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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Pio XII – Defensor do Homem - Recordações e Testemunhos

«Não têm falado, nos meios mais dados a análises superficiais dos acontecimentos e a leituras mais apressadas da vida das pessoas, juízos de valor a questionar a imparcialidade e a pôr em causa a rectidão das atitudes de Pio XII na sua relação com a acção política na Alemanha, ao tempo de Adolf Hitler, e mais concretamente com a sua perseguição aos judeus. (…)

Não foi caminho fácil, por isso, aquele que Eugénio Pacelli teve de percorrer desde jovem padre como cidadão de uma pátria, a Itália, à procura da sua própria identidade e do seu necessário horizonte de vida no concerto dos povos da Europa e do mundo. Não foi igualmente fácil o caminho a que a sua missão de homem da Igreja o conduziu como colaborador directo e dedicado de dois Pontífices Romanos – Bento XV (1913 a 1922) que o nomeou, em 1917, Núncio Apostólico em Munique e mais tarde em Berlim e Pio XI (1922 a 1939) que, em 1930, o havia de chamar para seu Secretário de Estado. Foi certamente ainda mais difícil e dolorosa a sua missão, quando recaiu sobre si a múnus pastoral de Bispo de Roma e Pastor Universal da Igreja, após a morte de Pio XI, em 1939, num tempo já perturbado pela ameaça iminente de uma nova guerra mundial. (…)

A propósito desta escolha, a imprensa de alguns países, como a França, a Grã-Bretanha, Portugal e os Estados Unidos da América do Norte, saudou-a como uma vitória da resistência católica contra o Nazismo. Ao contrário, na Alemanha e na Itália a reacção foi de reserva bastante fria, a roçar o repúdio. O jornal nazi Berliner Morgenpost, na edição do dia seguinte, afirmou: A Alemanha não vê com bons olhos a eleição do Cardeal  Pacelli por não ser benéfica para a Alemanha, porque ele sempre se opôs ao Nazismo e praticamente determinou a política `pró-judaica´ do Vaticano, orientada pelo seu predecessor*

Vaticinaram bem, porque de facto longe de ser o “papa de Hitler”, Pio XII foi um incansável defensor e um conselheiro para a paz, recorrendo a cartas, telegramas, mensagens radiofónicas e Encíclicas, para além de todo um serviço humanitário quer do Vaticano, quer de toda a Igreja que a seu pedido não cessou de ajudar, proteger e salvar.

«Seria um erro acreditar que “Pio XII poderia ter qualquer influência no cérebro louco de Hitler” e o “próprio arquivo do Vaticano guarda telegramas de diversos governos no exílio, pedindo ao papa que não fizesse pronunciamentos públicos contra os nazis, pois como resposta a cada nova crítica surgiam maus tratos mais violentos”. Assim era, quer com judeus, quer com cristãos, pois a fúria do ditador reacendia-se como resposta aos apelos do Papa ao mundo. (…)

Faltaria, pois, à verdade quem ousasse dizer que Pio XII – aliás na sequência do seu predecessor – tivesse sido insensível e fosse indiferente perante as atrocidades bélicas na Europa e perante o genocídio dos não-arianos. Exemplificando, anota-se que em junho de 1942, protestou contra a deportação maciça dos judeus na frança, ocupada pelos nazis. E também ordenaria ao núncio em Paris para protestar junto do marechal Pétain, chefe de Estado da França de Vichy, contra as prisões desumanas e as deportações de judeus para a Sibéria e para as diversas regiões da Rússia.(…)

Perante tal postura do papa, o London Time de 1 de Outubro de 1942 homenageá-lo-ia explicitamente, por ter condenado o Nazismo e defendido as vítimas israelitas do terror hitleriano, anotando: - Não há qualquer sombra de dúvida; ele condena o culto da força, a sua concretização na privação da liberdade dos povos e a perseguição da raça judia. (…)

Sabe-se que, nesta altura, Hitler planeara ocupar o Vaticano e sequestrar Pio XII – senão mesmo assassiná-lo – como resposta ao que os serviços da Igreja Católica estavam a desenvolver em defesa dos perseguidos, nomeadamente, dos judeus italianos, evitando que eles fossem levados para campos de extermínio. (…)

