«Emagreceu, está pálido», dizem aqueles que puderam vê-lo
Tadeo Ma Daqin recebe as felicitações dos fiéis, no dia em que foi ordenado bispo... Pouco antes de ser preso, nesse mesmo dia |
Actualizado 25 de Julho de 2014
Leone Grotti / Tempi.it
Pelo segundo ano consecutivo, durante a comemoração anual dos santos mártires chineses Agustín Zhao e companheiros, canonizados por João Paulo II no ano 2000, rezou-se também por Tadeo Ma Daqin, o bispo de Shanghai, de 46 anos, que está em prisão domiciliária no seminário de Sheshan desde 7 de Julho de 2012, dia da sua ordenação episcopal como bispo auxiliar e dia, também, da sua prisão.
Monsenhor Ma, antes bem considerado não só pelo Vaticano mas também pelo partido comunista, que quer decidir as nomeações episcopais na China como fazia o Imperador Henrique IV no século XI, foi preso pela polícia ao terminar a Misa por ter pronunciado estas palavras: «Com esta ordenação, eu consagro o meu coração e a minha alma ao ministério episcopal e à evangelização. Quero dedicar-me a assistir ao bispo (Jin Luxian, que então tinha 96 anos, ndr) e por isto algumas posições que mantenho resultam agora inconvenientes. A partir de agora, portanto, deixo de ser membro da Associação patriótica».
A declaração foi acolhida com um longuíssimo aplauso por parte dos fiéis, mas o partido comunista não a acolheu tão bem.
Uma igreja ao serviço do Partido
A Associação patriótica é um sucedâneo da Igreja católica e foi criada por Mao Zedong em 1958.
Entre os seus fins está o de instituir uma Igreja independente da Santa Sé e do Papa, considerado um chefe de Estado estrangeiro e hostil.
Não é casualidade que Bento XVI a defina um órgão «inconciliável com a doutrina católica».
Sem dúvida, todos os sacerdotes e bispos da China são chamados a aderir à denominada "Igreja oficial", que pretende estabelecer o que tem que ensinar o catecismo, quem deve ser ordenado, que se deve estudar nos seminários e que devem dizer os párocos nas homilias.
Mas Daqin decidiu com valentia obedecer ao Papa e não ao partido comunista e disse-o publicamente a todos os fiéis da diocese de Shanghai.
Uma jaula dourada e "reeducação"
Os oficiais do partido transferiram-no imediatamente para o seminário de Sheshan (ver foto acima), na periferia de Shanghai, para que «descansar» e porque as suas acções «violaram gravemente o regulamento sobre a ordenação episcopal do Conselho dos bispos da China».
Nesta «jaula dourada, quase totalmente isolado», como referiram os testemunhos dos que conseguiram visitá-lo às escondidas «emagreceu, está pálido».
O governo de Shanghai também obrigou a diocese a suspendê-lo, impedindo-lhe a concelebração da Missa durante dois anos e revogando-lhe o cargo de pároco da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em Tangmuqiao. Por último, a Conferência episcopal da igreja católica chinesa, não reconhecida pelo Vaticano porque no estatuto indica como autoridade última uma assembleia democrática de prelados e não o Papa, revogou a Monsenhor Ma o título de bispo auxiliar de Shanghai.
Mas no entanto monsenhor Ma converteu-se em bispo de Shanghai para todos os efeitos. Em 27 de Abril de 2013, de facto, morreu Jin Luxiam, o bispo "patriótico" ordenado em 1985 sem a aprovação do Papa e que se reconciliou com a Igreja em 2005.
Leone Grotti / Tempi.it
Pelo segundo ano consecutivo, durante a comemoração anual dos santos mártires chineses Agustín Zhao e companheiros, canonizados por João Paulo II no ano 2000, rezou-se também por Tadeo Ma Daqin, o bispo de Shanghai, de 46 anos, que está em prisão domiciliária no seminário de Sheshan desde 7 de Julho de 2012, dia da sua ordenação episcopal como bispo auxiliar e dia, também, da sua prisão.
Monsenhor Ma, antes bem considerado não só pelo Vaticano mas também pelo partido comunista, que quer decidir as nomeações episcopais na China como fazia o Imperador Henrique IV no século XI, foi preso pela polícia ao terminar a Misa por ter pronunciado estas palavras: «Com esta ordenação, eu consagro o meu coração e a minha alma ao ministério episcopal e à evangelização. Quero dedicar-me a assistir ao bispo (Jin Luxian, que então tinha 96 anos, ndr) e por isto algumas posições que mantenho resultam agora inconvenientes. A partir de agora, portanto, deixo de ser membro da Associação patriótica».
