestos. En mayo de 2014, el objetivo de los terroristas eran los desplazados internos que se habían refugiado en el patio de la iglesia de FátimaEn cambio, el atentado del 1 de mayo de 2018 iba dirigido contra la comunidad cristiana católica, concretamente contra los miembros de la Fraternidad de San José de la Arquidiócesis de Bangui, algunos de los cuales se encontraban renovando sus votos. El lugar y los autores de la masacre fueron los mismos, pero las víctimas y las circunstancias fueron diferentes.
» En 2014, el padre Emile Nzale pasaba por el lugar cuando comenzó el ataque y se refugió en el patio de la parroquia. Los atacantes llegaron allí con el propósito de matar, y como era un hombre mayor, no pudo correr ni trepar por el muro de la parroquia. Por eso lo asesinaron a tiros junto a las otras víctimas. En esta ocasión, el abad Albert Tungumale Baba, que era el párroco de la iglesia de San Matías en el KM5, había venido para concelebrar la eucaristía y participar en las ceremonias de promesa de San José, donde había ejercido anteriormente como capellán. Cuando llegaron los terroristas, no accedieron al patio de la iglesia, sino que nos dispararon desde lejos y mataron a mucha gente.
Aunque la iglesia está destruida, los servicios religiosos aún se están llevando a cabo y el Cardenal Nzapalainga ha alentado a los sacerdotes a continuar con sus actividades pastorales en estos tiempos difíciles
- ¿En qué situación se encuentra la parroquia actualmente?
- La situación hoy día es complicada, porque los sacerdotes todavía se encuentran bajo los efectos del shock psicológico y del trauma que les han provocado estos trágicos sucesos. La infraestructura de la iglesia está gravemente dañada y la reparación exigirá una suma (de dinero) colosal. Los sacerdotes siguen celebrando las ceremonias religiosas a pesar de que el ambiente en torno a la iglesia es tenso y amenazador, debido al desplazamiento masivo de la población civil a otros barrios.
» El cardenal Dieudonné (Nzapalainga) ha aumentado sus visitas a la comunidad para animar a los sacerdotes a continuar con sus actividades pastorales en estos tiempos difíciles. Les motiva para que conforten a los fieles y sanen las heridas del pasado; de ese modo podrán superar estas tribulaciones. Esto evidencia la heroicidad de los pastores que no abandonan su rebaño, y les ayuda con su presencia y su orientación espiritual en tiempos de necesidad.
- Los medios de comunicación informaron que el ataque desencadenó una ola de violencia contra las mezquitas. ¿Qué mensaje se envió a la comunidad parroquial después del atentado? El Papa Francisco hizo un llamamiento a “decir no a la violencia y a la venganza para construir la paz”. Pero ¿cómo se puede evitar la venganza?
- En cuanto la gente supo que la iglesia de Nuestra Señora de Fátima había sido atacada por terroristas y que había numerosas personas fallecidas, incluido el abad Albert Tungumale Baba, la muchedumbre reaccionó con ira y causó daños en la mezquita de Ngaragba, situada en el distrito 7.º de Bangui. También arrojaron al río los materiales de construcción de la mezquita de Lakouanga, en el distrito 2.º de la ciudad.
» Sin embargo, los llamamientos y exhortaciones del cardenal Dieudonné pidiendo calma y moderación fueron escuchados por el pueblo y por la comunidad cristiana. De todos modos, las tensiones persisten en las zonas y barrios de los distritos 3.º y 5.º.
» El objetivo de toda religión es fomentar y contribuir a la cohesión social y la convivencia pacífica. Nos encontramos en un momento crucial; por el momento, la mayoría de la población centroafricana ha aceptado y elegido el camino de la paz, y su decisión ha contribuido en gran medida a la consolidación de la paz y al cese de la violencia. Sin embargo, los sucesos del 1 de mayo de 2018 causaron un profundo desconcierto entre la población. Los líderes de las comunidades religiosas debemos instar a nuestros fieles a renunciar al espíritu de violencia y venganza. La convivencia en el seno de nuestras comunidades es la única forma de lograr la paz. Por lo tanto, es necesario comunicar mensajes de paz, tolerancia, convivencia pacífica y perdón a través de las radios confesionales así como en nuestras homilías, sermones y predicaciones.
