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domingo, 30 de junho de 2019

Ó Fátima Adeus, Virgem Mãe Adeus


Acordei ainda emocionada ao recordar a sublime cerimónia celebrada em Fátima no passado dia 13 de Maio. Tinha ainda muito presente a Procissão do Adeus. Com milhares de pessoas a acenar, despedindo-se de Nossa Senhora de Fátima, ao som do cântico “Adeus de Fátima” e do tocar dos sinos. Deveras comovente. Impressionaram-me os peregrinos pelo respeito e veneração manifestados. Aguentaram firmes durante horas ao sol com o calor que se fazia sentir. Mas nada os demovia. Queriam manifestar o seu amor à Virgem Maria. Uns, em peregrinação palmilhando estradas durante dias; outros, em grupo - 160 -, oriundos de 31 países: Sul coreanos, Filipinos, do Sri Lanka. Todos os peregrinos são movidos por uma enorme fé. Alguns vêm pagar promessas, deixar algum pedido, intenção, ou unicamente para render homenagem e agradecer as graças concedidas pela Virgem Maria, nossa Mãe do Céu, que vela por nós, que nunca se cansa de manifestar a Sua misericórdia. Contudo, temos a certeza de que cada um de nós é abençoado, fortalecido, confortado, com um amor imenso sob a sua proteção infinita. Os coros que se fizeram ouvir ajudaram-nos a rezar duas vezes, entoando os cânticos alusivos a Nossa Senhora de Fátima e aos videntes São Francisco Marto e a Santa Jacinta. Em Fátima durante a bênção aos doentes foi referida a generosidade de Jacinta que disse a Lúcia: “’Olha, diz a Nossa Senhora que sofro tudo…, sofro tudo para converter os pecadores, pela paz no mundo, pelo Santo Padre’. Sim é este o amor a Jesus e a quem sofre que dá um horizonte maior à tua vida marcada pela dor. E quando vos vemos sofrer em silêncio, sem vos queixardes, penso que aprendestes com o Francisco, a guardar no silêncio do coração de Deus, algumas dores que só Ele pode entender…”. Num dos escritos de Lúcia, foi encontrada uma frase que repetia algumas vezes perto de cada dia 12 e 13 de Maio. “Sei que muitos peregrinos vão a caminho de Fátima cantando, rezando e fazendo penitência. Espiritualmente vou com eles, oro com eles, canto com eles e uno ao seu sacrifício o meu…, uno-me às orações de todos e de cada um dos peregrinos pedindo para todos um aumento da fé, da esperança e do amor, a cura para os doentes, a paz para o mundo, o remédio para os seus males”. Agora no céu, os pastorinhos intercedem por nós.

A propósito dos pastorinhos, há uns dias atrás tive oportunidade de visitar novamente o local onde Santa Jacinta ficou instalada na cidade de Lisboa, entre meados de janeiro a 2 de fevereiro de 1920, no então orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, hoje Convento das Clarissas de Lisboa, situado na Estrela. Recordo que se aproxima a passos largos o centenário do seu falecimento, que teve lugar no dia 20 de fevereiro de 1920, no Hospital de D. Estefânia. Faleceu sem a companhia dos familiares, em grande sofrimento. Todos os dias lhe era levada a comunhão, exceto no dia do seu falecimento, por um lapso. Contudo foi visitada por um sacerdote a quem manifestou o ocorrido, demonstrando assim o seu enorme amor à Sagrada Eucaristia. Procurando tranquilizá-la, o sacerdote disse que lhe traria no dia seguinte a comunhão, ao que Jacinta respondeu: “Amanhã já não estou cá”, e a verdade é que faleceu às 22h30 desse dia. Foi velada durante quatro dias na Igreja de Nossa Senhora dos Anjos. De enfatizar que o corpo de Jacinta, depois de falecida, cheirava então a flores (odor de santidade). Foi acarinhada na cidade de Lisboa, por várias pessoas, entre elas, a fundadora do orfanato que diariamente a ia visitar e que mais tarde entraria para a Ordem das Clarissas.

Regresso à Missa da Peregrinação do dia 13 de maio no Santuário de Fátima. O cardeal Luís Tagle, Arcebispo de Manila, Filipinas, na homilia referiu: «“Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” E, de facto, Maria foi abençoada por ser mãe de Jesus… Maria transmitiu ao seu Filho a sua fé e a sua forma de escutar e guardar a Palavra de Deus. Maria mostra-nos o caminho para encontrar a verdadeira bênção. O nosso mundo de hoje tem imagens de uma vida “abençoada”: muito dinheiro, o último modelo de roupas, carros, aparelhos eletrónicos, fama, influência, segurança. Estes não são desejos maus, mas Maria, nossa Mãe, faz-nos parar e fazer uma autoavaliação. Será que a fé ainda tem um lugar importante no nosso desejo de uma “vida boa”? Consideramo-nos abençoados quando abdicamos dos nossos planos, como Maria e José, para que a vontade de Deus se possa concretizar? Será que os pais criam os filhos não apenas com comida, medicamentos e formação, mas também com a Palavra de Deus, os Sacramentos e o serviço aos pobres? Será que assumem com seriedade a responsabilidade de educar os filhos na fé? Como modelo e exemplo da Igreja, a Nossa Santíssima Mãe ensina toda a Igreja a encontrar o caminho da verdadeira bênção… Não há maior bênção do que ser chamado por Deus a servir Jesus, a fazer Jesus conhecido, amado e servido…».

Senti-me muito pequena, perante a enorme fé manifestada pelos peregrinos, a sua demonstração de amor a Jesus e a Maria. Tantas histórias poderiam ser contadas! Vieram-me as lágrimas aos olhos por diversas vezes, em particular quando Maria, no seu andor, regressou à Capelinha, no Adeus à Virgem. Os peregrinos tinham-se mantido firmes, não abandonando o recinto sem se despedirem da nossa Mãe do Céu, transportava tantos pedidos de intercessão e de manifestações de amor. Maria deveria estar certamente feliz por ver que tinham escutado os Seus pedidos, entre eles, com doces palavras, a recitação do Santo Rosário diário. Graças a Deus nestas terras de Santa Maria, no dia 13 de Maio, na Cova da Iria apareceu brilhando a Virgem Maria, cercada de luz, nossa Mãe bendita e Mãe de Jesus.

Reconfortados os peregrinos regressavam a suas casas, com o coração repleto de amor a Maria. Recebemos muitas graças e bênçãos. Depois, ainda houve tempo de regressar à Capelinha das Aparições, para rezar o terço por diferentes intenções particulares, pela graça que nos foi concedida de aqui nos encontrarmos, pela paz no mundo, e fazer um ato de entrega a Nossa Senhora. Interiormente, pensei numa das orações dos pastorinhos: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam, e não vos amam”.

Maria Helena Paes



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