A busca de sensações prazerosas e a fuga do sofrimento são reações
humanas básicas. Tais como reações fisiológicas, como a respiração ou a
digestão, servem para a nossa sobrevivência. Assim, assegura-se que ninguém vai
ficar impassível sob um sol escaldante do deserto ou deixar de fugir a uma
catástrofe. Antes, irá procurar uma sombra e beber água (muito útil para não
desidratar e consequentemente morrer) e, fugir numa situação de perigo (muito
útil para não morrer queimado, esmagado, afogado, etc).
Mas, faria sentido estar duas horas a contemplar a situação
hipotética de um incêndio, ou imaginar-se num deserto escaldante, como se fosse
o “Principezinho” de Saint-Exupéry, para conhecer-se melhor, conhecer a sua
consciência e acreditar que este seria o caminho para conhecer a realidade?
Foi algo semelhante que li! Estar a meditar em “nada” durante
duas horas concentrado unicamente na respiração, segundo o autor, é o caminho
para conhecer a realidade. A única, constante e mutável realidade que está
unicamente ligada às nossas sensações individuais. Adicionando à prosa mais umas
boas “agulhadas” à cultura ocidental e em particular ao Cristianismo. E estão
lançados os ingredientes essenciais à publicação mediática de qualquer livro!
As técnicas de controle ventilatório, são técnicas com
utilidade terapêutica e resultados científicos comprovados. Para isso, bastam
alguns minutos por dia. Os resultados, são vários e benéficos: diminuem o
stress, regularizam a pressão arterial, melhoram as trocas gasosas, entre
outras. Mas, qual o objetivo de utilizar técnicas de controle ventilatório e
relaxamento fisiológico durante duas horas e durante esse tempo procurarmos “nada”
e acharmos que essa é a realidade?
Pode ser pura perda de tempo, mas talvez o mais nefasto é que
por trás dessa prática podemos ter como filosofia, que Deus é meramente
energia, e todos somos energia e assim todos somos deuses. Com uma definição de
Deus, difusa e capaz de caber na nossa compreensão, é fácil percebermos que não
falamos de Deus pois Ele não se esgota na nossa compreensão, no nosso
raciocínio e muito menos no nosso individualismo. Com este tipo de ideologia,
qualquer um se pode advogar de deus, guru e a verdade é assim individual,
mutável e relativa.
Se, olharmos para o decurso da História da Humanidade,
veremos como o Homem se ilude, ilude-se com o marketing. Seja, o marketing de
um capitalismo selvagem ou o marketing de uma ideologia como o comunismo ou o fascismo.
No fundo, são sempre promessas, que o homem acata como necessárias a uma nova
construção social.
O movimento da nova era, ou new age, é uma nova promessa de uma construção social. O new age, com uma roupagem nova mas com
os critérios de sempre, é uma promessa de um homem espiritual, mais justo,
ecológico e real. E, como no passado, este movimento controla as mentes
provocando a esperança de um novo Homem. Mas, este homem é sempre o homem velho
- iludido pela crença que pode ser o Homem-Deus. O resultado é sempre
catastrófico. O Homem é apenas criatura, não é o Criador.
Todas estas ideologias, que nos consomem e nos iludem
retiram-nos da realidade e remetem-nos para a ficção.
Como saber, se o que nos apresentam é real ou uma ilusão?
Como, saber diferenciar se nos oferecem constantemente fórmulas para dourar uma
realidade virtual, individual e isolada?
Bem, só há uma forma: pelos frutos!
Se queremos olhar para frutos, temos de olhar para o passado
e para o presente.
Quais os frutos de uma educação cristã?
O amor. Se necessário, morrer pelo Amor.
Fácil? - Não, é contrário às nossas reações fisiológicas
básicas.
Impossível? - Não, como nos mostra 2000 anos de Mártires da
Igreja Católica.
Mas, porquê? Porque alguém morre pelo Amor, pela Verdade,
pelo Caminho?
Não se trata de masoquismo, mas de uma coragem levada ao extremo,
de um heroísmo invejável, de um trabalho da Graça incompreensível, mas visível
em tantos testemunhos.
Que grandiosa é a Comunhão dos Santos. O Cristianismo, não é
individualismo. É comunidade. Comunidade dos que vivem na terra, dos que estão
no Céu e dos que estão a caminho. E todos em comunhão, unindo oração e
trabalho; amor e sofrimento; caminham juntos.
O Cristianismo, não é a religião de um livro ou de um
conjunto de regras. O Cristianismo é seguir e imitar uma Pessoa concreta. Uma Pessoa
Real Humana e Divina. O Cristianismo, é seguir Jesus que disse: “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E morreu por cada um de nós! Mas a
história não acabou aqui. Foi apenas o início: Ele Ressuscitou!
Por isso, tantos morreram e foram martirizados porque viram e/ou
acreditaram. Jesus, não nos pediu que viajássemos numa ficção, mas mostrou-nos
a realidade.
Os mártires mostram que esse caminho é real, continuamente
imutável, até aos dias de hoje. Foi Deus, que se fez Homem, entre nós, meras
criaturas, mostrou-nos o quanto nos ama, sem limites e sem condições. E nós,
temos escolhas e no caminho demasiadas ilusões para nos distrair do essencial.
Para quê pensar ativamente sobre a
nossa respiração durante duas horas por dia, quando nos podemos conhecer e
encontrar verdadeiramente na oração cristã apoiada na comunhão dos santos?
Será o Homem, o único animal com defeito? O único que busca
incessantemente resposta às questões de sempre? Quem sou? Qual o sentido da
vida? O que acontece depois da morte? Tenho alma? Deus existe?
E, que quando encontra verdadeiramente as respostas, descansa
em verdes prados?
São muitos os caminhos largos que levam ao vazio, feitos com
meias-verdades para nos desviar a atenção do essencial. E, por essas rotas,
circulam alguns intelectuais, cientistas e homens comuns. São muitos a
deambular sem sentido. E cegos, conduzem outros cegos. E com uma cegueira
triste e dourada de intelectualidade, prosseguem estudos com meias-verdades e
ilusões.
Quando o Homem não acredita em Deus, acreditar em qualquer
coisa é muito fácil. E esta é a maior e melhor forma de o manipular, desde
sempre. Mas existe uma inquietude até esse encontro.
Santo Agostinho, nas suas “Confissões” lembra-nos o que cada
coração humano deseja: “Todavia, esse homem, particulazinha da
criação, deseja louvar-Vos, Vós o incitais a que se deleite nos vossos
louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto,
enquanto não repousa em Vós.”
Helena Atalaia |
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