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sábado, 25 de agosto de 2018

“Homo illusus”

A busca de sensações prazerosas e a fuga do sofrimento são reações humanas básicas. Tais como reações fisiológicas, como a respiração ou a digestão, servem para a nossa sobrevivência. Assim, assegura-se que ninguém vai ficar impassível sob um sol escaldante do deserto ou deixar de fugir a uma catástrofe. Antes, irá procurar uma sombra e beber água (muito útil para não desidratar e consequentemente morrer) e, fugir numa situação de perigo (muito útil para não morrer queimado, esmagado, afogado, etc).

Mas, faria sentido estar duas horas a contemplar a situação hipotética de um incêndio, ou imaginar-se num deserto escaldante, como se fosse o “Principezinho” de Saint-Exupéry, para conhecer-se melhor, conhecer a sua consciência e acreditar que este seria o caminho para conhecer a realidade?

Foi algo semelhante que li! Estar a meditar em “nada” durante duas horas concentrado unicamente na respiração, segundo o autor, é o caminho para conhecer a realidade. A única, constante e mutável realidade que está unicamente ligada às nossas sensações individuais. Adicionando à prosa mais umas boas “agulhadas” à cultura ocidental e em particular ao Cristianismo. E estão lançados os ingredientes essenciais à publicação mediática de qualquer livro!

As técnicas de controle ventilatório, são técnicas com utilidade terapêutica e resultados científicos comprovados. Para isso, bastam alguns minutos por dia. Os resultados, são vários e benéficos: diminuem o stress, regularizam a pressão arterial, melhoram as trocas gasosas, entre outras. Mas, qual o objetivo de utilizar técnicas de controle ventilatório e relaxamento fisiológico durante duas horas e durante esse tempo procurarmos “nada” e acharmos que essa é a realidade?

Pode ser pura perda de tempo, mas talvez o mais nefasto é que por trás dessa prática podemos ter como filosofia, que Deus é meramente energia, e todos somos energia e assim todos somos deuses. Com uma definição de Deus, difusa e capaz de caber na nossa compreensão, é fácil percebermos que não falamos de Deus pois Ele não se esgota na nossa compreensão, no nosso raciocínio e muito menos no nosso individualismo. Com este tipo de ideologia, qualquer um se pode advogar de deus, guru e a verdade é assim individual, mutável e relativa.

Se, olharmos para o decurso da História da Humanidade, veremos como o Homem se ilude, ilude-se com o marketing. Seja, o marketing de um capitalismo selvagem ou o marketing de uma ideologia como o comunismo ou o fascismo. No fundo, são sempre promessas, que o homem acata como necessárias a uma nova construção social.

O movimento da nova era, ou new age, é uma nova promessa de uma construção social. O new age, com uma roupagem nova mas com os critérios de sempre, é uma promessa de um homem espiritual, mais justo, ecológico e real. E, como no passado, este movimento controla as mentes provocando a esperança de um novo Homem. Mas, este homem é sempre o homem velho - iludido pela crença que pode ser o Homem-Deus. O resultado é sempre catastrófico. O Homem é apenas criatura, não é o Criador.

Todas estas ideologias, que nos consomem e nos iludem retiram-nos da realidade e remetem-nos para a ficção.

Como saber, se o que nos apresentam é real ou uma ilusão? Como, saber diferenciar se nos oferecem constantemente fórmulas para dourar uma realidade virtual, individual e isolada?

Bem, só há uma forma: pelos frutos!

Se queremos olhar para frutos, temos de olhar para o passado e para o presente.

Quais os frutos de uma educação cristã?

O amor. Se necessário, morrer pelo Amor.

Fácil? - Não, é contrário às nossas reações fisiológicas básicas.

Impossível? - Não, como nos mostra 2000 anos de Mártires da Igreja Católica.

Mas, porquê? Porque alguém morre pelo Amor, pela Verdade, pelo Caminho?

Não se trata de masoquismo, mas de uma coragem levada ao extremo, de um heroísmo invejável, de um trabalho da Graça incompreensível, mas visível em tantos testemunhos.

Que grandiosa é a Comunhão dos Santos. O Cristianismo, não é individualismo. É comunidade. Comunidade dos que vivem na terra, dos que estão no Céu e dos que estão a caminho. E todos em comunhão, unindo oração e trabalho; amor e sofrimento; caminham juntos.

O Cristianismo, não é a religião de um livro ou de um conjunto de regras. O Cristianismo é seguir e imitar uma Pessoa concreta. Uma Pessoa Real Humana e Divina. O Cristianismo, é seguir Jesus que disse: “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E morreu por cada um de nós! Mas a história não acabou aqui. Foi apenas o início: Ele Ressuscitou!

Por isso, tantos morreram e foram martirizados porque viram e/ou acreditaram. Jesus, não nos pediu que viajássemos numa ficção, mas mostrou-nos a realidade.

Os mártires mostram que esse caminho é real, continuamente imutável, até aos dias de hoje. Foi Deus, que se fez Homem, entre nós, meras criaturas, mostrou-nos o quanto nos ama, sem limites e sem condições. E nós, temos escolhas e no caminho demasiadas ilusões para nos distrair do essencial.

Para quê pensar ativamente sobre a nossa respiração durante duas horas por dia, quando nos podemos conhecer e encontrar verdadeiramente na oração cristã apoiada na comunhão dos santos?

Será o Homem, o único animal com defeito? O único que busca incessantemente resposta às questões de sempre? Quem sou? Qual o sentido da vida? O que acontece depois da morte? Tenho alma? Deus existe?

E, que quando encontra verdadeiramente as respostas, descansa em verdes prados?

São muitos os caminhos largos que levam ao vazio, feitos com meias-verdades para nos desviar a atenção do essencial. E, por essas rotas, circulam alguns intelectuais, cientistas e homens comuns. São muitos a deambular sem sentido. E cegos, conduzem outros cegos. E com uma cegueira triste e dourada de intelectualidade, prosseguem estudos com meias-verdades e ilusões.

Quando o Homem não acredita em Deus, acreditar em qualquer coisa é muito fácil. E esta é a maior e melhor forma de o manipular, desde sempre. Mas existe uma inquietude até esse encontro.

Santo Agostinho, nas suas “Confissões” lembra-nos o que cada coração humano deseja: “Todavia, esse homem, particulazinha da criação, deseja louvar-Vos, Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós.”

Helena Atalaia



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