O funeral da senhora Chan: acosso anticristão no Laos
Soldados
de uma guarda de honra do Laos - país comunista sem liberdade religiosa real - esperam o seu momento numa cerimónia solene |
Actualizado 14 de Julho de 2014
Leone Grotti / Tempi.it
É difícil ser cristão se se vive no Laos, país do sudeste asiático com seis milhões de habitantes.
Ainda mais difícil é sobreviver debaixo um dos últimos regimes comunistas que restam no mundo se se renuncia aos tradicionais ritos budistas e animistas para abraçar o cristianismo.
Tampouco morrer como cristãos é um direito nesta língua de terra esmagada entre o Vietname, a Tailândia e o Camboja.
Quando a senhora Chan se fez cristã
A história da senhora Chan, falecida na manhã de 22 de Junho depois de dois anos de enfermidade e os inúteis intentos de médicos e curandeiros locais, resume ela só todas as dificuldades às quais se tem que enfrentar a minoria cristã para ter um lugar nesta terra martirizada.
Mãe de oito filhos, quatro já casados, em Abril a mulher tinha-se convertido do budismo ao cristianismo junto com toda a família.
Leone Grotti / Tempi.it
É difícil ser cristão se se vive no Laos, país do sudeste asiático com seis milhões de habitantes.
Ainda mais difícil é sobreviver debaixo um dos últimos regimes comunistas que restam no mundo se se renuncia aos tradicionais ritos budistas e animistas para abraçar o cristianismo.
Tampouco morrer como cristãos é um direito nesta língua de terra esmagada entre o Vietname, a Tailândia e o Camboja.
Quando a senhora Chan se fez cristã
A história da senhora Chan, falecida na manhã de 22 de Junho depois de dois anos de enfermidade e os inúteis intentos de médicos e curandeiros locais, resume ela só todas as dificuldades às quais se tem que enfrentar a minoria cristã para ter um lugar nesta terra martirizada.
Mãe de oito filhos, quatro já casados, em Abril a mulher tinha-se convertido do budismo ao cristianismo junto com toda a família.
A notícia, que se difundiu rapidamente em Saisomboon (província de Savannakhet), onde vivia, irritou o chefe da aldeia: de facto, era a quinta família que se convertia em pouco tempo no território debaixo da sua jurisdição.
Dado que um cristão não pode ser enterrado nos cemitérios estatais no Laos, a não ser que renuncie à cruz na lápide e no funeral, os familiares da senhora Chan pediram e obtiveram a permissão de celebrar uma cerimónia cristã e enterra-la dentro da sua propriedade.
Para esta ocasião, os cinco líderes das comunidades cristãs das aldeias vizinhas participaram na função e guiaram a oração.
Dado que um cristão não pode ser enterrado nos cemitérios estatais no Laos, a não ser que renuncie à cruz na lápide e no funeral, os familiares da senhora Chan pediram e obtiveram a permissão de celebrar uma cerimónia cristã e enterra-la dentro da sua propriedade.
Para esta ocasião, os cinco líderes das comunidades cristãs das aldeias vizinhas participaram na função e guiaram a oração.
Chega o secretário do Partido Comunista
Mas na tarde de 23 de Junho, durante as exéquias, o chefe da aldeia, junto com o secretário local do Partido comunista, irromperam na casa da mulher.
As autoridades, acompanhadas também pela polícia, primeiro impuseram aos familiares a volta ao budismo e quando estes se negaram, confirmando a sua fé em Jesus e a vontade de dar à mãe um funeral cristão tal como ela tinha expressamente solicitado, revogaram a permissão para a sepultura e proibiram a função.
A polícia foi mais longe: prendeu os líderes cristãos acusando-os de homicídio da senhora Chan.
Como refere Human Rights Watch for Laos Religious Freedom (Hrwlrf) agora estão na cadeia:
- a senhora Kaithong, líder da comunidade de Saisomboon,
- o senhor Puphet, líder da igreja da aldeia de Donpalai,
- o senhor Muk, líder cristão da aldeia de Huey, Hasadee, que guia os fiéis na aldeia de Bunthalay
- e o senhor Tiang.
Entretanto, em ofensa à fé da senhora Chan, o chefe da aldeia obrigou os familiares da mulher a celebrar funerais budistas e a enterrar a sua mãe no cemitério estatal, sem símbolos cristãos.
Mas na tarde de 23 de Junho, durante as exéquias, o chefe da aldeia, junto com o secretário local do Partido comunista, irromperam na casa da mulher.
