Procuro e não encontro. Sinto mas
não vejo. Penso, contudo não acerto. Antevejo mas não consigo atuar. Tudo isto
se encontra no lugar mais recôndito da alma. Também as alegrias, as tristezas,
os sucessos, os insucessos, as ilusões e desilusões. Enfim toda uma história de
vida vivenciada com muitas, emoções, amor, fé e muito mais. Porque não consegui,
algumas vezes, aperceber-me da realidade evidente? Miopia, falta de visão
estratégica? Tantos sentimentos que afluem à memória num turbilhão de vivências
inexplicáveis. Onde pairava o meu coração então? Estar e não estar. Sentir e
não conseguir visualizar o óbvio. Viver a sofrer. Querer apagar o rasto
indelével do passado pisado. Perspetivar o futuro que a Deus pertence. Sinto
que nada sou apenas uma peça de um qualquer jogo de xadrez que nada possui, que
tem que construir e lutar pelo futuro, todos os dias da sua vida. Questiono se
será mesmo que aqui estou? Ou se serei apenas uma sombra constrangedora do que
almejara ser e do que nada sou Quando era ainda criança sonhava ser santa ou
princesa. Contudo, nada se realizou. Deus tinha outros planos para mim. Posto
isto, que laços me prendem a este mundo que ainda tem tanto para oferecer. Parece
que me faltam as forças para vencer todas as lutas necessárias. Será que vivo
mesmo ou que vegeto neste mundo? Por que caminhos, terei andado, que não consegui
alcançar os meus objetivos? Venham todos aqueles com quem vivi e convivi. Todos
me fazem muita falta.
Quisera voltar atrás, recomeçar
de novo com os conhecimentos adquiridos, ou talvez não. Tudo tem o seu tempo.
Desabafos unicamente. Parto mais uma vez em pensamento, mas o corpo fica preso
nas correntes da vida. Falsa liberdade, ou não. Conseguir estar onde está o
nosso coração, ainda assim sem movimento, com o corpo preso, nas diferentes
curvas da vida, mas ao menos, com a mente livre para poder sonhar ainda. Mas
onde se encontram os objetivos, os projetos de vida, a esperança, ou seja, o
acreditar no amanhã, nas coisas boas que ainda podem vir a suceder. Na verdade
aqui dentro de mim estou só com Deus, os anjos e os santos. Lá fora, reina a
confusão, mas muito trabalho ainda para realizar sendo que se torna necessário
fazer não com a nossa vontade, mas seguindo a Vontade de Deus. E é nesta
encruzilhada da vida, nesta ambivalência, que frequentemente nos encontramos,
ou seja, compreender e aceitar os desígnios de Deus a nosso respeito.
Logo, urge enfrentar o mundo com
tudo o que de bom e de menos bom nos traz. Isto é, coração, coração na Cruz de
cada dia. Tomo o exemplo de vida de Santa Teresa Benedita da cruz (Edith Stein) que escreveu a este
propósito: “Quanto alguém está mais imerso em Deus, tanto mais deve sair de si,
isto é, ir para o mundo…”. Temos o modelo extraordinário desta Santa mártir, canonizada
em Outubro de 1998, pelo Papa S. João Paulo II, que foi testada até ao limite e
que nunca desistiu dando provas inequívocas de Amor. A Irmã Teresa Benedita da
Cruz, carmelita, constituiu uma síntese de uma História cheia de feridas
profundas e ao mesmo tempo de verdade plena sobre o homem, num coração inquieto
e insatisfeito até que encontrou o descanso em Deus. Referiu esta Santa: “Tenho
a convicção profunda de que não existe a casualidade. Toda a minha vida, até
nos mínimos pormenores, já se encontrava traçada nos planos da Providência
Divina…”. Edith Stein foi levada numa expedição de 987 judeus, em 7 de Agosto
de 1942, do Campo de Concentração de Westerbork
onde se encontrava detida, rumo a
Auschwitz, tendo morrido nas câmaras de gás no dia 9 de Agosto daquele ano.
Esta Santa referiu: “Jamais tinha pensado que os seres humanos pudessem ser
assim. E também nunca tinha pensado que os meus irmãos e irmãs pudessem sofrer
assim… Cada hora rezo por eles. Será que Deus ouve a minha oração”? S. João
Paulo II, na homilia da sua beatificação referiu: “Uma filha de Israel, que
durante a perseguição dos nazis, permaneceu, enquanto católica, unida com fé e
amor ao Senhor Crucificado, Jesus Cristo, e como judia ao seu povo”.
Termino este artigo com uma frase
desta Santa: “Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o
nosso coração à luz que vem do alto”.
Na realidade, as respostas às
nossas interrogações encontram-se dentro do nosso coração. Que a Luz divina nos
ajude a entendê-las e a aceitá-las. “Senhor, se Tu quiseres, eu posso!”
Maria Helena Paes |
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