Mons. Vitaliano faz um breve resumo do Instrumentum Laboris do Sínodo. Composto de três partes, apresenta uma visão da situação mundial sobre a família.
Crato, 21 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Vitaliano Mattioli
No próximo mês de Outubro haverá no Vaticano o Sínodo
extraordinário sobre a família. O Concílio dedicou os § 47-52 à
família, que a definiu “Igreja Doméstica”. São João Paulo II celebrou
sobre este argumento um Sínodo em 1980 e assinou o documento Familiaris
Consortio em 22 de Novembro de 1981. A convocação do Sínodo deste ano
foi a primeira decisão do Papa Francisco. Isto significa que a família é
a primeira preocupação do novo Papa. Ele interveio muitas vezes sobre
este assunto. O Papa, falando aos Bispos austríacos (30 de Janeiro de
2014), disse “Um campo importante do nosso trabalho de Pastores é a
família [...] A família é um lugar privilegiado para a evangelização e
para a transmissão vital da fé”.
A família é o santuário de Deus, o lugar onde se vive entre as
pessoas humanas o amor de Deus, o lugar onde Deus criador continua a
criar novas vidas. A família terrena deve ser uma imitação da família
trinitária.
Infelizmente, hoje, a família é terrivelmente ameaçada especialmente
pela Ideologia do género que, se aplicada, levará à morte da família.
O Papa Francisco enviou aos Bispos em 2013 um “Documento de
preparação: Os desafios pastorais sobre a família no contexto da
Evangelização”.
Este documento nos n. 1 e 2 confirma o projecto de Deus sobre a
família e apresenta o ensinamento da Igreja sobre a mesma,
especialmente na Familiaris Consortio e no Catecismo da Igreja Católica
(n. 1601-1658).
O n. 3 apresenta uma novidade. O Papa envia aos Bispos 39 perguntas
“sobre a difusão da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja a
propósito da família (1-4); sobre o matrimonio segundo a lei natural
(5-8); sobre a pastoral da família no contexto da evangelização (9-14); sobre a pastoral para enfrentar algumas situações matrimoniais difíceis
(15-21); sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo (22-25); sobre a
educação dos filhos no contexto das situações de matrimónios irregulares
(26- 29); sobre a abertura dos esposos à vida (30 – 33); sobre a
relação entre a família e a pessoa (36-38); outros desafios e propostas (39)."
O Papa Francisco enviou este documento justamente para conhecer a
situação real do mundo católico sobre a família para orientar os Bispos
de forma mais actual.
Os Bispos enviaram as resposta à Secretaria do Sínodo, a qual
analisou as muitas respostas e sugestões e fez neste ano m novo
documento, o Instrumentum Laboris (o Instrumento do trabalho). Este
documento é o texto sobre o qual os Bispos devem trabalhar no Sínodo.
Por isso é bom conhecer as linhas essenciais.
Composto de três partes, apresenta uma visão da situação mundial sobre a família.
Primeira parte: “Comunicar o Evangelho da família hoje”.
É uma parte mais doutrinal. Nos quatro capítulos apresenta o desígnio
de Deus sobre o matrimonio e a família. Mostra a fundamentação bíblica e
os documentos da Igreja. Depois, reflectindo sobre as respostas, exorta a
dar a conhecer aos fieis os documentos da Igreja, a ter uma maior
aproximação do magistério da Igreja. Por isso, no nº 12, insiste sobre a
necessidade de ter sacerdotes e ministros preparados:
“12. Algumas observações recebidas atribuíram a responsabilidade
da escassa difusão deste conhecimento aos próprios pastores que, segundo
o parecer de alguns fiéis, eles mesmos não conhecem em profundidade o
argumento matrimonio-família dos documentos, nem parece que tenham os
instrumentos para desenvolver esta temática [...]. É pedido que os
sacerdotes sejam mais preparados e responsáveis ao explicar a Palavra de
Deus e ao apresentar os documentos da Igreja relativos ao matrimonio e à
família”.
Continua apresentando a relação entre o Evangelho da família e a lei natural. Lamenta uma fraca confiança nesta lei natural.
O último número frisa a importância duma formação constante:
“49. É frisada com muita frequência a necessidade de uma pastoral
familiar que tenha como objectivo uma formação constante e sistemática
acerca do valor do matrimonio como vocação, da redescoberta da
genitorialidade (paternidade e maternidade) como dom. O acompanhamento
do casal não se deve limitar à preparação para o matrimonio, em relação à
qual se aponta - aliás - a necessidade de rever os percursos.
