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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Carolina terminou direito e entra nas carmelitas com 21 anos: um companheiro de turma entrevista-a

O que se pergunta a uma amiga que entra num convento 

Carolina Martínez, na sua graduação de Direito em Maio...
Conta a sua chamada ao Carmelo
Actualizado 16 Julho 2014

LuisFer Martínez / Respublica.es

Luisfer Martínez publica em www.respublica.es uma entrevista a uma companheira de curso, Carolina Martínez; ambos terminaram recentemente o curso de Direito, mas ela já sabe o que vai fazer: entrar num convento de carmelitas seguindo a máxima de Santa Teresa. Esta é uma entrevista que sintetiza as questões que desperta hoje uma vocação à clausura entre os adultos jovens. Republicamos algumas das perguntas (a entrevista na íntegra está em Respublica.es).

Carolina é navarra, das que usam o ‘ico’ no final de quase todas as palavras, das que vibram com o foral, com cada secção da cidadela e com cada calçada da Praça do Castelo.

Carolina ia começar a sua tese doutoral no próximo mês de Setembro, mas surgiu-lhe outro evento em Agosto. O evento tem que ver com um mosteiro de clausura no qual vai passar a sua vida. [...]

- Há contacto real com Deus?

- Sim. Homem, não o vou ver, sabes? Mas rezando sim há contacto real com Deus. Ainda que isso não só no convento, penso que todo o cristão tem que ter esse contacto. Se não, teria uma forma muito… Solitária de rezar.

- Que procuravas no convento? Ser feliz ou fazer feliz alguém?

- Não entro aí para procurar a minha própria felicidade, isso já te disse, e não creio que ninguém o faça (o que não tira que tenho a certeza de que vou ser feliz ali). Mas tampouco vou para fazer feliz alguma pessoa em concreto. A ver, é difícil de explicar, a mi entrada e a felicidade de outros não é uma relação directa causa-efeito. Eu não procuro expressamente que alguém seja feliz; de facto, provavelmente eu nunca verei os “resultados” que procuro entrando no convento. Mas sei que desde aí vou ajudar aos demais, e isso é o que quero.

- Em que consiste essa felicidade?
- Não tanto no facto de que eu entrei agora num convento, mas sim melhor o facto de que existam pessoas que decidem deixar tudo para ajudar pessoas que não conhecem de nada, dá um exemplo aos demais, e talvez uma ou duas pessoas (e com isso é suficiente) se pararem a pensar um pouco, e conhecerem coisas que igualmente ninguém lhes ensinou.

[...]

- Que vais fazer quando te aborreceres?
- Pois ver televisão não, isso de certeza – ri-se -. Pelo que me dizem as irmãs carmelitas, não vou ter tempo para aborrecer-me, mas já te contarei quando estiver lá.

- Quanto tempo pensaste até tomar uma decisão tão importante para a tua vida?
- Vários meses. Tampouco foi algo que me ocorresse de golpe eh, foi mais progressivo, não sei, pouco a pouco. Mas assim mais a sério coloquei-o em princípios deste ano.

[...]

- Que dizem os teus amigos?
- Pois a verdade é que se alegram, assim perdem-me de vista… – ri-se enquanto nega com a cabeça -. Mas sim alegram-se, alguma quase chora e todo - e algum-. Bastantes flipam porque não é o que esperas de uma rapariga de 21 anos, não? E além disso tampouco sou a típica rapariga que está muito em casa, e a imagem – errónea - que se tem das monjas é de mulheres sérias e/ou aborrecidas; mas somos normais. Todos tem também muita curiosidade, porque é um mundo muito desconhecido entre os jovens.

- A quem o contaste primeiro e porquê?
- Aparte de a um sacerdote e a uma amiga, há minha mãe. Primeiro porque é a minha mãe e queria que o soubesse em primeiro lugar; segundo porque ia ir dois dias a visitar um convento (não o de carmelitas) e estava em plenos exames e era muito raro que desaparecesse de casa dois dias, e terceiro porque me dá bons conselhos.