» En resumen, debemos aprender a vivir juntos. Tenemos un destino común y no podemos eliminar, excluir ni abolir comunidad alguna. Juntos, trabajando de la mano, podremos construir nuestro país.
- Albert Tungumale Baba es el segundo sacerdote asesinado en un mes durante ataques deliberados contra iglesias. ¿Qué mensaje desea enviar a los autores y a los familiares de las víctimas?
Asesinar a un sacerdote es un pecado muy grave, porque es el intermediario entre los seres humanos y Dios. El sacerdote recibe a todo hombre y a toda mujer, sin distinción, y les proporciona orientación humana, social y espiritual, ayudándoles a encontrar soluciones a sus problemas. El sacerdote es amigo de todos. Es neutral.
» La vida humana es sagrada. Así se establece en el preámbulo de varias constituciones y leyes. La propia Biblia, y también el Corán, nos prohíben matar a ningún ser humano, pues son nuestros congéneres. Es imprescindible que cese el derramamiento de sangre. La justicia de Dios es implacable. Ha llegado el momento de abandonar la senda de la perdición y tomar la de la vida, o lo que es lo mismo, la del amor, la tolerancia, la paz, la convivencia, la alegría, la caridad y la concordia.
» A las familias de las víctimas les ofrezco mis condolencias desde lo más profundo de mi corazón. El Señor enjugará sus lágrimas y sanará sus heridas. La venganza solamente provocará más muerte y el comienzo de un nuevo ciclo de violencia. Son tiempos difíciles de digerir y superar, pero el Señor proveerá.
Después de haber trabajado dos veces en el KM5, el enclave musulmán de Bangui, el abad Kpefio fue nombrado jefe de la Comisión de Diálogo Interreligioso de la Arquidiócesis de Bangui. También es el Director del Centro de San Juan XXIII, que incluye la iglesia de San Isidro Bakandja (en la foto)
- ¿Cómo fue su experiencia trabajando en una parroquia del KM5?
- Lo hice en dos ocasiones, en la parroquia de San Matías de Mulumba y en la de San Miguel de Bazanga. Mantuve excelentes relaciones con los jóvenes musulmanes, unas buenas relaciones de vecindad. Querían saber qué actividades pastorales realizaba yo durante el día y yo, por mi parte, deseaba conocer mejor su vida y sus actividades, sobre todo las religiosas, como los discursos que pronunciaba el imán durante las plegarias de los viernes. Fue una experiencia muy enriquecedora. Cuando me asignaron a otra parroquia, muchos jóvenes musulmanes se sintieron tristes y algunos incluso lloraron, pero volví para visitarles y vivimos momentos muy felices.
Las dos iglesias fueron incendiadas durante los sucesos de 2014 y 2015. Se reubicaron en barrios cercanos al KM5 y hoy siguen celebrando misas y otros servicios religiosos.
- A su juicio, ¿por qué es importante el diálogo interreligioso en su país?
- El diálogo interreligioso es importante en nuestro país porque, tras el atentado terrorista contra la iglesia de Fátima, vivimos un momento crucial. Si no se hace nada ahora, el número de fallecidos aumentará. Es urgente e imperativo actuar; debemos crear conciencia a través de la radio y promover la consolidación de la paz transmitiendo mensajes de paz, amor y no violencia para desarmar los corazones y las mentes.
» En segundo lugar, es fundamental que los líderes religiosos (musulmanes, protestantes y católicos) se reúnan en torno a una misma mesa y diseñen juntos campañas de sensibilización con un mensaje unitario: deseamos una convivencia pacífica entre todas las comunidades.
» Abandonemos cualquier espíritu de venganza y odio, ya que de lo contrario correremos el riesgo de volver a caer en la violencia. Y eso no beneficia a nadie, porque todas las personas que mueren son centroafricanas y el país no puede prescindir de ninguna de ellas, pues las necesita para su recuperación social, humana, cultural y económica. La diversidad es una riqueza para nuestro pueblo y continúa siendo un activo muy importante para nuestra convivencia pacífica.
En última instancia, es necesario organizar talleres, debates, cursos de capacitación y sesiones sobre el tema del diálogo interreligioso, e invitar a todas las comunidades religiosas (a participar en estas iniciativas). No podemos olvidar a las emisoras de radio religiosas, públicas y privadas, de manera que el mensaje pueda llegar a toda la población.