Evidencia-se sobretudo a necessidade de uma formação mais constante e
minuciosa: bíblica, teológica, espiritual, mas também humana e
existencial”.
A segunda parte: A pastoral da família face aos novos desafios, é composta de três capítulos. No primeiro fala muito sobre a preparação para o matrimonio. Insiste muito sobre os Cursos.
N. 51: “Nestes cursos, os objectivos são: a promoção da relação do
casal, com a consciência e a liberdade da escolha; o conhecimento dos
compromissos humanos, civis e cristãos; a retomada da catequese da
iniciação, com o aprofundamento do sacramento do matrimonio; o
encorajamento a que o casal participe na vida comunitária e social”. E
no. N. 53: “Precisa transformar cada vez mais os «cursos» em
«percursos», envolvendo sacerdotes e esposos. Releva-se que nestes
últimos anos os conteúdos dos programas sofreram uma mudança
consistente: de um serviço orientado unicamente para o sacramento,
passou-se a um primeiro anúncio da fé”.
O capitulo segundo e terceiro são de grande importância porquanto
enfrentam “Os desafios pastorais da família’ e “As situações pastorais
difíceis”. Este capitulo terceiro analisa as varias situações
familiares: convivências, uniões de fato, divorciados recasados, a
situação dos filhos, as mães solteiras, fala sobre o acesso aos
sacramentos, sobre a possibilidade de simplificar as causas
matrimoniais. Enfim (n. 105-109) sobre os não praticantes e não crentes
que pedem o matrimonio. Na segunda parte deste terceiro capitulo o
Documento fala sobre as uniões entre as pessoas do mesmo sexo.
Oferece também sugestões práticas para educar a juventude,
encontradas nas respostas recebidas: “Entre as linhas de acção pastoral
propostas encontramos as seguintes: oferecer, desde a adolescência, um
percurso que aprecie a beleza do matrimonio; formar agentes pastorais
sobre os temas do matrimonio e da família. É indicado também o
testemunho de grupos de jovens que se preparam para o matrimonio com um
noivado vivido na castidade” (n. 82).
A terceira parte é dedicada a “Abertura à vida e a responsabilidade educativa”.
O primeiro capitulo é dedicado à abertura à vida. Entre as sugestões pastorais, indica as seguintes:
“128: Sob o ponto de vista pastoral as respostas, em
numerosíssimos casos, indicam a necessidade de uma maior difusão – com
uma linguagem renovada, propondo uma visão antropológica coerente – do
que se afirma na Humanae Vitae,
sem se limitar aos cursos pré-matrimoniais, mas inclusive através de
percursos de educação para o amor [...] Do mesmo modo, sugere-se que se
reserve maior espaço a esta temática no âmbito da formação dos futuros
presbíteros nos seminários, considerando que os sacerdotes resultam às
vezes despreparados para enfrentar tais temáticas e, às vezes, oferecem
indicações inexactas e desviantes. 129: Confirma-se assim a necessidade
de rever a formação dos presbíteros sobre estes aspectos da pastoral
(isto é: os aspectos da abertura à vida)”.
O segundo apresenta o desafio educativo. O texto analisa algumas dificuldades especificas:
“153: Em relação ao sacramento do baptismo denuncia-se, por
exemplo, a atitude de tolerância com a qual, às vezes, é administrado
aos filhos de pais em situações irregulares, sem percursos formativos.
Sobre este mesmo tema, verificam-se casos em que foi rejeitado o
percurso de iniciação cristã, porque um dos dois pais vive em situação
irregular. Nas respostas aparece várias vezes a referência à grave
dificuldade de pais que não podem aceder aos sacramentos da penitência e
da Eucaristia, enquanto as crianças são convidadas a participar nos
sacramentos. 154: Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível,
norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer
uma ajuda concreta para a educação dos filhos. Sente-se a necessidade de
um acompanhamento melhor, permanente e mais incisivo em relação aos
pais que vivem tais situações”.
O documento conclui com esta reflexão:
“156: As escolas católicas têm uma grande responsabilidade em
relação a estas crianças, adolescentes, jovens, filhos de casais em
situações irregulares, cujo número nelas já é elevado. A este propósito,
a comunidade educativa escolar deveria suprir cada vez mais ao papel
familiar, criando uma atmosfera hospitaleira, capaz de mostrar o rosto
de Deus”.
Este é, em síntese, o texto sobre o qual o Sínodo deve trabalhar.
Nós podemos acompanhar este trabalho com as nossas orações.
(21 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
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