- É para sempre? E se te equivocas mas é demasiado tarde para rectificar?
- Ser monja é para sempre, para sempre. Repeti-o intencionalmente, para que fique claro. Se te equivocas quando já é demasiado tarde para rectificar, como dizes, pois já nada, que queres que te diga, como tudo na vida. Mas não se entra num convento directamente como monja, tal como não te casas com o primeiro que conheces, não? Eu não vou com a ideia de “eu, e uma mala, posso ir?”, não teria sentido entrar assim, e se há alguma rapariga que esteja na minha situação mas com essa ideia, pode ficar na sua casa que fará melhor.

Mas também por algo há um tempo de discernimento, e uma deve ser prudente ao tomar uma decisão assim. Dar-se conta de que se equivocou quando já é demasiado tarde não é o normal, outra coisa é que alguém mude de opinião, ou algo assim, porque isto não é entrar no convento e já está tudo feito, é uma resposta a Deus que tens que dar cada dia, e somos livres, e podemos dizer que não quando já levamos vários anos dentro. Nisso também há que ter cuidado, a vocação não é algo momentâneo, é para toda a vida, e há que vivê-la dia-a-dia.

- Separar-te do mundo não é egoísta, como deixar de lado o resto das pessoas?
- Não. A mim também se me passou isso pela cabeça quando estava planeando ser monja, porque todo o mundo tem os seus problemas, e era consciente de que ao ir-me, fisicamente, não ia estar tão pendente de assuntos que me preocupam. Mas não, não me vou a desentender das pessoas, pelo contrário, quero muitíssimo há minha família e aos meus amigos, e o facto de que me vá para outro sítio não implica deixá-los de lado. Sou afortunada ao poder dizer que quase todos sabem que vou estar com eles mais que até agora, ainda que seja desde um convento, e creio que também é um ponto de união para eles, porque ao fim e ao cabo, é algo que não é o mais normal, ter uma amiga ou irmã monja.

[...]

- Entre o Céu e a terra com que ficas?
– Ri-se antes de responder à pergunta - Com o Céu, sem pensá-lo. Um poeta, Alphonse de Lamartine, disse: “o tempo é o teu navio, não a tua morada“, e lendo “História de uma alma“, Santa Teresita recordava a citação um pouco diferente, e dizia “a vida é o teu navio, não a tua morada“, que eu gosto mais; vamos, que aqui estamos de passagem.

- É tão grande Deus como para entregar uma vida inteira?
- Olha, se cada pessoa que existe no mundo lhe entregasse a sua vida inteira, ainda me pareceria pouco. O mínimo que eu posso fazer, o mínimo, eh?, é entregar-lhe a minha vida inteira. Mas isto digo-o para todos, a única forma de dar-lhe a tua vida não é entrando num convento ou fazendo-te padre, podes casar-te ou viver com 20 gatos e entregar a tua vida a Deus.

- Que é o que mais te preocupa agora mesmo, pelo que mais vais rezar.
- Pelas conversões, para que todo o mundo conheça a Deus.

- Que é o que mais te atrai da ordem?
- Que difícil… Creio que a entrega que supõe, o esquecer-se de tudo menos de Deus: “Só Deus basta…” Envolve uma fortaleza que me chamou muito a atenção na hora de decidir-me não por ser monja em geral, mas sim carmelita descalça.

[...]

- Que estás fazendo durante os dias imediatamente anteriores à entrada?

- Rezar, tirar tempo para estar com as minhas amigas e com a minha família, e fazer limpeza de coisas do meu quarto, nada do outro mundo, não vou fazer puenting nem coisas do estilo.

[...]

- Quando contei a tua história a uma amiga respondeu-me assustada com a pergunta ‘e não pode nem pintar as unhas?’ De certeza que até uma monja tem algo de presumida, não?
- O das unhas nem me tinha parado a pensá-lo em concreto – ri-se -. Sim que há coisas que me perguntei nesse aspecto, mas olha, é tão secundário comparado com a mudança de vida que supõe entrar num convento de clausura que me preocupa bastante pouco. Não, para mim não é importante em absoluto deixar de pintar as unhas, maquilhar-me, ir a lojas ou sair para festas.


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