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Neocolonização Ideológica em África


A ONU e outras organizações internacionais estão empenhadas em impor o aborto, a anticoncepção obrigatória, o controlo demográfico e a ideologia do género em África, de acordo com Obianuju Ekechoa, microbióloga nigeriana, católica, residente na Inglaterra presidente da “Culture of Life Africa”, uma das vozes mais fortes contra o neocolonialismo ideológico da ONU que promove uma cultura de morte em África. 

No seu recente livro “Target Africa: Ideological Neo-colonialism in the Twenty-First Century”, denuncia-se este procedimento impositivo dos governos ocidentais e de algumas organizações humanitárias, que encontraram nesta estratégia um enorme e suculento negócio, o qual subjaz a estes esquemas políticos, enriquecendo muitas empresas com a venda dos seus produtos. Assumindo-se como salvadores e libertadores dum povo explorado, oferecem soluções perversas para imporem as suas ideologias destrutivas da cultura africana, dos seus valores, da sua fé e do sentido de família que habita nestes povos desde sempre.

Esta guerra contra la mulher africana vem na sequência das previsões apocalípticas de Paul Ehrlich, no seu livro, “The Population Bomb”, publicado em 1968, no qual pressagia uma ameaça de excesso de população pelo que implicaria medidas drásticas de morte aos inocentes, de esterilização de mulheres e de imposição de outras medidas contrárias ao nascimento, como suposta medida de controlo demográfico.

Defende ainda que os africanos precisam urgentemente de bons sistemas sanitários, de programas de nutrição para as crianças, de maiores e melhores oportunidades educativas, de uma verdadeira cultura pró-vida e não de manipulações oriundas de grupos a favor do aborto, implementando uma contra-cultura através de organizações não estatais que gozam de grande influência no plano internacional. Organizações como a Federação Internacional do Planeamento Familiar, na área do planeamento familiar, da contraceção, do aborto; corporações ligadas à indústria farmacêutica, que tem procurado “abrir o mercado de contracetivos em África e em outros países em desenvolvimento”.

A família e Deus são a grande esperança do povo africano e os problemas deste continente não se resolvem com menos gente, nem com ajudas envenenadas de estados que se consideram superiores, protectores, mas que no fundo manobram e manipulam numa desenfreada colonização de ideias, de esquemas e de pseudo ajudas com intenção de fragmentar os seus ancestrais valores, família, moralidade, a cultura e fé.

Porém, os africanos não se envergonham de ser católicos nem de ser um povo “desavergonhadamente religioso”, crente em Deus no qual depositam toda a sua esperança de vida, sabendo que dos homens só podem esperar enganos e exploração.

Pode parecer excessivo, mas aconselho o leitor a inteirar-se dos estragos e dos abusos que se têm praticado, desde as tristemente célebres Conferências do Cairo e de Pequim, que muito sorrateiramente decidiram implementar uma trágica força ideológica de manipulação moral em nome duma fictícia liberdade sexual da mulher. (Ver livro de Marguerite Peeters sobre estas questões, intitulado "A Globalização da Revolução Cultural Ocidental".

Michele Bonheur 



É Sempre o Tempo Certo Para Usufruir da Família

Todas as estações do ano possuem uma particularidade especial para usufruir da companhia da família. No entanto, o verão tem um encanto diferente. Traz o sabor a férias, a praia, a calor, ao campo, enfim aos reencontros mais descontraídos de lazer e informais com os amigos e a família. Alguns vêm de muito longe, atravessam fronteiras, cheios de saudades do seu Portugal e de quem deixaram por cá. Esquecem as lutas diárias, o trabalho, o cansaço em prol de um merecido descanso, perto de quem mais se gosta e se sente saudade. É um tempo de alegria, de festa, de convívio, tudo tem mais cor, música, com uma gastronomia associada à época e ao local onde nos encontramos. Há que aproveitar o melhor possível participando em procissões, concertos, arraiais, festas comemorativas, feiras, enfim, um número interminável de eventos que ajudam a ocupar o tempo. Há alguns dias tive oportunidade de ver num canal de televisão uma festa que incluía a bênção de barcos de pescadores, todos enfeitados para transportarem em procissão diferentes andores com várias de Nossa Senhora de diversas invocações. Recordo que constituía uma honra ser convidado para participar num destes barcos em homenagem à Virgem Maria pedindo-lhe a sua bênção e proteção para as diferentes fainas existentes ao longo do ano. Pareceu-me lindo, comovente e uma grande prova de fé.