As autoridades, acompanhadas também pela polícia, primeiro impuseram aos familiares a volta ao budismo e quando estes se negaram, confirmando a sua fé em Jesus e a vontade de dar à mãe um funeral cristão tal como ela tinha expressamente solicitado, revogaram a permissão para a sepultura e proibiram a função.
A polícia foi mais longe: prendeu os líderes cristãos acusando-os de homicídio da senhora Chan.
Como refere Human Rights Watch for Laos Religious Freedom (Hrwlrf) agora estão na cadeia:
- a senhora Kaithong, líder da comunidade de Saisomboon,
- o senhor Puphet, líder da igreja da aldeia de Donpalai,
- o senhor Muk, líder cristão da aldeia de Huey, Hasadee, que guia os fiéis na aldeia de Bunthalay
- e o senhor Tiang.
Entretanto, em ofensa à fé da senhora Chan, o chefe da aldeia obrigou os familiares da mulher a celebrar funerais budistas e a enterrar a sua mãe no cemitério estatal, sem símbolos cristãos.
As cristãs, "sem direito ao estudo"
A perseguição dos cristãos na província de Savannakhet não é uma novidade. Na mesma aldeia de Saisomboon, no passado dia 20 de Maio, o chefe da aldeia impediu três raparigas de 14 e 15 anos de apresentar-se ao exame escolar de final de ano.
O motivo, simples: «São cristãs, não merecem o direito ao estudo». Em 25 de Maio, na aldeia vizinha de Donpalai, a polícia irrompeu num centro de oração no qual o reverendo Phupet estava guiando a função dominical.
Confiscando Bíblias
Os agentes sequestraram 53 Bíblias aos fiéis gritando: «Estes são livros malvados». O chefe da aldeia interveio posteriormente desculpando-se pela irrupção, sobre a qual não tinha sido informado para nada. Mas as Bíblias não foram devolvidas. É também emblemático o caso de 18 famílias que, entre 2010 e 2011, foram expulsas da sua aldeia de Katin, no sul do país, por serem cristãs.
Desde há anos os cristãos vivem num centro de acolhimento provisório na selva, sem possibilidade de procurar alimentos.
Os chefes da aldeia impedem que os cristãos voltem às suas casas e proíbem os habitantes que os ajudem ou lhes levem comida. O fim declarado é o de “fazê-los passar fome até que abandonem o cristianismo".
Até agora sobreviveram «graças às esmolas» e a alguns camponeses da zona que, às escondidas, lhes ofereceram um pequeno terreno donde cultivar arroz.
Mais além dos pretextos utilizados cada vez pelas autoridades comunistas para interromper as funções religiosas, perseguir os cristãos e prender os seus líderes, o objectivo é «deter a difusão da fé cristã na zona», como afirmam os activistas da Hrwlrf.
Cristãos: 2% do Laos
Desde a subida ao poder do Partido Comunista em 1975, com a conseguinte expulsão dos missionários estrangeiros, a minoria cristã no Laos está submetida a contínuos controlos e limitações de culto, apesar de que Constituição assegura o pleno direito à liberdade religiosa.
Ainda que os cristãos sejam só 2 por cento da população, do qual 0,7 por cento são católicos, são muito temidos pelas autoridades.
Se o budismo theravada, o mais difundido no Laos, goza do pleno apoio a nível governamental na forma de fundos e subsídios, o cristianismo, sobretudo se abraçado por membros da minoria étnica Hmong, é considerado de «importação estadunidense» e, por isso, «uma ameaça» capaz de minar a estabilidade e o modelo político e social imposto pelo Partido Comunista.
Medo comunista aos "direitos humanos"
Quando a Asean, a associação que reúne 10 nações do sudeste asiático, decidiu redigir uma Declaração de direitos humanos, o governo laosiano opôs-se.
De facto, segundo o Partido Comunista, a tutela dos direitos humanos pode dar lugar a «conflitos e divisões», em grau de levar à nação o «caos e a anarquia».
Por isto o governo quis especificar que tanto «os direitos do Estado» como a «segurança nacional, a ordem e a moral pública» superam a «liberdade e os direitos dos indivíduos».
A perseguição dos cristãos na província de Savannakhet não é uma novidade. Na mesma aldeia de Saisomboon, no passado dia 20 de Maio, o chefe da aldeia impediu três raparigas de 14 e 15 anos de apresentar-se ao exame escolar de final de ano.
O motivo, simples: «São cristãs, não merecem o direito ao estudo». Em 25 de Maio, na aldeia vizinha de Donpalai, a polícia irrompeu num centro de oração no qual o reverendo Phupet estava guiando a função dominical.
