Ser prudente, é ser sábio, é ser
inteligente. Significa reconhecer a realidade de forma correta, para a partir
deste princípio, saber como agir. É o modo necessário para a consecução do
verdadeiro êxito.
S. Tomás de Aquino, citando Aristóteles,
acredita que a prudência constitui a condição prévia de todas as virtudes,
definindo-a como “uma regra e a medida certa da ação”. Porque a prudência ao
guiar o juízo da consciência, ordena a conduta do homem na direção do bem e
afastamento do mal.
“Sede prudentes como as serpentes e
simples como as pombas”, lemos em “Mat.10. 16” .
Um conselho sábio que, feito
vida, ajuda a reconhecer que estas duas virtudes se aperfeiçoam mutuamente.
Precisamos de ser cautos, previdentes, para não deixar-nos enganar; para
reconhecer os “lobos disfarçados de cordeiros”, para distinguir o falso do
verdadeiro, o trigo do joio. Ao mesmo tempo, necessitamos da virtude da
simplicidade como caminho de verdade para conquistar a confiança recíproca… A
ausência da simplicidade pode converter facilmente a prudência em astúcia.
Como virtude, a prudência permite conhecer com
objetividade a realidade das coisas, de acordo com o seu fim; possibilita o
julgar acertadamente sobre o caminho a seguir e a atuar em consequência…
“Prudente não é, – como frequentemente se
pensa – o que sabe arranjar-se na vida e tirar dela o máximo proveito, mas sim
quem acerta em edificar a vida inteira conforme a voz da consciência reta e
segundo as exigências da moral justa. Deste modo, a prudência vem a ser a chave
para que cada um realize a tarefa fundamental que recebeu de Deus. Esta tarefa
é a perfeição do mesmo homem, a santidade”. (Papa S. João Paulo II, Alocução
25-X-1978).
Mas, como sabemos, para o exercício
operativo da prudência necessitamos de luz no entendimento, porque só assim teremos
capacidade para julgar com retidão os factos e as circunstâncias. Torna-se
imprescindível uma séria formação humana, doutrinal e ascética como a luz que
nos facilita encontrar os caminhos que devemos percorrer, e as decisões a
tomar… Apesar disso, em muitas ocasiões, necessitamos de pedir conselho. O
primeiro passo da prudência é o reconhecimento das próprias limitações: a
virtude da humildade. Admitir que não sabemos e não abarcamos tudo é importante
tê-lo em conta à hora de ajuizar…
S. Tomás aconselha que, em assuntos que
podem acarretar graves consequências para si ou para outros, deve pedir-se
conselho a quem possa dá-lo de forma desinteressada e reta. Mas não apenas
acerca de casos extremos. Por vezes torna-se urgente uma orientação para os mais
novos e menos novos, por exemplo, em matérias de leitura de livros, revistas e
jornais, ou assistência a espetáculos ou programas de T V que, umas vezes de
forma violenta e outras de forma solapada, podem arrebatar o tesouro da fé da
alma do crente, princípios e valores éticos, ou criar um fundo mau no coração
de onde procederão com facilidade todo o género de dúvidas ou tentações que se
podiam ter evitado com um pouco mais de humildade e lucidez.
Também não é prudente a atitude de quem
se deixando levar por respeitos humanos, não realiza o que em consciência
considera um bem para si e para outros. S. Paulo considera este tipo de
prudência uma falsa virtude, designando-a “prudência da carne”… Trata-se de uma
excessiva preocupação pelo futuro, que pode impedir a realização de algo grande
no presente.
A verdadeira prudência é compatível, em
muitas situações, com a audácia, a magnanimidade, a generosidade! É aquela que
nos move a arriscar depois de ponderar relativamente os dados do problema e a
avançar, ativando todos os nossos recursos humanos e sobrenaturais, todas as
potencialidades, procurando fazer em cada momento, o que devemos, com a
convicção plena que disso “ vão depender muitas coisas grandes”…
Sublinhamos mais uma vez o pensamento de
S. Tomás, quando reconhece que a direção da vida é da competência do indivíduo
e que não há “ receitas de bem agir”, uma vez que a prudência diz respeito a
ações contingentes, situadas no “aqui e agora”.
Reconhecemos também que a prudência “virtude
da decisão certa”, é virtude da inteligência, mas da inteligência do concreto.
Não se debruça sobre teoremas ou princípios abstratos e genéricos. Ela olha sim
para o `tabuleiro de xadrez` da situação presente, sobre a qual se dão as
nossas decisões concretas, e sabe discernir o `lance certo`, moralmente bom. E
o critério para esse discernimento do bem é a realidade, a verdade das coisas…
Maria Helena Marques |
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