Em contrapartida nalguns centros urbanos devido à época balnear, como é o caso da cidade de Lisboa, nota-se uma menor afluência de trânsito na cidade, sendo um tempo, na minha modesta opinião, em que se torna mais agradável viver no centro da cidade. Consegue-se facilmente um lugar para estacionar, há menos trânsito, menos filas, enfim a vida mais facilitada para quem vive habitualmente na cidade. É um tempo mais tranquilo que muitos lisboetas gostam de usufruir. Não incluo, como é óbvio, as zonas de uma forte afluência turística. Essas permanecem sempre muito movimentadas.

Mas a propósito de paz e tranquilidade, hoje tive conhecimento através de um correio eletrónico de Aleteia, a dar conhecimento de uns frades franciscanos que vivem com muita humildade em carruagens de comboio abandonadas, no bairro de Scampia, em Nápoles, Itália, onde “a degradação e o envolvimento com o crime é muito intenso”. Os Frades Menores Renovados colaboram com uma paróquia local onde celebram missa, visitam prisões, hospitais e casas. Referiram que os habitantes locais os visitavam e levavam o que lhes parecia ser útil. Por sua vez os frades também caminhavam pelo bairro e conheciam a sua realidade. Procuravam consolá-los e ouvi-los e fazer com que vissem a vida sob um prisma cristão. Alguns estão dispostos a deixar aquela realidade mas não é de todo fácil devido ao seu envolvimento com o sistema. O superior desta ordem Frei Carlo referiu: ”As carruagens onde vivemos representam o caminho itinerante, mas também a simplicidade e a precariedade”. Mais à frente acrescentou: “Não temos dinheiro, vivemos graças à generosidade dos napolitanos que nos trazem comida e dividimos o que nos sobra com os necessitados”, e ainda: “Com estes valores buscamos recuperar a espiritualidade e os ensinamentos de S. Francisco. Também como viajamos constantemente, porque nada é nosso, não podemos fixar raízes”. O Papa Francisco numa das suas homilias referiu que “A Igreja segue em frente graças às surpresas do Espírito Santo. Que não devemos ter medo. Uma coisa que não mudará jamais é o coração de cada homem que tem sempre necessidade de amar e de ser amado”. Que belo exemplo, nos transmitem, os Frades Menores Renovados que, de umas carruagens abandonadas. fizeram um Convento sob a invocação “Estação da Alma” onde não falta o Amor.

Mas depois deste belo exemplo tenho obrigatoriamente de voltar ao título deste artigo, ou seja, fazer a ligação entre o período de verão em família, seja ela a nossa ou a franciscana renovada. Ocorreu-me concluir com a letra de uma música de Scott Mckenzie sobre o verão, já que na diversidade se encontra a complementaridade: “Se fores a S. Francisco, certifica-te se levas algumas flores no teu cabelo, lá irás encontrar gente amável, o verão será repleto de amor”…

Que a Virgem Maria, coroada com as doze estrelas, abençoe e proteja todas as famílias do mundo neste período de férias, não esquecendo em particular, aquelas, que por qualquer motivo, seja ele de saúde, solidão, desemprego, de falta de capacidade financeira, entre outros, não o podem fazer. Essas famílias estão certamente no nosso coração, nas nossas orações e no nosso pensamento, debaixo da proteção de Maria Santíssima.



