Dentre as tantas
invejas de que eventualmente padecemos e presenciamos, uma delas é aquela
relacionada à capacidade superior dos outros. Pode-se invejar a beleza, a
juventude, o poder, a riqueza, mas todas estas qualidades se perdem ou podem
desaparecer. O saber e o talento, contudo, desde que livres das doenças do
envelhecimento, não se perdem e por isto o invejoso não satisfará seu desejo de
aniquilação daquilo que inveja. Terá de suportar a superioridade de outrem até
a extinção física, do invejado ou do invejoso. Saber e talento são
características de elite, seja no desporto ou em qualquer terreno da atividade
humana.
A palavra elite,
entretanto, provoca arrepios em alguns. Sofre implacável perseguição das
esquerdas, no terreno político, que lhe prometem guilhotina, cicuta e pelotão
de fuzilamento. Quando um de seus rancorosos representantes não têm maiores
recursos para atacar o objeto de sua ira, seja ele qual for, apela para as
elites, culpadas pelos males passados e vindouros. É engraçado que se fale da
elite do futebol como algo óbvio e elogioso - quando se fala da Champions
League, por exemplo-, e não se acolha a palavra elite no terreno social. Esta é
apenas mais uma das tantas inconsistências de quem prega o igualitarismo ao
mesmo tempo em que assume o discurso da diversidade. Não somos iguais, nem gémeos univitelinos o são. E isto é maravilhoso. E se assim não o fosse, Deus
não teria criado o mundo desta forma.
Sobretudo nas
cidades pequenas é comum que um café no centro das mesmas seja local de
encontro, de troca de informações e mesmo de maledicentes fofocas. Nossa vila
não é diferente. Teobaldo passa horas na calçada. Vez por outra até entra e
toma um café. Paga por ele, mas prefere o diz-que-diz. Porque é gratuito, perigosamente
gratuito. Sempre que um conhecido se aproxima, olha automaticamente para os
dois lados e se aprochega para contar a última ... Nunca multiplica um elogio,
antes desanca o mundo. Suas críticas têm a crueza das Catilinárias. É pau e
pedra para todo lado. Tudo, é claro, para consertar a vila, o país e o universo
...
Teobaldo não tem
a menor ideia do que seja murmuração e parece desconhecer que jacaré não entrou
no Céu porque tem a boca grande. Ainda que soubesse, estaria disposto a
imolar-se pelo bem da vila! E do mundo! Dias atrás me disse que sabia quando a
Varig começou a decair. Aguçou minha curiosidade, justo eu que deploro até hoje
termos assistido, sentados, a agonia de uma companhia que teve respeito
internacional. Sua opinião é convicta, mas vaga. Segundo ele, tudo se deu
porque os descendentes de alemães foram embora! Não rebati, seja por
desconhecer os meandros da companhia, seja porque Rubem Berta não parece ter a
origem enaltecida. Mas acho que entendi o que pretendeu transmitir: a companhia
começou a declinar quando a busca da perfeição, a laboriosidade e o rigor
administrativo foram para o espaço.
Não percebi um
desdém por descendentes de italianos e portugueses ou mesmo por brasileiros mas
sim, creio, o elogio a uma elite funcional. Por quase três décadas trabalho com
alemães e aprendi a admirá-los no que diz respeito à dedicação, ao capricho e ao
profissionalismo. Por conta disto não posso simplesmente desconsiderar o
comentário de Teobaldo.
Lembrei então do que
li algures sobre o Egipto. Aquele país do norte da África viveu dias melhores
quando governado pela minoria copta, à qual pertencia Bouthros-Gali, político e
secretário geral das Nações Unidas na década de noventa. Atualmente os coptas
são alvo frequente de perseguições e atentados, o que os empurra para outros
países. Sem a elite copta o Egipto saiu de Hosni Mubarak para cair nas mãos da
Irmandade Muçulmana e agora está mergulhado numa ditadura, sob o tacão de
militares encabeçados pelo marechal Al-Sissi.
“Quando eles se foram” pode ser título de
muita coisa que se vê quando os melhores, os mais capazes, os mais fortes, são
achincalhados em decorrência de causas injustificadas. O discurso contra as
elites têm o condão de intimidar iniciativas, empreendimentos e a melhor gestão.
Não se eleva a mediocridade com isto, antes se rebaixa o que era bom. E nem
precisamos ir longe para constatar esta realidade. Olhe à sua volta e responda
se predominam bons gestores públicos ou se estes constituem exceção. Não podemos
jamais prescindir dos melhores, em campo algum da atividade humana. O preço é
muito alto. E o estamos pagando com juros ...
J. B. Teixeira |
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