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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Camboja: condenados dois líderes do genocídio do Khmer Vermelho

Réus estão entre os maiores responsáveis pelo extermínio de 1,7 milhão de pessoas


Madrid, 20 de Agosto de 2014 (Zenit.org)


Dois líderes da guerrilha do Khmer Vermelho, Khieu Samphan e Nuon Chea, foram condenados à prisão perpétua neste mês de Agosto por um tribunal internacional reconhecido pela ONU. São os dois únicos chefes da guerrilha cambojana ainda vivos e com saúde suficiente para enfrentar o devido processo judicial.

Ambos se entregaram ao governo em 1998 em troca de amnistia. O Tribunal Internacional que julga os antigos comandantes do Khmer Vermelho determinou que ambos os réus são responsáveis, com "actos e omissões", por planear, instigar, ordenar, apoiar ou induzir a crimes contra a humanidade, que incluem assassinato, extermínio, escravidão, deportação e prisão. Também são responsáveis pelo genocídio de comunidades vietnamitas e cham, além de violar a Convenção de Genebra de 1949.

Os réus foram julgados pelo extermínio de quase três milhões de pessoas durante o governo do Khmer Vermelho, em um processo que começou em 2007.

A população do Camboja chegava em 1975 a 7,3 milhões. Em 1978, foi reduzida a 5 milhões. Como a maioria das vítimas pertencia à própria etnia khmer, tratou-se de um "auto-genocídio".

Depois da Guerra do Vietname, da retirada dos Estados Unidos e da derrocada do general Lon Nol, que chefiava uma ditadura militar desde 1970, a guerrilha tomou o poder em 17 de Abril de 1975. O episódio é conhecido como a Queda de Phnom Penh.

Os guerrilheiros fundaram então a Kampuchea Democrática, um sistema de governo de características autoritárias que, sob a aparência formal de uma república popular de inspiração maoísta, consolidou um sistema de economia radicalmente agrária.

O sistema determinou a evacuação de todas as cidades e promoveu a destruição da civilização urbana e da sua cultura, consideradas burguesas. O propósito era fomentar uma “reconstrução social” baseada nas origens da civilização khmer ancestral, sob a direcção de Pol Pot, seu principal líder.

Foi implantado então um férreo controle militar sobre a população civil, submetida em boa parte a um regime de trabalhos forçados. Eram comuns a prisão, a tortura e os assassinatos selectivos em massa, com a justificativa da chamada “busca do inimigo interno”.

Durante os quatro anos que durou, de Abril de 1975 até Janeiro de 1979, o regime causou aproximadamente 1,7 milhão de mortes. Suas acções e seu modo de impor a sua política levaram ao que se conhece como o “genocídio cambojano”, actos que, hoje, são julgados por um tribunal internacional em Phnom Penh por crimes contra a humanidade.

O Khmer Vermelho, ao erradicar as cidades, extinguiu os colégios, tribunais de justiça e mercados. Também foram abolidos o dinheiro e a propriedade privada, além de proibidas as práticas religiosas. O povo foi obrigado a trabalhar na agricultura para produzir alimentos.

Em 1979, com a intervenção militar do Vietname no país, o regime do Khmer Vermelho perdeu o poder, mas se transformou numa guerrilha aliada da República Popular da China e dos Estados Unidos.

Khieu Samphan, nascido em 1931 e doutorado em Ciências Económicas em Paris em 1959, desenhou as directrizes da política agrária. Ele procedia de uma família de posses e seu pai era juiz. Samphan se tornou a voz intelectual e o representante oficial do Khmer Vermelho, mantendo sempre a lealdade ao chefe histórico da organização extremista, Pol Pot. Foi nomeado presidente da República Democrática da Kampuchea em 1976, um ano depois que a guerrilha assumisse o poder pela força. Com a perda de Phnom Penh para o exército vietnamita, Samphan se tornou a cabeça visível do denominado Governo da Kampuchea Democrática em Pequim. Substitui Pol Pot, de forma nominal, no comando do Khmer Vermelho em 1985. Participou das negociações de paz auspiciadas pela ONU, das quais se originaram os Acordos de Paris de 1991, que Samphan terminaria renegando.

Nuon Chea, de 88 anos, conhecido também como Camarada Número Dois, controlou a linha política do Khmer Vermelho desde 1960, quando foi nomeado subsecretário do comité central do Partido Comunista da Kampuchea, o nome oficial do Khmer Vermelho. Sua família é de origem chinesa. Cursou os estudos universitários em Bangkok, onde abandonou seu nome original, Long Bunrout, para fugir à prisão por sua militância no ilegal Partido Comunista da Tailândia. De volta a Phnom Penh, continuou a militância comunista e foi nomeado subsecretário do comité central do Partido Comunista da Kampuchea. Segundo o Tribunal Internacional, provavelmente participou do comité militar. Alguns historiadores o acusam de dirigir a rede de prisões e de manter contacto directo com os principais responsáveis pelo genocídio: Pol Pot e o ministro de Defesa, San Sen, executado em 1997 pelo próprio Pot.

Depois da morte de Pol Pot em 1998, os dois se retiraram de cena, confiando em uma aposentadoria tranquila.

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