A declaração foi acolhida com um longuíssimo aplauso por parte dos fiéis, mas o partido comunista não a acolheu tão bem.
Uma igreja ao serviço do Partido
A Associação patriótica é um sucedâneo da Igreja católica e foi criada por Mao Zedong em 1958.
Entre os seus fins está o de instituir uma Igreja independente da Santa Sé e do Papa, considerado um chefe de Estado estrangeiro e hostil.
Não é casualidade que Bento XVI a defina um órgão «inconciliável com a doutrina católica».
Sem dúvida, todos os sacerdotes e bispos da China são chamados a aderir à denominada "Igreja oficial", que pretende estabelecer o que tem que ensinar o catecismo, quem deve ser ordenado, que se deve estudar nos seminários e que devem dizer os párocos nas homilias.
Mas Daqin decidiu com valentia obedecer ao Papa e não ao partido comunista e disse-o publicamente a todos os fiéis da diocese de Shanghai.
Uma jaula dourada e "reeducação"
Os oficiais do partido transferiram-no imediatamente para o seminário de Sheshan (ver foto acima), na periferia de Shanghai, para que «descansar» e porque as suas acções «violaram gravemente o regulamento sobre a ordenação episcopal do Conselho dos bispos da China».
Nesta «jaula dourada, quase totalmente isolado», como referiram os testemunhos dos que conseguiram visitá-lo às escondidas «emagreceu, está pálido».
O governo de Shanghai também obrigou a diocese a suspendê-lo, impedindo-lhe a concelebração da Missa durante dois anos e revogando-lhe o cargo de pároco da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em Tangmuqiao. Por último, a Conferência episcopal da igreja católica chinesa, não reconhecida pelo Vaticano porque no estatuto indica como autoridade última uma assembleia democrática de prelados e não o Papa, revogou a Monsenhor Ma o título de bispo auxiliar de Shanghai.
Mas no entanto monsenhor Ma converteu-se em bispo de Shanghai para todos os efeitos. Em 27 de Abril de 2013, de facto, morreu Jin Luxiam, o bispo "patriótico" ordenado em 1985 sem a aprovação do Papa e que se reconciliou com a Igreja em 2005.
Momento da procissão na ordenação de Ma Daqin... Umas horas depois foi detido |
Roma tem-no claro
Monsenhor Savio Hon, secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, falou claramente desde Roma: «Ma Daqin é o bispo legítimo de Shanghai. A “Conferência dos bispos chineses” eliminou o seu título, mas a Santa Sé precisou que nenhuma conferência episcopal, em nenhuma parte do mundo, tem o poder de eliminar o mandato pontifício. Mais ainda neste caso, no qual a “conferência” não está reconhecida pelo Vaticano».
O partido comunista, por outro lado, declarou a sé vacante por meio de Anthony Liu Bainian, presidente honorário da Associação patriótica: «Enganou os bispos e o governo. Como poderia converter-se em responsável de uma dioceses tão grande como a de Shanghai? Foi corrompido por forças estrangeiras (quer dizer, pelo Vaticano, ndr). Violou as regras da Igreja, mas é uma pessoa dotada de talento e pode ser reabilitada se se arrepende verdadeiramente e reconhece os seus erros».
O erro de Monsenhor Ma Daqin consiste em ter reconhecido a autoridade do Papa contra a do partido comunista de Pequim, segundo o qual a vontade do Vaticano de nomear os bispos na China é uma «ingerência indevida».
Os últimos bispos excomungados
Antes do “caso Ma”, entre 2010 e 2012, o governo chinês interrompeu o diálogo com a Santa Sé através de quatro ordenações legítimas sem a aprovação do Papa: a de Guo Jincai como bispo de Chengde, a de Pablo Lei Shiyin como bispo de Leshan, a de José Huang Bingzhang como bispo de Shantou e a de José Yue Fusheng como bispo de Harbin.
A Santa Sé recordou numa nota que os bispos ilegítimos, e quem os ordenou contra o desejo do Papa, incorrem todos eles na excomunhão segundo o cânone 1382 do Código de Direito Canónico.
Alarga-se a pena domiciliária: querem que ceda
Ma Daqin, para subtrair-se à autoridade comunista, submeteu-se à prisão domiciliária e aos “cursos de estudo” de Pequim.
Descontada a pena de dois anos, parece sem dúvida que o encarceramento continuará em frente, segundo quanto declararam os oficiais do governo num encontro de sacerdotes e religiosas no passado dia 18 de Junho: «Não será libertado porque deve continuar a sua acção de arrependimento e reflexão».
Apesar da perseguição, o espírito do bispo não foi abatido, tal como demonstram as palavras que fez chegar ao Papa Francisco mediante o cardeal José Zen Ze-kiung, bispo emérito de Hong Kong: «Não deixe de pregar a verdade por temor de causar-me problemas».
Também os católicos de Shanghai entenderam o valor do testemunho de Ma. «Podereis restringir a liberdade de Monsenhor Ma, mas não podereis derrubar a sua fé», escreveu em 7 de Julho um fiel no mini-blogue do prelado, no qual se publicam orações e reflexões.
«Podeis ameaçar-nos, mas não podereis mudar a nossa fé. Nós os tratamos com benevolência, mas vós pisoteais a nossa consciência e nos olhais como agitadores. Podeis demolir as nossas igrejas, destruir as nossas cruzes, mas Deus reconstruirá o Seu templo nos nossos corações para sempre».
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
Monsenhor Savio Hon, secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, falou claramente desde Roma: «Ma Daqin é o bispo legítimo de Shanghai. A “Conferência dos bispos chineses” eliminou o seu título, mas a Santa Sé precisou que nenhuma conferência episcopal, em nenhuma parte do mundo, tem o poder de eliminar o mandato pontifício. Mais ainda neste caso, no qual a “conferência” não está reconhecida pelo Vaticano».
O partido comunista, por outro lado, declarou a sé vacante por meio de Anthony Liu Bainian, presidente honorário da Associação patriótica: «Enganou os bispos e o governo. Como poderia converter-se em responsável de uma dioceses tão grande como a de Shanghai? Foi corrompido por forças estrangeiras (quer dizer, pelo Vaticano, ndr). Violou as regras da Igreja, mas é uma pessoa dotada de talento e pode ser reabilitada se se arrepende verdadeiramente e reconhece os seus erros».
O erro de Monsenhor Ma Daqin consiste em ter reconhecido a autoridade do Papa contra a do partido comunista de Pequim, segundo o qual a vontade do Vaticano de nomear os bispos na China é uma «ingerência indevida».
Os últimos bispos excomungados
Antes do “caso Ma”, entre 2010 e 2012, o governo chinês interrompeu o diálogo com a Santa Sé através de quatro ordenações legítimas sem a aprovação do Papa: a de Guo Jincai como bispo de Chengde, a de Pablo Lei Shiyin como bispo de Leshan, a de José Huang Bingzhang como bispo de Shantou e a de José Yue Fusheng como bispo de Harbin.
A Santa Sé recordou numa nota que os bispos ilegítimos, e quem os ordenou contra o desejo do Papa, incorrem todos eles na excomunhão segundo o cânone 1382 do Código de Direito Canónico.
Alarga-se a pena domiciliária: querem que ceda
Ma Daqin, para subtrair-se à autoridade comunista, submeteu-se à prisão domiciliária e aos “cursos de estudo” de Pequim.
Descontada a pena de dois anos, parece sem dúvida que o encarceramento continuará em frente, segundo quanto declararam os oficiais do governo num encontro de sacerdotes e religiosas no passado dia 18 de Junho: «Não será libertado porque deve continuar a sua acção de arrependimento e reflexão».
Apesar da perseguição, o espírito do bispo não foi abatido, tal como demonstram as palavras que fez chegar ao Papa Francisco mediante o cardeal José Zen Ze-kiung, bispo emérito de Hong Kong: «Não deixe de pregar a verdade por temor de causar-me problemas».
Também os católicos de Shanghai entenderam o valor do testemunho de Ma. «Podereis restringir a liberdade de Monsenhor Ma, mas não podereis derrubar a sua fé», escreveu em 7 de Julho um fiel no mini-blogue do prelado, no qual se publicam orações e reflexões.
«Podeis ameaçar-nos, mas não podereis mudar a nossa fé. Nós os tratamos com benevolência, mas vós pisoteais a nossa consciência e nos olhais como agitadores. Podeis demolir as nossas igrejas, destruir as nossas cruzes, mas Deus reconstruirá o Seu templo nos nossos corações para sempre».
(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)
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