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domingo, 5 de agosto de 2018

A Nuvem é Casada com o Sol…

A minha neta de férias comigo, pediu-me para ir à beira-rio. Com esta ajuda das relações entre gerações voltei à caminhada que habitualmente fazia, agora muito bem acompanhada, ocupando os seus tempos livres e usufruindo de novas descobertas. Os seus olhos brilhavam de alegria quando chegou ao local, neste caso perto do Pavilhão da Ciência e do Oceanário. Tudo era novidade. Propus-lhe começarmos por um passeio de teleférico. Confidenciou-me que tinha algum receio das alturas, mas aceitou de bom grado a proposta disposta a ultrapassar o medo que sentia. Ainda receosa entrou no teleférico. Quando as portas fecharam e começou a subir deu-me a mão. Mas pouco depois ao ver crianças nos outros teleféricos que nos acenavam, esqueceu o seu receio e começou a observar a linda paisagem num dia com algumas nuvens. A certa altura comentou que a nuvem que observávamos era casada com o sol. Sorri. Não existe nada melhor do que a companhia de uma criança, têm tanto para oferecer: ternura, carinho, amor, vontade de aprender, alegria, boa disposição também algumas “birras” e vontade de afirmação. Em contrapartida, transmitia-lhe segurança, conhecimento, proteção, amor, algum (o resto compete aos pais) grau de exigência e de educação. Pôde observar os aviões a sobrevoar a cidade, questionando qual seria o seu destino. Foi reconhecendo alguns locais desde a altitude. Estava a ser uma aventura fantástica. Que torre era aquela? Descobriu um parque para no regresso a pé poder brincar. E todos os medos, inseguranças e resistências foram vencidos. Pouco depois pediu para lhe fazer uma fotografia já com um ar descontraído. Saiu feliz, alegre e ansiosa por continuar as descobertas.

E iniciámos a nossa caminhada de regresso. Foi observando o rio sempre a saltitar. A maré estava vazia. Viu as gaivotas, questionou o lixo existente, nomeadamente dois carrinhos de compras de supermercado, a descoberto, entre outros, devido à maré baixa. Questionou porque não os retiravam, manifestando alguma preocupação com o ambiente, o que me fez pensar na importância da educação com o objetivo de promover a mudança de comportamentos. Brincou no parque. Tanta coisa nova para ela. Voltámos à beira-rio para continuar a nossa caminhada sobre uma pequena ponte onde observou a beleza do rio Tejo, o azul do céu já sem nuvens, as gaivotas e algumas espécies de peixes. Já nos encontrávamos perto do Oceanário. Resolvemos entrar. A minha neta fazia questão de almoçar fast-food no McDonalds. Propus-lhe comer primeiro uma sopa no restaurante do Oceanário. Agradou-lhe a ideia. Ainda bem, a todos os níveis. Havia uma exposição sobre a poluição dos oceanos que admirou e verificou como a sua manutenção constitui uma responsabilidade para todos, pedindo-me com muita curiosidade, para ler todos os placards relativos a cada escultura. Constituí um lugar infinitamente mágico, este Oceanário construído e inaugurado no âmbito da Expo 98, um dos maiores do mundo, com o lema “Os Oceanos, um Património para o Futuro”. Graças a Deus que este ícone da Expo 98 foi construído. Tem uma missão e uma mensagem educacional deveras importante. Ficou mesmo maravilhada com as esculturas alusivas à poluição dos oceanos, feitas com material recolhido do mar, plástico, chinelos, cordas redes, bolas, garrafas de plástico, cd´s, embalagens de iogurtes, entre um mundo infindável, destruidor da fauna e da flora marítima, inimigo do ambiente e do homem, pelo que urge tomar medidas preventivas, curativas e de investigação. Encontra-se em exposição no novo “Edifício do Mar”, inaugurado no ano 2011.

Ciente da necessidade de tomar medidas e preocupadas com o que nos foi dado a observar não resisto a mencionar alguns excertos do texto relativo às baleias denominado Mensagem Azul da autoria de João Parrinha. “Sou majestosa, bonita, a maior, aquela que tem viajado pelos mares ao longo de milhares de anos. Sou capaz de mergulhar às profundidades mais negras, de viajar pelos mares… Redes de pesca, escovas de dentes, canecas de plástico, mais latas, tampas, sacos de plástico dos supermercados… Eu mantenho e faço parte do equilíbrio dos mares e oceanos. Eu morro porque tu não sabes viver com os outros… Sufoco-me, corto-me. Vomito a minha morte na praia… Quem deve ser culpado pela minha doença? Quem encheu o mar com plástico? Morro com os da minha espécie…”

De salientar que circulam nos nossos oceanos mais de cem milhões de toneladas de lixo plástico, aos quais anualmente são acrescentados mais 6,4 milhões de toneladas. Gostaria de dar enfase, segundo informação recolhida, que do lixo no mar, os sacos de plástico demoram 450 anos para se decomporem, as garrafas de plástico entre 100 a 1000 anos, as famosas havaianas, 1000 anos e o vidro 4000 anos. Penso que os dados falam por si!

Ficámos de regressar um outro dia no sentido de visitar a Exposição Permanente do Oceanário. Dirigimo-nos ao restaurante Tejo onde degustámos uma sopa excelente e um ovo cozido e uma salada. Posteriormente, dêmos uma volta pela loja de recordações onde constatei obras de melhoramento com um novo espaço de restauração. A minha neta pediu, entretanto, para saborear um gelado sentada numas redes espreguiçadeiras situadas em frente ao Pavilhão do Conhecimento, um local fresco com várias fontes. Permanecemos aqui algum tempo a apreciar o movimento, a paisagem, neste belíssimo dia de verão, felizmente um pouco envergonhado, enquanto tecia algumas considerações. Na verdade, o que antigamente eram espaços desativados, tornaram-se em locais reaproveitados de extrema beleza devolvendo o rio aos lisboetas e a todos quantos visitam a cidade.

Foi um dia bem passado em que aprendemos mutuamente e construímos uma relação para mais tarde recordar. Na memória fica também a frase “A Nuvem é Casada com o Sol”.

Maria Helena Paes




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