Um tsunami chamado Deus abateu-se
sobre os três pastorinhos que viviam pastoreando o seu gado. E logo essas três
crianças tão pequenitas, paupérrimas, analfabetas e num lugar fora de qualquer
lugar-comum, um lugarejo perdido no tempo e no espaço, onde, em jeito de um
super show de raios laser é prenúncio
de uma Senhora, vestida de branco, mais brilhante do que o Sol, a surgir sobre
uma azinheira, como se, se desprendesse do céu para vir ao seu encontro.
Intensas
experiências místicas foram vividas até à exaustão naqueles tempos, em que o
mundo se abatia sob uma guerra de inexplicável crueldade e que se preparava
para viver uma revolução sanguinária, como viria a ser a revolução bolchevique.
A mensagem
de Nossa Senhora tem uma forte carga política e na terceira aparição deixa um
apelo aterrador, cheio de acontecimentos surpreendentes, misteriosos,
dramáticos, metafísicos, com efeitos especiais e com uma visão global dos
acontecimentos mais relevantes da história do século XX. Fala da primeira
guerra mundial e do seu fim, da segunda guerra mundial, devastadora, iniciada
por uma das expressões máximas do diabo na terra, Hitler, seguida de
atmosférica arrasadora, como se o céu se transformasse num cogumelo vermelho,
devido ao impacto das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui. Por fim o
comunismo ateu e a guerra fria.
Segredos,
mistérios, embaixadas celestiais, especulações financeiras, burlas ou milagres,
enchem a imprensa de então, muito controlada pelos ideais republicanos e lojas maçónicas.
Enfim, sentem chegada a ameaça do sobrenatural ao poder laico…
Quando já
tudo parecia desabar, chegou o fatal dia 13 de outubro de 1917, em que até o
Sol bailou, rodopiou, ao meio-dia, perante o olhar atónito e aterrado de
milhares de peregrinos.
Com uma tão
grande multidão não foi mais possível sonegar, até porque o repórter estava lá
– Avelino de Almeida, tão bom jornalista como homem céptico, embora muito sério
no seu trabalho de escrever sobre os factos, e a sua crónica sobre o que viu
saiu na primeira página de O Século, comprovada pelas fotos de Judah Ruah, um
judeu e um brilhante fotógrafo, seu companheiro de trabalho. Foi um feito
irreversível, para além de ser de origem divina, a verdade já circulava de
lés-a-lés do país.
Quem nos dá
conta de tudo isto e muito mais é Manuel Arouca no seu livro JACINTA – A
PROFECIA. Esta
obra não é só a
biografia de um dos três videntes de Fátima, mas vai além dos factos
contados ao longo dos tempos. Reconstrói os ambientes, devolve-nos
à memória a vida no país rural de então, leva-nos numa viagem através
da capacidade humana de resistir, sobreviver em nome da fé, acreditar e confiar.
Sem
rodeios, frontal e elegantemente irónico, Manuel Arouca reconstrói esta
história, de uma forma profundamente humana, muito fresca, elegante, com um
fantástico sentido de humor e também muito amor à verdade, frontalidade e dom
de comunicar, como já nos habituou nos seus muitos trabalhos e documentários.
Por mais
que já tenhamos lido sobre o tema, se nada dele soubermos ou se tivermos
dificuldade em acreditar na veracidade destes factos, é um livro encantador que
nos conduz cem anos atrás, com cenários semelhantes a cenas do nosso quotidiano,
em que o homem deus insiste em querer destronar, minimizar ou ridicularizar o
Deus que se fez Homem.
A história
repete-se, a forma como é contada é que muda, tal como os protagonistas e os
cenários. Mas na sua essência nada se altera, talvez porque Deus é o princípio
e o fim, o autor e o senhor da História, O Caminho, a Verdade e a Vida.
Maria Susana Mexia |
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