A minha neta de férias comigo,
pediu-me para ir à beira-rio. Com esta ajuda das relações entre gerações voltei
à caminhada que habitualmente fazia, agora muito bem acompanhada, ocupando os
seus tempos livres e usufruindo de novas descobertas. Os seus olhos brilhavam
de alegria quando chegou ao local, neste caso perto do Pavilhão da Ciência e do
Oceanário. Tudo era novidade. Propus-lhe começarmos por um passeio de
teleférico. Confidenciou-me que tinha algum receio das alturas, mas aceitou de
bom grado a proposta disposta a ultrapassar o medo que sentia. Ainda receosa
entrou no teleférico. Quando as portas fecharam e começou a subir deu-me a mão.
Mas pouco depois ao ver crianças nos outros teleféricos que nos acenavam,
esqueceu o seu receio e começou a observar a linda paisagem num dia com algumas
nuvens. A certa altura comentou que a nuvem que observávamos era casada com o
sol. Sorri. Não existe nada melhor do que a companhia de uma criança, têm tanto
para oferecer: ternura, carinho, amor, vontade de aprender, alegria, boa
disposição também algumas “birras” e vontade de afirmação. Em contrapartida,
transmitia-lhe segurança, conhecimento, proteção, amor, algum (o resto compete
aos pais) grau de exigência e de educação. Pôde observar os aviões a sobrevoar a
cidade, questionando qual seria o seu destino. Foi reconhecendo alguns locais
desde a altitude. Estava a ser uma aventura fantástica. Que torre era aquela? Descobriu
um parque para no regresso a pé poder brincar. E todos os medos, inseguranças e
resistências foram vencidos. Pouco depois pediu para lhe fazer uma fotografia
já com um ar descontraído. Saiu feliz, alegre e ansiosa por continuar as
descobertas.
E iniciámos a nossa caminhada de
regresso. Foi observando o rio sempre a saltitar. A maré estava vazia. Viu as
gaivotas, questionou o lixo existente, nomeadamente dois carrinhos de compras
de supermercado, a descoberto, entre outros, devido à maré baixa. Questionou
porque não os retiravam, manifestando alguma preocupação com o ambiente, o que
me fez pensar na importância da educação com o objetivo de promover a mudança
de comportamentos. Brincou no parque. Tanta coisa nova para ela. Voltámos à
beira-rio para continuar a nossa caminhada sobre uma pequena ponte onde
observou a beleza do rio Tejo, o azul do céu já sem nuvens, as gaivotas e
algumas espécies de peixes. Já nos encontrávamos perto do Oceanário. Resolvemos
entrar. A minha neta fazia questão de almoçar fast-food no McDonalds.
Propus-lhe comer primeiro uma sopa no restaurante do Oceanário. Agradou-lhe a
ideia. Ainda bem, a todos os níveis. Havia uma exposição sobre a poluição dos
oceanos que admirou e verificou como a sua manutenção constitui uma
responsabilidade para todos, pedindo-me com muita curiosidade, para ler todos
os placards relativos a cada
escultura. Constituí um lugar infinitamente mágico, este Oceanário construído e
inaugurado no âmbito da Expo 98, um dos maiores do mundo, com o lema “Os
Oceanos, um Património para o Futuro”. Graças a Deus que este ícone da Expo 98
foi construído. Tem uma missão e uma mensagem educacional deveras importante. Ficou
mesmo maravilhada com as esculturas alusivas à poluição dos oceanos, feitas com
material recolhido do mar, plástico, chinelos, cordas redes, bolas, garrafas de
plástico, cd´s, embalagens de iogurtes,
entre um mundo infindável, destruidor da fauna e da flora marítima, inimigo do ambiente
e do homem, pelo que urge tomar medidas preventivas, curativas e de
investigação. Encontra-se em exposição no novo “Edifício do Mar”, inaugurado no
ano 2011.
Ciente da necessidade de tomar
medidas e preocupadas com o que nos foi dado a observar não resisto a mencionar
alguns excertos do texto relativo às baleias denominado Mensagem Azul da
autoria de João Parrinha. “Sou majestosa, bonita, a maior, aquela que tem
viajado pelos mares ao longo de milhares de anos. Sou capaz de mergulhar às
profundidades mais negras, de viajar pelos mares… Redes de pesca, escovas de
dentes, canecas de plástico, mais latas, tampas, sacos de plástico dos
supermercados… Eu mantenho e faço parte do equilíbrio dos mares e oceanos. Eu
morro porque tu não sabes viver com os outros… Sufoco-me, corto-me. Vomito a
minha morte na praia… Quem deve ser culpado pela minha doença? Quem encheu o
mar com plástico? Morro com os da minha espécie…”
De salientar que circulam nos
nossos oceanos mais de cem milhões de toneladas de lixo plástico, aos quais
anualmente são acrescentados mais 6,4 milhões de toneladas. Gostaria de dar
enfase, segundo informação recolhida, que do lixo no mar, os sacos de plástico
demoram 450 anos para se decomporem, as garrafas de plástico entre 100 a 1000
anos, as famosas havaianas, 1000 anos e o vidro 4000 anos. Penso que os dados
falam por si!
Ficámos de regressar um outro dia
no sentido de visitar a Exposição Permanente do Oceanário. Dirigimo-nos ao
restaurante Tejo onde degustámos uma sopa excelente e um ovo cozido e uma
salada. Posteriormente, dêmos uma volta pela loja de recordações onde constatei
obras de melhoramento com um novo espaço de restauração. A minha neta pediu,
entretanto, para saborear um gelado sentada numas redes espreguiçadeiras
situadas em frente ao Pavilhão do Conhecimento, um local fresco com várias
fontes. Permanecemos aqui algum tempo a apreciar o movimento, a paisagem, neste
belíssimo dia de verão, felizmente um pouco envergonhado, enquanto tecia
algumas considerações. Na verdade, o que antigamente eram espaços desativados,
tornaram-se em locais reaproveitados de extrema beleza devolvendo o rio aos
lisboetas e a todos quantos visitam a cidade.
Foi um dia bem passado em que
aprendemos mutuamente e construímos uma relação para mais tarde recordar. Na
memória fica também a frase “A Nuvem é Casada com o Sol”.
Maria Helena Paes |
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