Dom Tomasi aborda em entrevista a tragédia que a Europa vive no Mar Mediterrâneo
Cidade do Vaticano, 21 de Agosto de 2014 (Zenit.org)
Imigrantes mortos no mar em barcas que, em vez de veículos
de esperança, têm sido veículos da tragédia. “Desde que li num jornal
essas palavras, faz algumas semanas, e palavras que, infelizmente, se
repetem tantas vezes, o meu pensamento retornou continuamente a esse
assunto, que é como um espinho no coração. E eu senti que tinha que vir
hoje aqui rezar, realizar um gesto de solidariedade, mas também
despertar as nossas consciências para que isto que aconteceu não se
repita. Que não se repita, por favor”.
Mais de um ano já se passou desde que o papa Francisco pronunciou
essas palavras na ilha italiana de Lampedusa, que sofre intensamente o
drama dos naufrágios de embarcações precárias em que viajam imigrantes
clandestinos vindos da África rumo à Europa. Um drama que continua vivo,
com um número crescente de imigrantes que perdem a vida no Mar
Mediterrâneo.
A Comissão Europeia afirmou que é impossível conceder novas ajudas
para que o governo italiano lide com os desembarques constantes em sua
costa. A este respeito, dom Silvano Maria Tomasi, observador permanente
da Santa Sé perante as Nações Unidas em Genebra, declarou em recente
entrevista à Rádio Vaticano que cerca de 23 mil imigrantes morreram
entre os anos de 2000 e 2013 na tentativa de chegar aos pontos de
entrada na Europa: a Grécia, a ilha italiana de Lampedusa, o arquipélago
espanhol das Canárias e o sul da Espanha peninsular.
"A globalização da indiferença tem que ser vencida diante desta
tragédia europeia. E nós nem sequer conhecemos as vítimas anónimas, que
não são contabilizadas pelos organismos de controle e de vigilância das
fronteiras. Existe o risco de nos acostumarmos com as notícias desses
barcos que arrastam água abaixo pessoas e famílias com crianças, que
investiram tudo para buscar uma vida digna", denuncia o prelado.
Tomasi recorda que a solidariedade não pode ser apenas uma teoria.
"Diante da evidência da necessidade dos países europeus de mão-de-obra e
de fortalecimento demográfico para manter a economia eficiente e a
influência política, fazer dos imigrantes o bode expiatório das
frustrações sociais e manipulá-los para atingir objectivos eleitorais se
transforma numa estratégia, num mecanismo desonesto que promove o medo
do outro e o preconceito. O resultado é a redução do imigrante a uma
pessoa de segunda classe".
Dom Silvano Tomasi afirma que o primeiro passo para a solução é a
"aplicação coerente das regras já definidas" e "o respeito dos
instrumentos de protecção já em vigor". Para os países ricos, também é
necessária "a aceitação da Convenção Internacional sobre a Protecção dos
Trabalhadores Migrantes e das suas Famílias, que foi aprovada pela ONU
em 1990 e entrou em vigor alguns anos mais tarde".
O observador vaticano considera um passo correto a decisão do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados de abordar em Dezembro, no seu "Diálogo Internacional", a questão da protecção no mar,
já que "o Mediterrâneo não é o único local de tragédias de imigração".
Para uma gestão eficaz do complexo sistema migratório no Mar
Mediterrâneo, seria necessário que a Europa fosse até a raiz do problema
e tomasse "medidas mais razoáveis, permitindo que os imigrantes em
necessidade viessem à Europa legalmente e de forma ordenada", conclui o
prelado.
(21 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
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