Enquanto a Nigéria sangra e arde: um comunicado que reflecte e desafia
Roma, 24 de Setembro de 2014 (Zenit.org)
Reproduzimos a seguir a declaração que a Conferência
Episcopal da Nigéria lançou em 18 de setembro durante a sua assembleia
plenária. A declaração aborda a violência perpetrada pelo grupo
terrorista Boko Haram, que, em Agosto, declarou o estabelecimento de um
califado e vem progressivamente atacando partes do nordeste do país a
partir da sua base no estado de Borno.
A declaração é assinada por dom Ignatius Ayau Kaigama, arcebispo de
Jos e presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, e por dom William
Avenya, de Gboko, secretário da mesma conferência.
* * *
Enquanto Nigéria sangra e arde
Nossa segunda Reunião Plenária Anual, na diocese de Warri, Estado do
Delta, foi sacudida todos os dias por notícias aterradoras, vindas, em
primeira mão, de Borno, Yobe, Adamawa, Taraba, Kano e Kaduna: elas
relatavam a matança em massa de irmãos nigerianos; incêndios e saques de
vilas inteiras, de igrejas e de casas paroquiais. Famílias e indivíduos
são obrigados a procurar refúgio fora das suas casas e das suas terras
invadidas.
Um dos nossos bispos, procedente dessas áreas de tragédia, teve de
abandonar abruptamente a nossa reunião porque milhares de refugiados
haviam afluído à sua catedral em busca de protecção e de alimentos.
Infelizmente, a situação actual no nordeste da Nigéria é de mais
assassinatos, incêndios e fuga de nigerianos indefesos, criando-se uma
sensação de grande inquietação e de cerco em toda a nação.
Enquanto a Nigéria tragicamente sangra e arde, nós, bispos, nos
declaramos realmente alarmados com as dimensões da destruição humana e
material, com o esfacelamento da vida nas aldeias e nas comunidades e
com o aumento dos níveis de ódio e de potencialidade de mais conflitos
no país. Se os muçulmanos são alvos esporádicos desses ataques
destrutivos, os cristãos, as igrejas e os não muçulmanos em geral são os
principais alvos de extermínio, de expropriação e de expulsão por parte
dos insurgentes do Boko Haram, autores de todas essas formas de
destruição.
Acreditamos que ainda temos governo, em nível federal e estadual,
cujo principal dever é preservar e proteger a vida de cada nigeriano,
independentemente de tribo, religião, classe social ou tradição.
Em vista do grupo Boko Haram e de outras milícias criminosas que se
armam para impunemente matar cidadãos inocentes e indefesos, o nosso
governo tem a obrigação de fazer mais do que está fazendo hoje a fim de
proteger as nossas vidas e defender a nossa nação. Tem a obrigação de
fazer mais do que está fazendo hoje para combater e desarmar esses reais
destruidores de nigerianos e da Nigéria. Tem a obrigação de fazer mais
do que está fazendo hoje para evitar que segmentos da nossa nação sejam
engolidos pela anarquia e pela destruição mútua. Tem a obrigação de
levar os criminosos à justiça.
Alertamos toda comunidade nigeriana, em seus níveis locais e
estaduais, para ficar alerta ao grave perigo que ameaça a nós todos e a
nossa nação, perigos vindos de dentro e de fora dela. Não está em
questão quem será presidente, governador ou senador depois das eleições
gerais de 2015. O que está em questão é a vida e a segurança de cada um
de nós, que ama a sua vida e se preocupa de verdade com o nosso convívio
pacífico e nobre como nigerianos.
Lançamos um apelo, portanto, para que todos nós apoiemos e
encorajemos cada esforço positivo do governo actual voltado a proteger os
nigerianos e defender a integridade e a unidade da Nigéria. Tomemos as
medidas legais locais para evitar a destruição dos nossos irmãos
nigerianos e para repelir os destruidores da Nigéria.
Ordenamos que o nosso escritório da Caritas forneça imediatamente os
fundos de socorro a todas as pessoas afectadas, conforme as nossas
capacidades.
Instamos o governo e todos os nigerianos que tenham recursos para que
ajudem, na caridade e na solidariedade, os nossos irmãos e irmãs
desabrigados, onde quer que eles estejam, preservando, assim, a nossa
dignidade humana concedida por Deus.
De acordo com a nossa vocação de líderes religiosos, nós, bispos da
Nigéria, decidimos também organizar uma noite nacional de oração, de 13 a
14 de Novembro de 2014, em Abuja.
Os momentos actuais são críticos para o nosso país. Todo aquele que
está em posição de autoridade deve fazer o máximo possível para salvar o
nosso amado país, a Nigéria.
(24 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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