Confiscando Bíblias
Os agentes sequestraram 53 Bíblias aos fiéis gritando: «Estes são livros malvados». O chefe da aldeia interveio posteriormente desculpando-se pela irrupção, sobre a qual não tinha sido informado para nada. Mas as Bíblias não foram devolvidas. É também emblemático o caso de 18 famílias que, entre 2010 e 2011, foram expulsas da sua aldeia de Katin, no sul do país, por serem cristãs.
Desde há anos os cristãos vivem num centro de acolhimento provisório na selva, sem possibilidade de procurar alimentos.
Os chefes da aldeia impedem que os cristãos voltem às suas casas e proíbem os habitantes que os ajudem ou lhes levem comida. O fim declarado é o de “fazê-los passar fome até que abandonem o cristianismo".
Até agora sobreviveram «graças às esmolas» e a alguns camponeses da zona que, às escondidas, lhes ofereceram um pequeno terreno donde cultivar arroz.
Mais além dos pretextos utilizados cada vez pelas autoridades comunistas para interromper as funções religiosas, perseguir os cristãos e prender os seus líderes, o objectivo é «deter a difusão da fé cristã na zona», como afirmam os activistas da Hrwlrf.
Cristãos: 2% do Laos
Desde a subida ao poder do Partido Comunista em 1975, com a conseguinte expulsão dos missionários estrangeiros, a minoria cristã no Laos está submetida a contínuos controlos e limitações de culto, apesar de que Constituição assegura o pleno direito à liberdade religiosa.
Ainda que os cristãos sejam só 2 por cento da população, do qual 0,7 por cento são católicos, são muito temidos pelas autoridades.
Se o budismo theravada, o mais difundido no Laos, goza do pleno apoio a nível governamental na forma de fundos e subsídios, o cristianismo, sobretudo se abraçado por membros da minoria étnica Hmong, é considerado de «importação estadunidense» e, por isso, «uma ameaça» capaz de minar a estabilidade e o modelo político e social imposto pelo Partido Comunista.
Medo comunista aos "direitos humanos"
Quando a Asean, a associação que reúne 10 nações do sudeste asiático, decidiu redigir uma Declaração de direitos humanos, o governo laosiano opôs-se.
De facto, segundo o Partido Comunista, a tutela dos direitos humanos pode dar lugar a «conflitos e divisões», em grau de levar à nação o «caos e a anarquia».
Por isto o governo quis especificar que tanto «os direitos do Estado» como a «segurança nacional, a ordem e a moral pública» superam a «liberdade e os direitos dos indivíduos».
Primeiro padre no norte do Laos
A contínua perseguição governativa, feita de prisões indiscriminadas, destruição dos campos pertencentes aos fiéis, limitação das deslocações e contínuas ameaças para que se abjure do cristianismo, não impediram que a Igreja católica celebrasse em 29 de Janeiro de 2011 um acontecimento verdadeiramente histórico: a primeira ordenação sacerdotal em 40 anos na área setentrional do país, onde a repressão das autoridades é ainda mais dura.
O novo sacerdote chama-se Pierre Buntha Silaphet, tem 38 anos e encarna a esperança do povo cristão graças a uma circunstância que os fiéis definem «providencial»: o seu nome laosiano, Buntha, é o mesmo que o do último sacerdote ordenado no longínquo 1970, antes da chegada do comunismo.
O governo tinha pedido às autoridades religiosas «não dar demasiada importância» ao acontecimento, disfarçando-o como uma simples «festa da aldeia». Inutilmente.
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
A contínua perseguição governativa, feita de prisões indiscriminadas, destruição dos campos pertencentes aos fiéis, limitação das deslocações e contínuas ameaças para que se abjure do cristianismo, não impediram que a Igreja católica celebrasse em 29 de Janeiro de 2011 um acontecimento verdadeiramente histórico: a primeira ordenação sacerdotal em 40 anos na área setentrional do país, onde a repressão das autoridades é ainda mais dura.
O novo sacerdote chama-se Pierre Buntha Silaphet, tem 38 anos e encarna a esperança do povo cristão graças a uma circunstância que os fiéis definem «providencial»: o seu nome laosiano, Buntha, é o mesmo que o do último sacerdote ordenado no longínquo 1970, antes da chegada do comunismo.
O governo tinha pedido às autoridades religiosas «não dar demasiada importância» ao acontecimento, disfarçando-o como uma simples «festa da aldeia». Inutilmente.
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
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