Maria Helena Paes



É Preciso Semear para Colher

Encontrei-me inadvertidamente a pronunciar a frase “é preciso semear para colher”, ou seja, nada se faz sem o nosso empenho, esforço e dedicação. Há alguns dias convidaram-me para ir a uma praia situada na zona da Costa da Caparica. A minha primeira ideia foi declinar o convite face a toda uma série de preconceitos existentes. Lembrava-me bem das enormes filas na Ponte 25 de Abril. Depois a dificuldade em estacionar. E ainda a falta de estruturas. Mas queria muito usufruir da companhia da minha neta que ansiosamente dizia: “Vem vovó, vamos brincar, nadar, jogar, vai ser muito bom”. Acho que a minha neta julga que tenho a sua idade e quer a minha companhia. Pensei interiormente que o melhor mesmo era fazer um esforço em prol do bem-estar da minha neta e para fomentar relações, laços, memórias… Acabaria mesmo por anuir. Tenho de reconhecer que não foi tão mau conforme tinha ajuizado. Constitui mesmo uma agradável surpresa. Uma vista maravilhosa da ponte. O trânsito não estava assim tão complicado. Optámos pela Praia Morena em que não havia qualquer problema em estacionar o carro. Há muitos anos que não vinha para esta zona, sendo que as memórias e as referências não eram as melhores. Mas depois viria a constituir uma agradável surpresa. O acesso à praia era feito em boas condições. Havia igualmente uma bar/restaurante com bom aspeto com uma vista sobre o mar fabulosa. Um areal extenso, convidativo para uma boa caminhada e, muito importante, era uma zona vigiada. A areia branca e fina. Ao vazar a maré, ficaram a descoberto várias zonas que formavam pequenos lagos que a minha neta muito apreciou, pois formavam piscinas naturais onde mergulhou sem receio. A água era de um azul transparente, com pequenas ondas nesse dia, ainda que um pouco fria. Perante esta maravilha que observava, recordei S. Francisco de Assis que referiu: “Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água, que é tão útil e humilde, preciosa e casta”. 

Segundo o nadador-salvador a quem perguntei qual a temperatura da água, ficámos a saber que devia rondar os 17 graus. A bandeira era de cor amarela. Questionei o porquê deste facto, tendo referido que era precisamente pela existência de fundões, correntes e remoinhos, pelo que todo o cuidado era pouco. Na verdade, é uma praia muito agradável, mas em que se torna necessário estar bem atentos aos sinais que o mar nos transmite. O meu filho comentou que há todo um histórico de acidentes, alguns deles fatais, devido à falta de cuidado, ou ao desconhecimento da sua perigosidade. Bem ciente da responsabilidade face à informação que nos foi transmitida, acompanhei sempre de perto a minha neta, ou, em alternativa, os seus pais. Com o mar, todo o cuidado é pouco! Na realidade foi uma manhã excelente. Fiz as pazes com esta zona. Depois chegou o momento de uma caminhada.

Recordei a Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ que dá enfase ao facto de as pessoas, enquanto seres humanos, se devem sentir movidas a cuidar do ambiente do qual fazem parte: “Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, devemos reconhecer que as soluções não podem vir de uma única maneira de interpretar e transformar a realidade… Se quisermos construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser descurada”. O ponto 108 salienta: “O homem precisa de ser novamente educado para se maravilhar, reconhecendo a verdadeira beleza das coisas criadas”.

Pois é, na realidade, quando era pequena, apanhava imenso berbigão e ameijoas, na companhia dos meus irmãos e da avó Isabel que muito atenta nos vigiava. Foram bons tempos, esses, que passamos na sua companhia. Ficam as memórias. Também a esperança de que o molusco bivalve possa voltar a aparecer em quantidade graças à colaboração de todos. Parece que tudo é cíclico, que tem uma continuidade através das gerações. Agora sou eu que acompanho a minha neta.

Feitas as pazes com a zona, regressámos a Lisboa na companhia de uma neta feliz, afirmando encantada com um brilho nos olhos, antes de adormecer no carro face ao seu estado de cansaço, querer futuramente vir a ser profissional de surf... No dia seguinte, graças à insistência da minha neta, repetimos o mesmo passeio à praia, em detrimento de uma visita a um museu, já que esta se poderá fazer em qualquer altura do ano. Na verdade, importa mesmo ‘alimentar’ as relações humanas, para que mais tarde se possam colher os frutos.



Maria Helena Paes



Mais que insano

Estávamos na fila do raio-X no aeroporto de Frankfurt, passando pelos constrangimentos que se tornaram corriqueiros na aviação. Tira-se os sapatos, o cinto, deita-se numa caixa plástica chaves, moedas e demais objetos que contenham metal. Passam todos pelo portal detector. Se algo acusar uma presença suspeita um agente aproxima-se e inspeciona o candidato a terrorista com um detector manual. Quando enfim passam, agradecidos sem ter por que agradecer, com o cinto na cintura e os devidos sapatos nos pés, manifestam todos uma tola satisfação, agradecidos pela restituição do direito de ir e vir que nunca perderam. São subtrações de liberdade às quais todos se acostumaram.

