Fogos descontrolados, aquecimento
global, destruição impiedosa do ambiente, guerras, refugiados, populismo,
cataclismos, miséria, fome, injustiças sociais… Hoje em dia os erros da
humanidade têm-se multiplicado de um modo alarmante, de tal modo proliferam e
fazem parte da agenda diária da imprensa, televisão e redes sociais à qual, com
algum grau de frequência, acabamos por nos habituar, não dedicar a atenção oportuna
e ficar um pouco indiferentes às injustiças sociais que se cometem, já que se
torna difícil combatê-las a montante e a jusante. No entanto, graças a Deus, surgem
alguns movimentos espontâneos e outros mais organizados que tentam, dentro das
suas possibilidades, chamar a atenção para os mesmos e solicitar que sejam
encontradas soluções atempadas e objetivas. Como solucionar estes problemas,
questionamo-nos interiormente com alguma frequência, sabendo que Deus que é Pai
e nos trata com um amor incondicional, assumindo na sua misericórdia o
sofrimento causado pelos nossos erros. O difícil será sempre remar, em tempo
útil, contra a maré.
Por analogia, a um outro nível, temos
o exemplo da parábola do filho pródigo, que se arrepende e regressa a casa do
pai para lhe pedir perdão. Sabe que o seu pai é extremamente misericordioso, que
tudo perdoa. O filho sofre segundo a sua capacidade. Deus aguarda que, um dia,
os filhos perante a sua vida desordenada, tal como o filho pródigo, se recordem
do amor sem limites do Pai, e que, arrependendo-se dos seus erros, decidam
corrigi-los, com a certeza do amor que Ele lhes tem, os possam impelir a
caminhar, a não ter receio de enfrentar as dificuldades que eventualmente
possam surgir. Mas, para que todo este sofrimento mundial seja um contributo
para as nossas almas, o que se torna necessário fazer? Jesus, tornando-se
obediente ao Pai até à Sua morte na Cruz, “tornou-se para todos os que lhe
obedecem, causa de salvação eterna” (Heb 5,9). Ou seja, torna-se necessário confiar
inteiramente em Jesus, fazendo aquilo que está ao nosso alcance e solicitando
ajuda para aquilo que não conseguimos concretizar. Temos de deixar que Jesus
Cristo atue nas nossas almas com toda a humildade e boa vontade, tal como a
Virgem Maria nas bodas de Caná: “Fazei o que Ele vos disser”(Jo 2,5). Quando
possuímos confiança em Jesus, aceitamos de uma outra forma os nossos
sofrimentos.
Santo Agostinho constitui um exemplo
que ilustra, ajustado a outro estilo de situação, com uma visão mais sobrenatural,
o que acabo de referir. Este santo nasceu no ano 354 no norte de África, hoje
Argélia, que na época se encontrava dominada pelo Império Romano. Era filho de
pai pagão e de mãe cristã, extremamente crente, a qual viria a exercer uma
grande influência na conversão do filho. Atravessou um período de grande
inquietude, sem encontrar respostas que o preenchessem. Durante 12 anos seguiu
o maniqueísmo, depois acabaria por se tornar um cético. No ano 371 vivia em
Cartago, grande centro do paganismo, onde se deixou cativar pelo esplendor das
cerimónias em honra dos milenares deuses protetores do Império. Fruto de uma
relação com uma cartaginense, nasceu o seu filho Deodato, no ano 373. Sob a
influência de Santo Ambrósio acabaria por se converter ao cristianismo. No ano
391 é ordenado sacerdote, e no ano 396 é sagrado bispo de Hipona, constituindo igualmente
um dos pilares da teologia católica. Escreveu várias obras, entre eles a
autobiografia Confissões em que
refere: “A verdade e Deus devem ser buscadas na alma e não no exterior”.
Há uns dias atrás uma amiga
referia que Deus é extremamente paciente com os outros e também connosco que
cometemos os mesmos erros. Na realidade somos pedintes recorrentes que
carecemos constantemente da sua misericórdia. Deus quer que todos se salvem.
Isto é um convite e uma responsabilidade que pesam sobre cada um de nós. “A
Igreja não é um reduto de privilegiados. A
grande Igreja será porventura uma exígua parte da terra? A grande Igreja é o
mundo inteiro”. Assim escrevia Santo
Agostinho, acrescentando: “Aonde quer que te dirijas aí esta Cristo. Tens por
herança os confins da Terra. Vem! Toma posse dela toda comigo. Deus espera ardentemente que se encha a
sua casa. É Pai e gosta de viver com todos os filhos à Sua volta. (S. Josemaria
in Amigos de Deus), recordando ainda:
“As trevas hão-de passar; porque somos filhos da luz e estamos chamados a uma
vida perdurável”. “Aquele que tiver sede, dar-lhe-ei para beber gratuitamente
da fonte da água da vida. Quem vencer possuirá todas estas coisas e eu serei
seu Deus e ele será meu filho”. (Apc XXI 4-7).
Termino deixando no regaço de
Santa Maria todos os nossos erros, para que apele à Misericórdia Divina o
perdão por todas as injustiças cometidas na sociedade, com sincero
arrependimento para que possamos vir a construir um mundo mais solidário e
justo. O Senhor quer-nos contentes e felizes já aqui na terra.
Maria Helena Paes |
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