Réus estão entre os maiores responsáveis pelo extermínio de 1,7 milhão de pessoas
Madrid, 20 de Agosto de 2014 (Zenit.org)
Dois líderes da guerrilha do Khmer Vermelho, Khieu Samphan e
Nuon Chea, foram condenados à prisão perpétua neste mês de Agosto por
um tribunal internacional reconhecido pela ONU. São os dois únicos
chefes da guerrilha cambojana ainda vivos e com saúde suficiente para
enfrentar o devido processo judicial.
Ambos se entregaram ao governo em 1998 em troca de amnistia. O
Tribunal Internacional que julga os antigos comandantes do Khmer
Vermelho determinou que ambos os réus são responsáveis, com "actos e
omissões", por planear, instigar, ordenar, apoiar ou induzir a crimes
contra a humanidade, que incluem assassinato, extermínio, escravidão,
deportação e prisão. Também são responsáveis pelo genocídio de
comunidades vietnamitas e cham, além de violar a Convenção de Genebra de
1949.
Os réus foram julgados pelo extermínio de quase três milhões de
pessoas durante o governo do Khmer Vermelho, em um processo que começou
em 2007.
A população do Camboja chegava em 1975 a 7,3 milhões. Em 1978, foi
reduzida a 5 milhões. Como a maioria das vítimas pertencia à própria
etnia khmer, tratou-se de um "auto-genocídio".
Depois da Guerra do Vietname, da retirada dos Estados Unidos e da
derrocada do general Lon Nol, que chefiava uma ditadura militar desde
1970, a guerrilha tomou o poder em 17 de Abril de 1975. O episódio é
conhecido como a Queda de Phnom Penh.
Os guerrilheiros fundaram então a Kampuchea Democrática, um sistema
de governo de características autoritárias que, sob a aparência formal
de uma república popular de inspiração maoísta, consolidou um sistema de
economia radicalmente agrária.
O sistema determinou a evacuação de todas as cidades e promoveu a
destruição da civilização urbana e da sua cultura, consideradas
burguesas. O propósito era fomentar uma “reconstrução social” baseada
nas origens da civilização khmer ancestral, sob a direcção de Pol Pot,
seu principal líder.
Foi implantado então um férreo controle militar sobre a população
civil, submetida em boa parte a um regime de trabalhos forçados. Eram
comuns a prisão, a tortura e os assassinatos selectivos em massa, com a
justificativa da chamada “busca do inimigo interno”.
Durante os quatro anos que durou, de Abril de 1975 até Janeiro de
1979, o regime causou aproximadamente 1,7 milhão de mortes. Suas acções e
seu modo de impor a sua política levaram ao que se conhece como o
“genocídio cambojano”, actos que, hoje, são julgados por um tribunal
internacional em Phnom Penh por crimes contra a humanidade.
O Khmer Vermelho, ao erradicar as cidades, extinguiu os colégios,
tribunais de justiça e mercados. Também foram abolidos o dinheiro e a
propriedade privada, além de proibidas as práticas religiosas. O povo
foi obrigado a trabalhar na agricultura para produzir alimentos.
Em 1979, com a intervenção militar do Vietname no país, o regime do
Khmer Vermelho perdeu o poder, mas se transformou numa guerrilha aliada
da República Popular da China e dos Estados Unidos.
Khieu Samphan, nascido em 1931 e doutorado em Ciências Económicas em
Paris em 1959, desenhou as directrizes da política agrária. Ele procedia
de uma família de posses e seu pai era juiz. Samphan se tornou a voz
intelectual e o representante oficial do Khmer Vermelho, mantendo sempre
a lealdade ao chefe histórico da organização extremista, Pol Pot. Foi
nomeado presidente da República Democrática da Kampuchea em 1976, um ano
depois que a guerrilha assumisse o poder pela força. Com a perda de
Phnom Penh para o exército vietnamita, Samphan se tornou a cabeça
visível do denominado Governo da Kampuchea Democrática em Pequim.
Substitui Pol Pot, de forma nominal, no comando do Khmer Vermelho em
1985. Participou das negociações de paz auspiciadas pela ONU, das quais
se originaram os Acordos de Paris de 1991, que Samphan terminaria
renegando.
Nuon Chea, de 88 anos, conhecido também como Camarada Número Dois,
controlou a linha política do Khmer Vermelho desde 1960, quando foi
nomeado subsecretário do comité central do Partido Comunista da
Kampuchea, o nome oficial do Khmer Vermelho. Sua família é de origem
chinesa. Cursou os estudos universitários em Bangkok, onde abandonou seu
nome original, Long Bunrout, para fugir à prisão por sua militância no
ilegal Partido Comunista da Tailândia. De volta a Phnom Penh, continuou a
militância comunista e foi nomeado subsecretário do comité central do
Partido Comunista da Kampuchea. Segundo o Tribunal Internacional,
provavelmente participou do comité militar. Alguns historiadores o
acusam de dirigir a rede de prisões e de manter contacto directo com os
principais responsáveis pelo genocídio: Pol Pot e o ministro de Defesa,
San Sen, executado em 1997 pelo próprio Pot.
Depois da morte de Pol Pot em 1998, os dois se retiraram de cena, confiando em uma aposentadoria tranquila.
(20 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
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