A companhia aérea seria a Lufthansa, mais que renomada. Sua frota não é velha e conta com uma manutenção talvez sem igual por conta da reconhecida competência alemã, sobretudo na área da mecânica. Entre os objetos que depositei na caixa sobre a esteira do raio-X estava um crucifixo que me acompanha. O funcionário alemão, com certo desdém, perguntou por qual companhia voaríamos. Quando disse a ele que seria pela estatal alemã, olhou para o crucifixo e disse que então eu não precisaria dele.

Não gostei da brincadeira e após o exame da nossa bagagem de mão, enquanto recolocava o crucifixo no bolso da camisa, refleti sobre a soberba. Engenheiro que ama sua profissão, nunca acreditei que o comando das coisas está em nossas mãos. Lembro da infeliz resposta que o construtor do Titanic, Thomas Andrews, teria dado a uma repórter que indagou sobre a segurança da embarcação: “Minha filha, nem Deus afunda este navio”. Mesmo que nunca tenha pronunciado esta máxima de imprudência, é certo que os homens se comportam frequentemente desta forma, esquecidos de que a vida não lhes pertence.

Ainda hoje me espanto com algumas manifestações de fé inconsistente, como a que escutei dias atrás de um amigo de infância, ex-aluno, como eu, do Ginásio São João Batista, quando se referiu aos ensinamentos que lá tivemos. Pecado original? Uma bobagem! Como pode uma criança nascer com pecado? Que conversa mole! Uma mentira! Repetida apenas para controlar a humanidade! Faltou tempo para aprofundarmos o assunto e receio que a conversa não seria muito produtiva. Disse a ele tão somente que mantivera a crença e o convidei a refletir sobre a perfeição e encadeamento do mundo. Mas ficou para uma próxima oportunidade a convocação para que pense a respeito da vaidade que a todos acompanha, ainda que a uns mais e a outros menos. A vaidade, levada aos píncaros de sua estupidez, resulta na soberba de tentar igualar-se a Deus para decidir o bem e o mal. Eis a essência do pecado original. Quem está livre dele?

Numa época em que aumenta o número dos que se dizem agnósticos, ou mesmo ateus, me causa espécie quando vejo um ateu vaidoso. Ora, se Deus não existe e tudo é fruto do acaso, cada um de nossos passos é maquinal. E mesmo o que poderíamos chamar de vontade não passa de um espasmo, de um conjunto de contrações e de pura química cerebral. Como a vaidade só poderia brotar do que se faz com domínio, como alguém pode se envaidecer do que não passa de causalidade mecanicista? Como atribuir-se mérito se ninguém é bom, simpático, generoso, capaz, inteligente, virtuoso senão pela infernal cadeia mecânica de causas e efeitos?

Pensei um pouco nisto tudo quando fomos bombardeados pelas patéticas informações acerca do acidente que vitimou uma centena e meia de pessoas nos Alpes franceses. Tudo causado por um copiloto que trancou-se na cabine de comando e transformou a aeronave num míssil. Segundo uma ex-namorada, o maluco teria previsto que um dia seu nome seria famoso no mundo inteiro. Ou seja, por mais absurdo que pareça, ainda que com o cariz da loucura, o sujeito tinha a vaidade de se tornar famoso.

A essência do que se passou nos últimos minutos do voo é de domínio público e tudo foi lançado na conta da insanidade. Mas tornar os passageiros e demais tripulantes espectadores da tragédia foi mais que insano. Pode-se imaginar a gritaria geral e o desespero do piloto que a golpes de machado fracassou na tentativa de entrar naquela caixa-forte. O descenso de minutos para a morte, prefácio necrológico, foi muito mais que insano. Foi diabólico. Foi demoníaco.

J. B. Teixeira



Deu o vento ...

