Acordei ainda emocionada ao
recordar a sublime cerimónia celebrada em Fátima no passado dia 13 de Maio.
Tinha ainda muito presente a Procissão do Adeus. Com milhares de pessoas a
acenar, despedindo-se de Nossa Senhora de Fátima, ao som do cântico “Adeus de Fátima”
e do tocar dos sinos. Deveras comovente. Impressionaram-me os peregrinos pelo
respeito e veneração manifestados. Aguentaram firmes durante horas ao sol com o
calor que se fazia sentir. Mas nada os demovia. Queriam manifestar o seu amor à
Virgem Maria. Uns, em peregrinação palmilhando estradas durante dias; outros, em
grupo - 160 -, oriundos de 31 países: Sul coreanos, Filipinos, do Sri Lanka. Todos os peregrinos são
movidos por uma enorme fé. Alguns vêm pagar promessas, deixar algum pedido,
intenção, ou unicamente para render homenagem e agradecer as graças concedidas pela
Virgem Maria, nossa Mãe do Céu, que vela por nós, que nunca se cansa de
manifestar a Sua misericórdia. Contudo, temos a certeza de que cada um de nós é
abençoado, fortalecido, confortado, com um amor imenso sob a sua proteção
infinita. Os coros que se fizeram ouvir ajudaram-nos a rezar duas vezes,
entoando os cânticos alusivos a Nossa Senhora de Fátima e aos videntes São
Francisco Marto e a Santa Jacinta. Em Fátima durante a bênção aos doentes foi
referida a generosidade de Jacinta que disse a Lúcia: “’Olha, diz a Nossa
Senhora que sofro tudo…, sofro tudo para converter os pecadores, pela paz no
mundo, pelo Santo Padre’. Sim é este o amor a Jesus e a quem sofre que dá um
horizonte maior à tua vida marcada pela dor. E quando vos vemos sofrer em
silêncio, sem vos queixardes, penso que aprendestes com o Francisco, a guardar
no silêncio do coração de Deus, algumas dores que só Ele pode entender…”. Num
dos escritos de Lúcia, foi encontrada uma frase que repetia algumas vezes perto
de cada dia 12 e 13 de Maio. “Sei que muitos peregrinos vão a caminho de Fátima
cantando, rezando e fazendo penitência. Espiritualmente vou com eles, oro com
eles, canto com eles e uno ao seu sacrifício o meu…, uno-me às orações de todos
e de cada um dos peregrinos pedindo para todos um aumento da fé, da esperança e
do amor, a cura para os doentes, a paz para o mundo, o remédio para os seus
males”. Agora no céu, os pastorinhos intercedem por nós.
A propósito dos pastorinhos, há
uns dias atrás tive oportunidade de visitar novamente o local onde Santa
Jacinta ficou instalada na cidade de Lisboa, entre meados de janeiro a 2 de fevereiro
de 1920, no então orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, hoje Convento das
Clarissas de Lisboa, situado na Estrela. Recordo que se aproxima a passos
largos o centenário do seu falecimento, que teve lugar no dia 20 de fevereiro
de 1920, no Hospital de D. Estefânia. Faleceu sem a companhia dos familiares,
em grande sofrimento. Todos os dias lhe era levada a comunhão, exceto no dia do
seu falecimento, por um lapso. Contudo foi visitada por um sacerdote a quem
manifestou o ocorrido, demonstrando assim o seu enorme amor à Sagrada
Eucaristia. Procurando tranquilizá-la, o sacerdote disse que lhe traria no dia
seguinte a comunhão, ao que Jacinta respondeu: “Amanhã já não estou cá”, e a
verdade é que faleceu às 22h30 desse dia. Foi velada durante quatro dias na
Igreja de Nossa Senhora dos Anjos. De enfatizar que o corpo de Jacinta, depois
de falecida, cheirava então a flores (odor de santidade). Foi acarinhada na
cidade de Lisboa, por várias pessoas, entre elas, a fundadora do orfanato que
diariamente a ia visitar e que mais tarde entraria para a Ordem das Clarissas.
Regresso à Missa da Peregrinação
do dia 13 de maio no Santuário de Fátima. O cardeal Luís Tagle, Arcebispo de
Manila, Filipinas, na homilia referiu: «“Felizes as entranhas que te trouxeram
e os seios que te amamentaram!” E, de facto, Maria foi abençoada por ser mãe de
Jesus… Maria transmitiu ao seu Filho a sua fé e a sua forma de escutar e
guardar a Palavra de Deus. Maria mostra-nos o caminho para encontrar a
verdadeira bênção. O nosso mundo de hoje tem imagens de uma vida “abençoada”:
muito dinheiro, o último modelo de roupas, carros, aparelhos eletrónicos, fama,
influência, segurança. Estes não são desejos maus, mas Maria, nossa Mãe,
faz-nos parar e fazer uma autoavaliação. Será que a fé ainda tem um lugar
importante no nosso desejo de uma “vida boa”? Consideramo-nos abençoados quando
abdicamos dos nossos planos, como Maria e José, para que a vontade de Deus se
possa concretizar? Será que os pais criam os filhos não apenas com comida,
medicamentos e formação, mas também com a Palavra de Deus, os Sacramentos e o
serviço aos pobres? Será que assumem com seriedade a responsabilidade de educar
os filhos na fé? Como modelo e exemplo da Igreja, a Nossa Santíssima Mãe ensina
toda a Igreja a encontrar o caminho da verdadeira bênção… Não há maior bênção
do que ser chamado por Deus a servir Jesus, a fazer Jesus conhecido, amado e
servido…».
Senti-me muito pequena, perante a
enorme fé manifestada pelos peregrinos, a sua demonstração de amor a Jesus e a
Maria. Tantas histórias poderiam ser contadas! Vieram-me as lágrimas aos olhos
por diversas vezes, em particular quando Maria, no seu andor, regressou à
Capelinha, no Adeus à Virgem. Os peregrinos tinham-se mantido firmes, não
abandonando o recinto sem se despedirem da nossa Mãe do Céu, transportava
tantos pedidos de intercessão e de manifestações de amor. Maria deveria estar
certamente feliz por ver que tinham escutado os Seus pedidos, entre eles, com
doces palavras, a recitação do Santo Rosário diário. Graças a Deus nestas
terras de Santa Maria, no dia 13 de Maio, na Cova da Iria apareceu brilhando a
Virgem Maria, cercada de luz, nossa Mãe bendita e Mãe de Jesus.
Reconfortados os peregrinos
regressavam a suas casas, com o coração repleto de amor a Maria. Recebemos muitas
graças e bênçãos. Depois, ainda houve tempo de regressar à Capelinha das
Aparições, para rezar o terço por diferentes intenções particulares, pela graça
que nos foi concedida de aqui nos encontrarmos, pela paz no mundo, e fazer um
ato de entrega a Nossa Senhora. Interiormente, pensei numa das orações dos
pastorinhos: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para
os que não creem, não adoram, não esperam, e não vos amam”.
Maria Helena Paes |
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