1 - Com a Solenidade do Pentecostes, completam-se os 50 dias da
Páscoa. A Igreja, nascida do lado de Cristo, o novo Adão, adormecido na Cruz,
recebeu no Pentecostes o Espírito Santo que Jesus lhe prometera enviar. Ele veio,
de facto, e libertou do medo os Apóstolos, suscitou neles a Palavra e
abriu-lhes as portas para que saíssem e anunciassem o Evangelho ao povo de
Israel e aos povos do mundo inteiro. Essa pregação vigorosa, o Querigma que
anuncia a Morte e a Ressurreição do Senhor Jesus, converteu muitos daqueles que
a escutaram e manifestou ao mundo a
Igreja nascente, viva e atuante em Jerusalém. Esse acontecimento, o
Pentecostes, inaugurou o tempo da Igreja, os últimos tempos, nos quais o
Espírito a guia, na sua missão evangelizadora, para anunciar e preparar a
segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos. E assim o Pentecostes, no qual se completa
a Páscoa de Jesus com o dom do Espírito Santo, é também a festa da Epifania da
Igreja, da sua manifestação ao mundo.
No texto do livro dos Atos dos Apóstolos que nos será oferecido como
primeira leitura na celebração do próximo domingo, S. Lucas descreve o
Pentecostes como o remédio e a cura para a confusão das línguas, originada na
Torre de Babel. De facto, em Jerusalém, a linguagem suscitada pelo Espírito
Santo na pregação dos Apóstolos é entendida por todos os presentes, vindos das
mais variadas partes do mundo.
2 - Mas quem é o Espírito Santo?
Em todo o Antigo Testamento, o Espírito Santo manifesta-Se como o
Sopro de Deus criador e vivificante, como uma força divina, como um dinamismo novo
que se apodera de alguém chamado por Deus a exercer uma missão profética,
política ou sacerdotal em favor do povo de Israel, e que o capacita para essa
missão.
Mas, no Evangelho, Jesus promete enviar o Espírito Santo e fala d’Ele
como Pessoa Divina que guiará, ajudará e defenderá os que n’Ele creem, porque
vive neles. No Evangelho segundo S. João que escutaremos no próximo domingo,
podemos ver que, na primeira aparição do Senhor ressuscitado aos discípulos, é
o próprio Jesus quem lhes comunica o Espírito Santo, soprando sobre eles. Isto,
depois de lhes ter dado o perdão dos pecados e a Sua paz, e de os ter enviado a
anunciar esta boa nova do perdão ao mundo inteiro.
O Espírito Santo é Deus. É a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é
Deus Amor em pessoa. Diz S. Bernardo em um dos seus famosos sermões sobre o
Cântico dos Cânticos que, se imaginamos o Pai beijando o Filho, o Espírito
Santo é esse beijo de ambos. N’Ele e com Ele, o Pai e o Filho são um único Deus.
É por Ele que o Pai e o Filho vêm habitar no coração de quem guarda com amor as
palavras de Jesus. É Ele que dá testemunho de Jesus e do Pai e, por isso, sem
Ele não há cristianismo nem verdadeira evangelização. Toda a vida cristã tem
como grande objetivo receber o Espírito Santo, sem o Qual não podemos adorar a
Deus, nosso Pai, nem reconhecer Jesus como Filho de Deus e nosso Senhor. Como
diz S. Paulo, na segunda leitura tirada da primeira epístola aos Coríntios, ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor», a não
ser pela ação do Espírito Santo. E, na Carta aos Romanos, S. Paulo afirma
que o Espírito de Deus Se une ao nosso
espírito para dar testemunho de que somos filhos de Deus. E como não
sabemos pedir como convém, é o próprio Espírito Santo, o verdadeiro Mestre da
Oração, que em nós vem orar, dizendo as mesmas palavras da oração do Senhor
Jesus, quando estava no mundo: Abba, ó Pai (Cf. Rm 8,15-16)! Todo aquele que
escuta a Palavra e recebe os Sacramentos da Igreja, todo aquele que tendo renunciado
ao pecado e ao demónio recebe o Espírito Santo, deixa de viver segundo a carne
para viver, como filho de Deus, a vida segundo o Espírito. Cultivando os dons
do Espírito Santo, a Sapiência, o Entendimento, o Conselho, a Fortaleza, a
Ciência, a Piedade e o Temor de Deus, vê aparecerem na sua vida os frutos do
Espírito: a paz, a alegria, a paciência, o autodomínio, etc.
3 – Creio no Espírito Santo! A nossa conversão pessoal, a renovação da
Igreja e a transformação do mundo dependem, fundamentalmente, de como vivemos
esta profissão de fé. Porque o Espírito Santo é a alma da Igreja, demos a Deus
o que é de Deus! É necessário que a Igreja, presente neste mundo tão
materialista, invoque e dê glória ao
Espírito Santo e se deixe conduzir por Ele, chamado por Jesus o Mestre da
Verdade pois tem a missão de nos guiar para a verdade plena (Jo 16,13).
São muitos os dons espirituais,
mas o Espírito é o mesmo (1 Cor 12,4). Numa Igreja como a Igreja Católica,
com tantos carismas e com tantas expressões diferentes, deveremos sempre ter
presente que a fonte de todos eles é o mesmo Espírito. Ele é, também, na vida
presente, o Deus-connosco. Vive em nós pela fé e guia-nos no caminho do
discipulado, para tornar fecundas as nossas vidas, e assim Deus Pai ser
glorificado em nós.
+ J. Marcos
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