Iniciamos este artigo polémico com
palavras recolhidas do livro do Papa Bento XVI, “A Contracorriente y por Amor”[1] : ao escrever a
encíclica Humanae Vitae, Paulo VI “tinha a intenção de defender o amor contra a
sexualidade como consumo, o futuro contra a pretensão exclusiva do presente e a
natureza do homem contra a sua manipulação”.
A encíclica atrás nomeada foi muito
contestada meio século atrás, mas revelou-se profética como se constata na
frase do Papa emérito recolhida no parágrafo anterior. Mas a Humanae Vitae ou melhor, os ensinamentos
de Jesus Cristo recolhidos e entendidos pelos apóstolos e centenas de anos de
tradição, continuam a produzir frutos admiráveis de humanidade e amor, unindo
fé e ciência. Conversas recentes sobre dois factos, acontecidos em países
diferentes, um no final do séc. XX, e outro já no séc. XXI, mereceram a nossa
atenção. Aqui os resumo, numa só história, escondendo nomes e contextos.
Camila e Zenão esperavam o seu sexto
filho, mas bem cedo foram informados de que a gravidez era de alto risco e o
bebé, se chegasse ao final da gestação, teria poucas probabilidades de
sobreviver ao parto devido às múltiplas deformidades do seu débil corpo. Os
pais tinham uma prioridade: que o seu filho nascesse com vida para poder ser
batizado e pediram ao médico que os
ajudasse, com a sua ciência, a alcançar esse objectivo. E conseguiram! Foram
longas semanas de oração e sacrifícios em que toda a família esteve empenhada.
Rezava-se o terço em família, pais e filhos, e estes comiam coisas que não lhes
agradavam. Irmãos e cunhados apareciam por casa e ajudavam nas compras e
tarefas domésticas. O médico seguia com atenção a vitalidade do feto.
Combinou-se optar por uma cesariana na esperança de o bebé nascer com vida. E
chegou o grande dia.
Uma “pequena grande” equipa de pessoas
emocionadas esperava o final da cesariana: cirurgiões, anestesista,
instrumentista, enfermeiros, familiares e um sacerdote. Aquela pessoa minúscula
e deformada estava viva. Foi batizada e crismada pelo sacerdote consciente de
que estava a participar, a ser ministro, de mais uma das misericórdias de Deus.
Testemunhou o carinho que rodeou aquela criança durante as suas breves horas de vida. Pais e irmãos puderam abraçá-la,
e beijá-la, e tirar fotografias com ela. Médicos e enfermeiros empenharam-se em
enobrecer a sua profissão ao serviço da vida; estavam emocionados ao
consciencializar que tinham colaborado na missão de dar a Vida, aquela que dá sentido
à vida e à morte.
Dois dias depois, foi celebrada a Missa
de corpo presente. Ali estava toda a família, o pároco que batizara o bebé, médicos
e enfermeiros, amigos, e até professores e o coro dos colégios onde andavam os
irmãos. O luto era diferente de todos os outros. Estava ali o corpo de alguém
que fora um dos filhos prediletos de Deus e dos homens. Nem ideologias, nem
política, nem ambiente abortista, nem leis puderam algo contra esta pessoa.
Parecia indefesa, mas teve a seu favor a ciência e, sobretudo, uma enorme
manifestação de Amor: a contagiante paternidade responsável de seus pais.
Isabel Vasco Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário