«Não têm falado, nos meios mais dados a análises superficiais
dos acontecimentos e a leituras mais apressadas da vida das pessoas, juízos de
valor a questionar a imparcialidade e a pôr em causa a rectidão das atitudes de
Pio XII na sua relação com a acção política na Alemanha, ao tempo de Adolf
Hitler, e mais concretamente com a sua perseguição aos judeus. (…)
Não foi caminho fácil, por isso, aquele que Eugénio Pacelli
teve de percorrer desde jovem padre como cidadão de uma pátria, a Itália, à
procura da sua própria identidade e do seu necessário horizonte de vida no
concerto dos povos da Europa e do mundo. Não foi igualmente fácil o caminho a
que a sua missão de homem da Igreja o conduziu como colaborador directo e
dedicado de dois Pontífices Romanos – Bento XV (1913 a 1922) que o nomeou, em
1917, Núncio Apostólico em Munique e mais tarde em Berlim e Pio XI (1922 a
1939) que, em 1930, o havia de chamar para seu Secretário de Estado. Foi
certamente ainda mais difícil e dolorosa a sua missão, quando recaiu sobre si a
múnus pastoral de Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, após a morte de
Pio XI, em 1939, num tempo já perturbado pela ameaça iminente de uma nova
guerra mundial. (…)
A propósito desta escolha, a imprensa de alguns países, como
a França, a Grã-Bretanha, Portugal e os Estados Unidos da América do Norte,
saudou-a como uma vitória da resistência católica contra o Nazismo. Ao
contrário, na Alemanha e na Itália a reacção foi de reserva bastante fria, a
roçar o repúdio. O jornal nazi Berliner
Morgenpost, na edição do dia seguinte, afirmou: A Alemanha não vê com bons olhos a eleição do Cardeal Pacelli por não ser benéfica para a Alemanha,
porque ele sempre se opôs ao Nazismo e praticamente determinou a política
`pró-judaica´ do Vaticano, orientada pelo seu predecessor.» *
Vaticinaram bem, porque de facto longe de ser o “papa de
Hitler”, Pio XII foi um incansável defensor e um conselheiro para a paz,
recorrendo a cartas, telegramas, mensagens radiofónicas e Encíclicas, para além
de todo um serviço humanitário quer do Vaticano, quer de toda a Igreja que a
seu pedido não cessou de ajudar, proteger e salvar.
«Seria um erro acreditar que “Pio XII poderia ter qualquer
influência no cérebro louco de Hitler” e o “próprio arquivo do Vaticano guarda
telegramas de diversos governos no exílio, pedindo ao papa que não fizesse
pronunciamentos públicos contra os nazis, pois como resposta a cada nova
crítica surgiam maus tratos mais violentos”. Assim era, quer com judeus, quer
com cristãos, pois a fúria do ditador reacendia-se como resposta aos apelos do
Papa ao mundo. (…)
Faltaria, pois, à verdade quem ousasse dizer que Pio XII –
aliás na sequência do seu predecessor – tivesse sido insensível e fosse
indiferente perante as atrocidades bélicas na Europa e perante o genocídio dos
não-arianos. Exemplificando, anota-se que em junho de 1942, protestou contra a
deportação maciça dos judeus na frança, ocupada pelos nazis. E também ordenaria
ao núncio em Paris para protestar junto do marechal Pétain, chefe de Estado da
França de Vichy, contra as prisões desumanas e as deportações de judeus para a
Sibéria e para as diversas regiões da Rússia.(…)
Perante tal postura do papa, o London Time de 1 de Outubro de 1942 homenageá-lo-ia explicitamente,
por ter condenado o Nazismo e defendido as vítimas israelitas do terror
hitleriano, anotando: - Não há qualquer
sombra de dúvida; ele condena o culto da força, a sua concretização na privação
da liberdade dos povos e a perseguição da raça judia. (…)
Sabe-se que, nesta altura, Hitler planeara ocupar o Vaticano
e sequestrar Pio XII – senão mesmo assassiná-lo – como resposta ao que os
serviços da Igreja Católica estavam a desenvolver em defesa dos perseguidos,
nomeadamente, dos judeus italianos, evitando que eles fossem levados para
campos de extermínio. (…)
Como era de esperar, antes e após a morte do papa Pio XII,
surgiram e continuaram a surgir depoimentos lisonjeiros para com a sua memória,
assinados por diversas personalidades publicas hebraicas, por outros judeus e
por vários autores.” De entre muitos ouso destacar o do “célebre professor,
cientista e judeu alemão Albert Einstein, galardoado com o Prémio Nobel de
Física em 1921, que teve de deixar o seu país, refugiando-se nos Estados Unidos
da América do Norte, e que morreu em 1955, ao saber da actividade filantrópica
do sumo-pontífice, havia declarado em 23 de Dezembro de 1940 na revista
norte-americana Time Magazine: Quando aconteceu a revolução na Alemanha,
olhei com confiança as universidades para defenderem a liberdade, que eu aprecio,
pois sabia que sempre se orgulharam da sua devoção à causa da verdade; mas as
universidades foram imediatamente reduzidas ao silêncio. Então, confiei nos
grandes editores de jornais, cujos editoriais inflamados tinha, anteriormente
proclamado o seu amor à liberdade; mas, do mesmo modo que as universidades,
também eles, sufocados em poucas semanas, tiveram de se calar. Somente a Igreja
Católica permaneceu firme, em pé, para fechar o caminho às campanhas de Hitler que pretendiam suprimir a verdade. Antes,
eu nunca havia experimentado um especial interesse pela Igreja, mas agora sinto
por ela um grande afecto e admiração, porque teve a valentia e a constância de
combater sozinha para defender a verdade intelectual e a liberdade moral. Sinto
o dever de confessar que o que antes desprezava agora louvo incondicionalmente.»*
Uma obra indispensável para com
segurança e rigor se poder analisar e avaliar da dimensão da barbárie e do
terror no período compreendido entre 1 de Setembro de 1939 e 2 de Setembro de 1945.
À
História compete a reposição da veracidade dos factos, sem rodeios, nem
ideologias, por isso esta obra é um marco muito sério e um trabalho excelente
sobre um Profeta da Paz que no seu tempo e no seu espaço desenvolveu todos os
esforços possíveis e a Deus recorreu para conseguir os impossíveis, na certeza
de que Sua Mãe Santíssima com ele estava.
O Papa Pio XII, cujo pontificado
atravessou a II Guerra Mundial, foi o primeiro pontífice a ser chamado “Papa de
Fátima”, tendo consagrado a dimensão universal da mensagem transmitida na Cova
da Iria, em 1917. Em 1940, referiu-se a Fátima pela primeira vez num texto
pontifício oficial, a encíclica ‘Saeculo
exeunte octavo’, escrita para exortar a Igreja em Portugal a aumentar a sua
actividade missionária e a primeira posição oficial pública do Vaticano sobre
Fátima aconteceu com Pio XII, em 31 de outubro de 1942, 25 anos depois das
aparições o Papa consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria. “A Vós, ao
vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, confiamos,
entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico de vosso Jesus,
que pena e sangra em tantas partes e por tantos modos atribulada, mas também
todo o mundo, dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio,
vítima de sua próprias iniquidades”.
Quatro anos depois, em 13 de Maio de 1946,
Pio XII enviou o cardeal Aloisi Masella a Fátima para coroar a imagem de Nossa
Senhora. A 13 de Outubro de 1951, assinalando o final do Ano Santo jubilar, Pio
XII associa-se à conclusão das celebrações marianas em Fátima. “A Virgem Nossa
Senhora na sua mensagem, que Peregrina anda a repetir ao mundo, indica-nos o
seguro caminho da paz e os meios para a obter do céu, visto que tão pouco se
pode confiar nos meios humanos”. Curiosamente Eugénio Maria Giuseppe Pacelli
(1876-1958) tinha sido ordenado bispo pelo Papa Bento XV na Capela Sistina, a
13 de Maio de 1917, dia da primeira aparição da Virgem em Fátima
*in: Pio XII – Defensor do Homem, Recordações e Testemunhos, da
autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar.
Maria Susana Mexia |
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