Francisco os exortou a continuar trabalhando e rezando pela paz
Roma, 26 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Um ex-guerrilheiro, uma ex-paramilitar e uma vítima dos
conflitos na Colômbia foram recebidos pelo papa no Vaticano nesta
quarta-feira, 24 de Setembro, depois da audiência geral. Eles faziam
parte de uma delegação colombiana.
“Eu pedi perdão em meu nome e em nome de todos os meus companheiros
que depuseram as armas, porque é justo e necessário neste momento”,
conta Cristina, a ex-paramilitar, sobre o encontro com o papa Francisco.
O Santo Padre “teve uma reacção imediata de perdoá-la, pôs as mãos na
sua testa, lhe concedeu o perdão e pediu que não deixemos de trabalhar
pela paz na Colômbia", disse outro dos presentes. O papa também pediu:
“Não deixem de rezar pela paz da Colômbia".
Cristina não disse o seu sobrenome: “Na Colômbia, nós ainda estamos
em conflito e somos um objectivo militar para o grupo ao qual
pertencíamos”. Ela também não disse a qual grupo pertenceu, embora se
deduza que tenha sido um grupo paramilitar, dado que o outro integrante
da comitiva, Reinaldo, de 35 anos, estava na guerrilha.
“Eu abandonei as armas sozinha. Foi uma decisão individual. Percebi que estava no lugar errado e que não era o que eu queria”.
ZENIT: Por que alguém entra num grupo armado?
Cristina: Há muitos motivos. E uma coisa muito importante é que,
quando você está num grupo armado, você não acha que está fazendo o mal.
Chega um momento em que você acha que é um herói ou uma heroína.
Cristina: A guerra é muito dura, ver mortos, ver como nos matamos
entre colombianos. Eu tinha os meus filhos e disse “não, eu estou no
lugar errado, não estou trabalhando pela paz do país como eu achava”. E
tomei a decisão de ir embora, sem armas. E acho que o melhor produto
para a paz do país é oferecer dois filhos educados e tirá-los desse
círculo.
ZENIT: Onde os seus filhos estavam?
Cristina: Os meus filhos não estavam comigo. A guerra na Colômbia é
um círculo vicioso, alimentado pelo ódio. Se acontecesse algo comigo e
eu morresse, sabia que os meus filhos iam entrar para se vingar. E eu me
disse: “Não, os meus filhos não têm por que estar aqui”.
ZENIT: Você pôde avisar que ia embora ou teve que escapar?
Cristina: Foi uma decisão pessoal e na Colômbia nós somos umas 30 mil pessoas que tomaram a decisão de escapar dos grupos.
Cristina: A minha família mora numa região afastada e essa é outra
das condições. Quando nós vamos embora, temos que viver bem longe do
lugar onde estávamos. Temos que nos desenraizar, para evitar esse tipo
de coisas.
ZENIT: É possível reintegrar-se à sociedade?
Cristina: Eu deixei a luta armada há sete anos, me reintegrei e sou
um fruto do programa da reintegração na Colômbia. Cheguei à cidade com
meu marido praticamente sem nada. Com muito medo da institucionalidade,
muito medo de muitas coisas. Quando chegamos, eu terminei a faculdade.
Estou trabalhando numa empresa de desenho gráfico. Estou reintegrada.
ZENIT: A sociedade aceita vocês?
Cristina: Esse é o problema. A sociedade é muito reticente a esse
tipo de coisa. E é um apelo que eu faço. Não é questão de fingir que não
houve nada. Não, é questão de sentar e ver como romper esses círculos. É
este o apelo que eu faço à sociedade colombiana. É verdade que existem
feridas e que não é fácil aceitar muitas coisas. Nós trabalhamos muito
no país, mas a sociedade ainda não nos aceita. O que nós queremos? Mais
gente armada ferindo os outros? Ou gente trabalhando na civilidade e
trabalhando pela paz do país? É uma pergunta que todos nós, colombianos,
temos que nos fazer.
ZENIT: O que dizer a quem está na luta armada, com base na sua experiência?
Cristina: Que existem outros caminhos e que os sonhos são possíveis. E
é verdade que muitos estão buscando mudanças, mas a forma certa não é
com as armas. E existe, sim, outra forma. Eu não acreditava. E agora
comprovei que existem outras formas que não são prejudiciais.
(26 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário