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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Vítimas da violência na Colômbia dão seu depoimento diante das FARC e do governo

Reuniões de Havana: um apelo pelo fim do círculo de violência


Roma, 19 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora


Doze familiares de colombianos vitimados pelos guerrilheiros, paramilitares, grupos ilegais e militares corruptos do país deram seu depoimento durante nove horas diante de guerrilheiros das FARC e de representantes do governo colombiano, reunidos em Havana para dar andamento às rodadas de negociações de paz.

Eles fazem parte do primeiro dos cinco grupos escolhidos pela ONU, pela Universidade Nacional da Colômbia e pela Conferência Episcopal da Colômbia. Na capital de Cuba, ao iniciar a nova jornada de reuniões, vítimas e agressores se deram as mãos e respeitaram um minuto de silêncio.

O processo de diálogo teve início há 17 meses. Houve acordos em questões ligadas ao campo, às drogas e à participação política dos guerrilheiros, embora os detalhes dos acordos ainda não sejam públicos e devam ser aprovados ou reprovados pelo Congresso da Colômbia.

Constanza Turbay, cuja mãe, dois irmãos e mais cinco familiares foram assassinados pelos guerrilheiros das FARC, interrogou: “Se nós, que fomos afectados pela violência, damos um passo determinante (...), por que o resto do país não pode fazer o mesmo? Por que o resto da Colômbia não pode perdoar também?”. Constanza acrescentou que o líder das FARC Iván Márquez “se aproximou e me pediu perdão; ele me disse que eles erraram”.

José Darío Antequera viu seu padre, o líder esquerdista José Antequera, ser assassinado por paramilitares. “Eu já perdi tudo, mas podemos fazer muito, em honra de todos os nossos entes queridos que nós já perdemos, para reconstruir a paz e a reconciliação na Colômbia”.

Entre os presentes, estava também Ángela María Giraldo, irmã do deputado Francisco Javier Giraldo, sequestrado e mantido em cativeiro na selva durante cinco anos e depois assassinado pelas FARC. Ela declarou: “Temos um compromisso grande com o nosso país e este sentimento está acima dos nossos sentimentos pessoais”.

O bispo de Cúcuta, dom Julio César Vidal Ortiz, reiterou, poucos dias antes, em 13 de Agosto, o compromisso da Igreja na Colômbia com a reconciliação e a paz no país.

Após a sua participação na Assembleia Extraordinária dos Bispos, de 11 a 13 de Agosto em Bogotá, o prelado afirmou que a Igreja católica colombiana "se preocupa com a situação actual do país e com tudo o que tem que ver com o pós-conflito". Por isso, o episcopado colombiano vem trabalhando em uma Pastoral da Reconciliação e da Paz.

"Sempre acompanhamos os vários processos em favor da paz, mas agora estamos comprometidos de maneira mais radical em favor das vítimas e de tudo o que o governo e os guerrilheiros devem oferecer para que a nossa sociedade não continue se corrompendo moralmente a ponto de ser incapaz de aclimatar a paz".

"Temos certeza de que os diálogos em Havana são um passo fundamental para caminharmos rumo à paz, mas a Colômbia sofre com muitas coisas que a levam à decomposição moral, que impedem que realmente haja paz. Questões como, por exemplo, a corrupção, a injustiça social, a mineração, a saúde, a educação, são aspectos que nos preocupam. E não nos esqueçamos dos milhões de vítimas (…) Também nos preocupa o risco de que essas feridas que estão abertas em muitas pessoas, homens, mulheres, jovens, crianças de todo o país, não sarem, mas continuem abertas e gerando mais violência".

O desenvolvimento e a aplicação da Pastoral da Reconciliação e da Paz implicará a articulação de vários sectores sociais, disse o prelado, precisando: "Queremos separar o nosso trabalho do governo e dos diálogos de Havana, porque não queremos isto que seja politizado (...) A paz é de todos os colombianos e todos nós temos que trabalhar para consegui-la”.

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