Páginas

domingo, 30 de junho de 2019

Direitos muito tortos


         A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi proclamada a 10 de dezembro de 1948, após uma cuidadosa redação, feita por um grupo heterogéneo de filósofos, entre os quais se encontravam o francês Jacques Maritain, Eleanor Roosevelt, o libanês Charles Malik e o chinês Peng-chu Chang. Conseguiram chegar a uma pequena lista daqueles que lhes pareceram poder ser considerados direitos universais, e “também previram as dificuldades que esta sua empresa enfrentaria: a sua submissão às variações da política, a sua dependência dos modos comuns de entender que se revelariam escorregadios, a sua concretização em ideias de liberdade e solidariedade...”[1]

     No início, a DUDH foi bem acolhida e os Direitos apresentavam-se bastante “direitos” e universais, isto é, defendiam uma norma de sempre: fazer aos outros o que se deseja para si, como sejam o direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal, ao reconhecimento como pessoa perante a lei, à igualdade de direitos em espírito fraterno sem distinção de raça, cor, sexo, religião, língua, opinião política... nascimento.

         Cinquenta anos volvidos, a humanidade já padece do não cumprimento desses direitos ou das suas interpretações retorcidas: O direito à vida deu lugar ao que o Papa João Paulo II chamou uma “mentalidade de morte” legalizada: aborto, eutanásia, suicídio assistido. O direito ao reconhecimento como pessoa está a dar lugar à perda de identidade sexual. Estes pontos são de primordial importância, pois afetam pessoas inocentes  começando pelas crianças, mas envolvendo toda a sociedade que sofre injustamente inúmeros problemas sociais: população envelhecida, falta de reconhecimento pelo trabalho de formação e educação de pais e professores, comportamentos imaturos e agressivos, falta de maturidade nos adultos, falta de honestidade e ajuda mútua no exercício do trabalho profissional, corrupção a larga escala em vários níveis sociais...    

         Não podemos esquecer que todos recebemos muitos bens sem termos direito a eles como por exemplo as ofertas e, sobretudo, a alimentação, vestuário, habitação, educação... durante a infância. A própria vida não é um direito, é um dom paternal e divino, previsto desde toda a eternidade. Por isso, desde que uma nova vida é concebida, não deve ser permitido arrebatá-la em nenhum momento, de nenhum modo. Assim, a vida deve ser respeitada, desenvolvida e amparada a todo o momento. Em tempos de eleições, e este é um deles, devemos pensar com maior profundidade nestes assuntos. Reparemos que as políticas que defendem o divórcio, já por si constituem um ataque à tranquilidade do país, começando pela da vida do casal, seus filhos, pais, irmãos, amigos... As pessoas que defendem o divórcio são traidores em potência: dizem amar, mas com a porta aberta ao ódio e ao abandono das suas responsabilidades como cônjuges e pais, mas não só. Esta manifestação de egoísmo, ou imaturidade, pesará sobre os familiares que irão cuidar das crianças. Estes cuidados são geralmente deficitários. O divórcio, a falta de ajuda mútua, arrasta consigo carências económicas e não só. A educação dos avós, já cansados, não pode ter a qualidade da que é  prestada pelos pais. E não é justo também que essa tarefa recaia sobre eles por causa de um divórcio. Mas é justo e gratificante que apoiem os filhos nas necessidades de vários tipos.

         Na eminência de eleições europeias, estaremos capazes de distinguir os “Direitos direitos” dos “Direitos tortos”? Conseguiremos fazer uma pausa nas atividades habituais e ter a honestidade de reconhecer que existem verdades não opináveis e universais como o bem e o mal, o bem-estar e o sofrimento, a justiça e a injustiça...? Que poucos são os partidos, se é que haja algum, capazes de merecerem  a nossa esperança pela vinda de um mundo melhor.


Isabel Vasco Costa
----------------------------------------------
[1] “70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, de Mary Ann Glendon, Nuestro Tiempo nº 701, pg. 108



Sem comentários:

Enviar um comentário