Reuniões de Havana: um apelo pelo fim do círculo de violência
Roma, 19 de Agosto de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Doze familiares de colombianos vitimados pelos
guerrilheiros, paramilitares, grupos ilegais e militares corruptos do
país deram seu depoimento durante nove horas diante de guerrilheiros das
FARC e de representantes do governo colombiano, reunidos em Havana para
dar andamento às rodadas de negociações de paz.
Eles fazem parte do primeiro dos cinco grupos escolhidos pela ONU,
pela Universidade Nacional da Colômbia e pela Conferência Episcopal da
Colômbia. Na capital de Cuba, ao iniciar a nova jornada de reuniões,
vítimas e agressores se deram as mãos e respeitaram um minuto de
silêncio.
O processo de diálogo teve início há 17 meses. Houve acordos em
questões ligadas ao campo, às drogas e à participação política dos
guerrilheiros, embora os detalhes dos acordos ainda não sejam públicos e
devam ser aprovados ou reprovados pelo Congresso da Colômbia.
Constanza Turbay, cuja mãe, dois irmãos e mais cinco familiares foram
assassinados pelos guerrilheiros das FARC, interrogou: “Se nós, que
fomos afectados pela violência, damos um passo determinante (...), por
que o resto do país não pode fazer o mesmo? Por que o resto da Colômbia
não pode perdoar também?”. Constanza acrescentou que o líder das FARC
Iván Márquez “se aproximou e me pediu perdão; ele me disse que eles
erraram”.
José Darío Antequera viu seu padre, o líder esquerdista José
Antequera, ser assassinado por paramilitares. “Eu já perdi tudo, mas
podemos fazer muito, em honra de todos os nossos entes queridos que nós
já perdemos, para reconstruir a paz e a reconciliação na Colômbia”.
Entre os presentes, estava também Ángela María Giraldo, irmã do
deputado Francisco Javier Giraldo, sequestrado e mantido em cativeiro na
selva durante cinco anos e depois assassinado pelas FARC. Ela declarou:
“Temos um compromisso grande com o nosso país e este sentimento está
acima dos nossos sentimentos pessoais”.
O bispo de Cúcuta, dom Julio César Vidal Ortiz, reiterou, poucos dias
antes, em 13 de Agosto, o compromisso da Igreja na Colômbia com a
reconciliação e a paz no país.
Após a sua participação na Assembleia Extraordinária dos Bispos, de
11 a 13 de Agosto em Bogotá, o prelado afirmou que a Igreja católica
colombiana "se preocupa com a situação actual do país e com tudo o que
tem que ver com o pós-conflito". Por isso, o episcopado colombiano vem
trabalhando em uma Pastoral da Reconciliação e da Paz.
"Sempre acompanhamos os vários processos em favor da paz, mas agora
estamos comprometidos de maneira mais radical em favor das vítimas e de
tudo o que o governo e os guerrilheiros devem oferecer para que a nossa
sociedade não continue se corrompendo moralmente a ponto de ser incapaz
de aclimatar a paz".
"Temos certeza de que os diálogos em Havana são um passo fundamental
para caminharmos rumo à paz, mas a Colômbia sofre com muitas coisas que a
levam à decomposição moral, que impedem que realmente haja paz.
Questões como, por exemplo, a corrupção, a injustiça social, a
mineração, a saúde, a educação, são aspectos que nos preocupam. E não
nos esqueçamos dos milhões de vítimas (…) Também nos preocupa o risco de
que essas feridas que estão abertas em muitas pessoas, homens,
mulheres, jovens, crianças de todo o país, não sarem, mas continuem
abertas e gerando mais violência".
O desenvolvimento e a aplicação da Pastoral da Reconciliação e da Paz
implicará a articulação de vários sectores sociais, disse o prelado,
precisando: "Queremos separar o nosso trabalho do governo e dos diálogos
de Havana, porque não queremos isto que seja politizado (...) A paz é
de todos os colombianos e todos nós temos que trabalhar para
consegui-la”.
(19 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário