Retrato do Papa Paulo VI, em vista da beatificação de 19 de Outubro
Roma, 02 de Setembro de 2014 (Zenit.org)
Em 06 de Agosto de 1978, domingo em que celebrávamos a festa
da Transfiguração do Senhor, o Papa Paulo VI, às 21:40, na residência
estiva de Castel Gandolfo, retornava à casa do Pai.
Assim, um místico do Islão fala sobre a morte de Paulo VI: "O
Mensageiro de Deus subia todos os dias o monte santo, mas ontem, festa
do monte santo, Deus lhe disse: não desça mais até os homens, mas
permaneça aqui, na luz, comigo".
Poucos dias após sua eleição como Sumo Pontífice, que teve lugar dia
21 de Junho de 1963, em um retiro espiritual, o Papa Paulo VI escreve:
"A luz do castiçal queima e se consome sozinha. Mas tem uma função, a de
iluminar os outros, a todos, se possível". Ele, o Papa “perito em
humanidade" foi realmente luz que brilha no cume da montanha e ainda
continua a ser, graças ao seu grande e sempre actual ensinamento.
Seu profundo amor por Cristo foi uma constante que animou sua rica
espiritualidade e sua dolorosa e exigente acção pastoral. Ensinava que se
deve conhecer Jesus para viver e sempre ser aluno em sua escola. Fez
seu, o lema de Santo Ambrósio: "Cristo é tudo para nós". Sua alegria,
sua paz profunda provinha da cruz e da ressurreição de Cristo.
Os problemas que o perseguiam e que se abatiam sobre os seus ombros,
os problemas da Igreja e do mundo, o sofrimento do indivíduo e da
humanidade eram enfrentados por ele com um forte senso de
responsabilidade e dever, sempre com conhecimento e lucidez corajosos,
com uma fé como rocha, inabalável, e à luz da esperança cristã.
Ele era um homem altamente contemplativo: a oração era como o húmus
que tornava o solo fértil, onde crescia sua vida. Amou muito a Mãe de
Deus. Em 21 de novembro de 1964, no contexto do Concílio Vaticano II,
proclamou Maria "Mãe da Igreja", provocando o consentimento dos Padres
conciliares, que se levantaram espontaneamente para aplaudir.
Há um título pelo qual é possível expressar o papel de Paulo VI na história da Igreja?
O Patriarca de Constantinopla, Atenágoras, em 05 de Janeiro de 1964,
quando se encontrou com o Papa na Terra Santa, não hesitou em chamá-lo
de "Paulo II" pela forte afinidade entre o apóstolo dos gentios e Paulo
VI. Em seguida, redescobrindo o grande valor de Paulo VI, pode-se
chamá-lo de "primeiro Papa moderno". E mais:
"O Papa do diálogo”
"O Papa do Concílio Vaticano II"
"O Papa do ecumenismo"
"O Papa Peregrino"
"O Papa da civilização do amor"
"O Papa defensor da vida"
"O Papa dos tempos futuros"
"O Papa perito em humanidade"
"O Papa da Paz"
"O Papa da alegria"
"O Papa professor e testemunha"
"O Papa enamorado de Cristo e da Igreja"
Uma pessoa muito próxima à vida de Paulo VI sintetiza: "Posso
confirmar sua característica de ser sempre servo. Servo de Cristo e do
homem; servo no Concílio Ecuménico Vaticano II e no compromisso de sua
execução; constante servo, ousado e prudente na actualização da Igreja;
servo nas viagens apostólicas, no compromisso com a paz, na tensão ecuménica; servo na defesa da fé pela solene profissão de fé conhecida
como o "Credo de Paulo VI"; servo em suas encíclicas, em seus discursos,
em todo o seu magistério; humilde servo, sempre disponível e generoso
em suas obras de caridade".
Os quinze anos de seu pontificado (1963-1978), no entanto, foram
repletos de sofrimentos, críticas e até mesmo calúnias. Um pontificado
que foi, muitas vezes, a agonia no Getsêmani e que conduziu o homem, o
cristão Giovanni Battista Montini a viver o mistério da cruz,
configurando-se cada vez mais a Cristo Crucificado. Basta pensar no
atentado que ele sofreu em 27 de Novembro de 1970 em Manilae e no uso do
cilício como uma prática penitencial. Não foi por acaso que Paulo VI
instituiu o rito da Via-Sacra no Coliseu na Sexta-feira da Paixão e a
cruz nas mãos do Papa durante a liturgia. Gestos emblemáticos do seu
esforço para conduzir a Igreja aos pés da Cruz, onde nasceu a Igreja.
Não devemos esquecer que Paulo VI, no curso de sua rica experiência
de Sacerdote-Bispo-Papa, aceitou com entusiasmo e consciência crítica o
confronto com a cultura dos homens de seu tempo. É um "grande" no
sentido evangélico, que conseguiu encarnar em si o amor, a paixão, o
sacrifício de Jesus, para o bem da Igreja.
Na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi Paulo VI
evidenciou uma verdade muito importante: "o homem contemporâneo escuta
com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se
escuta os mestres é porque eles são testemunhas”. Esta afirmação é,
talvez, o melhor comentário que implicitamente Paulo VI fez de sua vida:
maestro, mas acima de tudo testemunha. Uma testemunha credível porque
não hesitou em dar testemunho de Cristo até o derramamento de sangue.
Então, a imagem inicial da lâmpada que arde e consome a si mesma seja
a mais significativa; a luz que sempre iluminou a personalidade de
Paulo VI. Ele escreve em seu Testamento: “Fixo o olhar no
mistério da morte e do que a ela segue à luz de Cristo, o único que a
esclarece; olho, portanto, para a morte com confiança, humilde e
serenamente. Percebo a verdade que esse mistério projectou sempre sobre a
vida presente e bendigo ao Vencedor da morte por haver dissipado em mim
as trevas e descoberto a luz. Por isso, ante a morte e a separação
total e definitiva da vida presente, sinto o dever de celebrar o dom, a
fortuna, a beleza, o destino desta mesma fugaz existência: Senhor, te
dou graças porque me chamaste à vida e mais ainda porque me regeneraste e
destinaste à plenitude da vida”.
E no Pensamento da morte: "E à Igreja, à qual tudo devo e
que foi minha, que direi? As bênçãos de Deus estejam acima de ti; tem
consciência da tua natureza e da tua missão; tem o sentido das
necessidades verdadeiras e profundas da humanidade; e caminha pobre,
isto é, livre, forte e amorosa rumo a Cristo".
A luz da lâmpada que se extinguiu em 06 de Agosto de 1978, Festa da
Transfiguração do Senhor, agora está viva para sempre e resplandece em
Jesus Ressuscitado; e tornou-se para todos luminoso reflexo da glória e
da alegria que Deus oferece aos seus Santos.
* Don Antonio Lanzoni,Vice-postulador da Causa de Beatificação do Papa Paulo VI
(02 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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