Para o Observador Permanente da Santa Sé junto à ONU, é preciso conhecer melhor o fenómeno para evitar "manipulações eleitorais"
Roma, 26 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio
A acolhida do imigrante não é só um ato de humanidade, mas
uma necessidade real que se impõe à comunidade do mundo inteiro. Este é o
ponto de vista da Igreja católica, exposto no Meeting de Rímini durante
a primeira mesa redonda desta segunda-feira, sobre “A imigração e a
necessidade do outro”.
Conforme ressaltado por dom Michele Pennisi, arcebispo de Monreale,
e dom Silvano Maria Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé perante a
ONU, é necessário abandonar o conceito de imigração como problemática
que atinge exclusivamente as autoridades, como se não houvesse nenhuma
responsabilidade por parte dos cidadãos. O fenómeno deve ser
contextualizado de modo global, superando-se as visões localistas e
limitantes.
Segundo o arcebispo de Monreale, três são as atitudes recorrentes, em
particular entre os italianos, no tocante ao problema da imigração. Em
primeiro lugar, há quem mostre uma atitude de preconceito hostil e ache
que os recursos que o Estado investe na ajuda aos imigrantes deveriam
ser destinados aos cidadãos italianos, em especial aos que estão
desempregados ou são socialmente desfavorecidos.
Em segundo lugar, também há quem esteja aberto aos estrangeiros, mas
em perspectiva totalmente utilitarista, já que os imigrantes se prestam a
fazer os trabalhos de mão de obra pesada que os italianos não querem
fazer: esta atitude favorece notavelmente a exploração, especialmente em
áreas como a construção e a agricultura.
A terceira atitude, que é a proposta da Igreja, é a do acolhimento
incondicional de todos os "irmãos em dificuldade", sem interesses
particulares.
Dom Pennisi recordou ainda as circunstâncias da visita do papa
Francisco à ilha de Lampedusa, em Julho de 2013, depois da visita ad
limina em que os bispos sicilianos denunciaram o drama da imigração na
costa meridional italiana.
Quando o Santo Padre afirma "sentir vergonha", ele não se refere
exclusivamente às culpas dos responsáveis pelas tragédias no mar, que
fizeram do Mediterrâneo um "grande cemitério"; ele quer, em primeiro
lugar, suscitar uma "tomada de responsabilidade", observou o prelado
siciliano.
Por sua vez, dom Tomasi destacou o alcance global do fenómeno
migratório, cujo impacto é muito maior do que se percebe: no mundo todo,
uma pessoa em cada sete já emigrou dentro do próprio país ou para o
exterior.
Cada cristão deve se perguntar qual é a própria "atitude de
acolhimento", disse Tomasi, afirmando que o "caminho comum" de migrantes
e comunidades de acolhida deve partir do "mútuo conhecimento".
Um fenómeno que deve ser evitado, acrescentou o prelado, são as
"manipulações eleitorais", que "criam fantasmas" relacionados com os
imigrantes. É preciso de "exorcizar o medo do outro".
Deve-se ampliar também a "participação" dos cidadãos na gestão da
migração, já que ela não afecta só uma "parte da população", mas toda a
comunidade. Não deveria repetir-se o erro da criação de guetos de
imigrantes em realidades periféricas, porque isto favorece o crescimento
do fundamentalismo entre os cidadãos europeus, conforme demonstrado
pelas recentes e trágicas notícias do Oriente Médio.
Durante a conferência de imprensa, dom Tomasi exortou os jornalistas a
conhecerem a realidade das migrações no mundo de forma mais profunda,
documentando, por exemplo, quais são as "situações impossíveis" que
levam tantos povos a deixarem seus países.
(26 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
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