Como era de esperar, antes e após a morte do papa Pio XII, surgiram e continuaram a surgir depoimentos lisonjeiros para com a sua memória, assinados por diversas personalidades publicas hebraicas, por outros judeus e por vários autores.” De entre muitos ouso destacar o do “célebre professor, cientista e judeu alemão Albert Einstein, galardoado com o Prémio Nobel de Física em 1921, que teve de deixar o seu país, refugiando-se nos Estados Unidos da América do Norte, e que morreu em 1955, ao saber da actividade filantrópica do sumo-pontífice, havia declarado em 23 de Dezembro de 1940 na revista norte-americana Time Magazine: Quando aconteceu a revolução na Alemanha, olhei com confiança as universidades para defenderem a liberdade, que eu aprecio, pois sabia que sempre se orgulharam da sua devoção à causa da verdade; mas as universidades foram imediatamente reduzidas ao silêncio. Então, confiei nos grandes editores de jornais, cujos editoriais inflamados tinha, anteriormente proclamado o seu amor à liberdade; mas, do mesmo modo que as universidades, também eles, sufocados em poucas semanas, tiveram de se calar. Somente a Igreja Católica permaneceu firme, em pé, para fechar o caminho às campanhas de Hitler que pretendiam suprimir a verdade. Antes, eu nunca havia experimentado um especial interesse pela Igreja, mas agora sinto por ela um grande afecto e admiração, porque teve a valentia e a constância de combater sozinha para defender a verdade intelectual e a liberdade moral. Sinto o dever de confessar que o que antes desprezava agora louvo incondicionalmente*

Uma obra indispensável para com segurança e rigor se poder analisar e avaliar da dimensão da barbárie e do terror no período compreendido entre 1 de Setembro de 1939 e 2 de Setembro de 1945.

À História compete a reposição da veracidade dos factos, sem rodeios, nem ideologias, por isso esta obra é um marco muito sério e um trabalho excelente sobre um Profeta da Paz que no seu tempo e no seu espaço desenvolveu todos os esforços possíveis e a Deus recorreu para conseguir os impossíveis, na certeza de que Sua Mãe Santíssima com ele estava.

O Papa Pio XII, cujo pontificado atravessou a II Guerra Mundial, foi o primeiro pontífice a ser chamado “Papa de Fátima”, tendo consagrado a dimensão universal da mensagem transmitida na Cova da Iria, em 1917. Em 1940, referiu-se a Fátima pela primeira vez num texto pontifício oficial, a encíclica ‘Saeculo exeunte octavo’, escrita para exortar a Igreja em Portugal a aumentar a sua actividade missionária e a primeira posição oficial pública do Vaticano sobre Fátima aconteceu com Pio XII, em 31 de outubro de 1942, 25 anos depois das aparições o Papa consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria. “A Vós, ao vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, confiamos, entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico de vosso Jesus, que pena e sangra em tantas partes e por tantos modos atribulada, mas também todo o mundo, dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio, vítima de sua próprias iniquidades”.
Quatro anos depois, em 13 de Maio de 1946, Pio XII enviou o cardeal Aloisi Masella a Fátima para coroar a imagem de Nossa Senhora. A 13 de Outubro de 1951, assinalando o final do Ano Santo jubilar, Pio XII associa-se à conclusão das celebrações marianas em Fátima. “A Virgem Nossa Senhora na sua mensagem, que Peregrina anda a repetir ao mundo, indica-nos o seguro caminho da paz e os meios para a obter do céu, visto que tão pouco se pode confiar nos meios humanos”. Curiosamente Eugénio Maria Giuseppe Pacelli (1876-1958) tinha sido ordenado bispo pelo Papa Bento XV na Capela Sistina, a 13 de Maio de 1917, dia da primeira aparição da Virgem em Fátima
*in: Pio XII – Defensor do Homem, Recordações e Testemunhos, da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar.
Maria Susana Mexia



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