... eis o pó levantado; estes são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído; estes são os mortos”. A reflexão, sublime, é do quiçá inigualável Padre Antônio Vieira, o lisboeta que veio ainda menino para o Brasil, consagrou-se à vida religiosa como jesuíta e encheu páginas da humanidade com poesia e sabedoria. Um dos prazeres que tivemos na encantadora Salvador foi visitar ambientes que Vieira pisou, como um mosteiro na parte alta da cidade. Nos dez anos de sua primeira estadia na Europa, como sacerdote, foi eleito pregador da corte de D.João IV, que o prestigiou e protegeu. Depois, Vieira voltaria ao Brasil, onde pregou com o vigor de sua coragem e o brilho de sua inteligência contra a escravidão de negros e índios. Granjeou, como é de se imaginar, feroz oposição do status quo da aristocracia agrária, sabidamente escravagista.

Tendo como razão primeira sua tese sobre o “Quinto Império Universal”, considerada herética e messiânica, Vieira também sofreria, a despeito de seu prestígio e fulgor, os rigores da Inquisição, sendo retido em Coimbra numa casa religiosa de repouso, quando aproximava-se dos sessenta anos. Sua defesa, segundo os estudiosos, foi eloquente, erudita, com rica dialética. Deu-se porém por vencido quando soube que o Papa Clemente X manifestara que sua doutrina continha confusão da fé. Foi proibido de escrever e pregar, mas não por muito tempo. Cerca de três anos depois de sua detenção seria perdoado das penas impostas e permaneceria alguns anos em Roma, emprestando aos púlpitos da cidade eterna o melhor de seu talento e vocação.

Retornando ao Brasil, onde viveria ainda cerca de quinze anos, empenhou-se na publicação de Sermões e manteve ativa redação de cartas, numa das quais revela a alegria de sua atividade missionária: “Ando vestido de um pano grosseiro cá da terra, mais pesado que forte; como farinha de pau, durmo pouco, trabalho de pela manhã à noite ...”. Teve o Brasil, portanto, a sorte de contar por longos anos com um dos grandes pregadores do segundo milênio da Igreja, cuja memória é insuficientemente cultuada. Seria porque se manteve fiel, a despeito de deslizes teológicos que possa ter cometido e de injustiças que possa ter sofrido? Creio que os que perseguem a Igreja e os jesuítas, em particular, teriam exultado se Vieira houvesse abjurado ...

Como disse Alice von Hildebrand, as críticas fáceis aos religiosos são sempre dirigidas aos que traíram princípios, que não passam de minoria. Assim como há péssimos pais, maus médicos, advogados canalhas e jornalistas vendilhões, há homens que não fizeram jus à veste sacerdotal. Que tal falarmos dos demais, os que deram bons exemplos? Que tal falarmos dos santos?

Comecei a engendrar este texto quando recebi pela rede social uma baboseira a respeito do que deve fazer um sexagenário, com recomendações que vão do mais reles egoísmo aos conselhos na linha hedonista. Me pareceu mais um manual prático para os que acumularam fortuna - que sabem não usufruirão até o último centavo,- e ainda não encontraram destino para a mesma, como se houvessem de sofrer no após morte a dor pela dissipação do tanto que amealharam, por vezes à custa de usura e nenhuma caridade. É claro que o “manual” não se dirige à grande maioria, que pena seus tostões poucos e sequer sabe se terá o que comer amanhã.

Recém sexagenário, com direito a furar fila em bancos, não pagar pelo transporte público e contar com lugares reservados de estacionamento – privilégios aliás miseráveis diante das dificuldades que o envelhecer trará,- não seria capaz de redigir um manual que faça contraponto, até porque os ensinamentos cristãos não precisam de paródia.

Se a morte virá como um ladrão, oculto e de noite, mais convém a cada um que procure ajustar suas contas, viver em harmonia, colocando-se mais a serviço dos necessitados, figurem eles entre os próximos ou façam parte da imensa legião dos que sequer conhecemos. É claro que desejo aos mais velhos um final digno e feliz, tanto quanto os achaques o permitam, mas desencorajo qualquer conselho à velhice que não esteja alicerçado na fé e no bem querer.

A propósito, Vieira concluiu a carta acima aludida informando que “ainda que com grandes imperfeições, nenhuma coisa faço que não seja com Deus, por Deus e para Deus, e para estar na bem-aventurança só me resta vê-Lo ...”. Os exemplos! Por que não cultuar os exemplos?

J. B. Teixeira