Há quase sempre uma música que
nos preenche o coração com a qual nos identificamos ou que foram um marco na
nossa vida. Comigo aconteceu há muitos anos com a música “Strangers in The Nigth” cantada por Frank Sinatra. Pela primeira vez, os pais autorizaram que fosse
passar umas férias, sozinha em casa de familiares. Nunca mais vou esquecer a
sensação de liberdade, de ter alcançado alguma independência. Foi a primeira
vez que sai à noite com os tios e primos. Fomos tomar café a um forte sobre a
praia. Havia um maravilhoso cheiro a maresia. O encanto de uma noite, com o céu
repleto de estrelas à descoberta de novos horizontes, do futuro. Recordo que
havia o som de uma música, que me marcou particularmente, ou seja, Strangers in the Nigth. Apercebi-me que
tinha crescido, que tinha deixado a infância, agora adolescente, em convívio sadio
com os primos, com os quais confraternizava longamente, discutindo o nosso
futuro, os nossos sonhos, as nossas aspirações. E foram assim aquelas
miniférias. Mais tarde regressaria com a família ao local, sem contudo, achar
que possuía o mesmo encanto. Muitas vezes penso que não devemos voltar ao local
onde fomos felizes, deve permanecer assim na memória. As circunstâncias são
diferentes. Recordo também que uma vez fui, na companhia de uma minha irmã,
assistir a uma ópera na cidade de Viena, na Staats
Oper denominada Nabucco, de Giuseppi Verdi. O mais bonito coro dos
Escravos Hebreus, a ária Va Pensiero… que alguma vez ouvimos. Uma
acústica fantástica. Uma noite maravilhosa que não esqueceríamos jamais. Tudo
era bom, o cenário, a força do coro, a acústica, o local, o tempo que
vivenciávamos, livre de grandes preocupações, de angústias, de doenças… Na
verdade através da música alcançamos a liberdade. Algum tempo mais tarde ao
visitarmos a cidade de Praga, constatámos que a mesma ópera se encontrava em
exibição. Não resistimos e fomos assistir. Uma desilusão. Não tinha o mesmo
brilho, o mesmo impacto, o mesmo guarda-roupa… Tudo tem o seu momento, o seu
encanto, o seu contexto. Não que o espetáculo fosse de fraca qualidade.
Unicamente as expetativas em termos de comparação eram muito altas. Logo, tudo
tem o seu momento, a sua influência em nós.
E o que me deu o mote para
escrever este artigo, foi a frase de uma amiga, que referia a música All you need is love, como algo que
muito a tinha sensibilizado, sendo a frase muito atual. Esta minha amiga, que
possuí uma veneração enorme a Nossa Senhora, comentou que se tornava necessário
santificar as nossas angústias, voltando-nos para Jesus cheios de confiança,
solicitando que nos console e anime por intercessão de Maria, Virgem
prudentíssima, que nos foi concedida a graça de ter aparecido aos pastorinhos
em Fátima, nestas terras de Santa Maria, em que apelou no dia 13 de maio de
1917, que se rezasse o rosário todos os dias para se alcançar a paz no mundo e
o fim da guerra.
Outro momento que vivenciei e que
também não esquecerei, foi relativo ao canto gregoriano, teve lugar no Rio de
Janeiro, há uns anos atrás, na belíssima Igreja abacial em estilo barroco, do
Mosteiro de São Bento, datada de 1590, fundada por dois monges portugueses, “O
mais belo monumento colonial que o Brasil possui”. Dom Marcos Barbosa escreveu:
“Flor de pedra e de prece na colina, lugar alto de paz e de silêncio, onde a
cidade para de repente e se ajoelha no chão de antigos túmulos… Palpitam na
penumbra asas de arcanjos, bispos e reis na talha abrem seus braços, e a Virgem
do seu trono, entrega o Filho”… Foi por ocasião da Páscoa, numa deslocação ao
Brasil, participando inesperadamente na mais bela e longa cerimónia da Vigília
Pascal a que alguma vez assisti na companhia de um dos meus filhos que estudava
então neste país da lusofonia. Na verdade cantar é rezar duas vezes. Também a
arte e a cultura preenchem o nosso coração.
Não posso concluir este artigo
sem referir os belíssimos Coros do Vaticano que abrilhantam as cerimónias na
Basílica de São Pedro ajudando-nos a rezar, proporcionando uma melhor
interiorização e meditação espiritual. Recordo igualmente os momentos passados
na Praça de São Pedro, por ocasião do Natal, quando na companhia da família
íamos observar a árvore de Natal e, sobretudo, o Presépio, ao som da música Adeste Fideles, que ecoava nessa Praça.
Belíssimo! Ainda hoje comentam esses momentos inesquecíveis. Graças a Deus, que
os podemos vivenciar, para hoje em dia recordar. “Mãe, gloriosa Virgem Maria,
que sois a mais bela estrela da nossa vida, Porta do Céu, como vos queremos
bem. Protegei-nos sob o vosso manto glorioso, concedei-nos a paz interior e
exterior. O nosso coração suspira por vós, ama-vos, que sois a mais bela canção
de sempre”, não permitindo que sejamos estranhos na noite, mas sim mulheres e
homens muito amados de Jesus.
Maria Helena Paes |
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