Temos que assumir a responsabilidade de cuidar da Terra, exorta o cardeal Maradiaga
Roma, 24 de Setembro de 2014 (Zenit.org)
Apresentamos a seguir uma reflexão sobre as mudanças
climáticas escrita pelo cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga,
presidente da Caritas Internationalis.
* * *
Quando a fome e a pobreza transformam cada dia numa batalha pela
sobrevivência, as mudanças climáticas impõem o seu maior peso em cima
dos mais pobres. É por isso que eu vim a Nova Iorque, nesta semana, para
pedir acção imediata por parte dos governos.
Eu participei, com os líderes de várias religiões, na Cúpula
Inter-Religiosa da Mudança do Clima, realizada de 21 a 22 de setembro.
Os apoiantes da Caritas em todo o mundo também se juntaram, nesse mesmo
período, a centenas de milhares de pessoas em cidades como Nova Iorque,
Londres e Paris para pedir acção urgente a fim de enfrentarmos as
alterações climáticas.
Juntos, nós temos a esperança de deixar claro para os líderes
mundiais reunidos hoje na ONU, para a sua reunião de cúpula sobre a
mudança climática, que é necessária uma acção urgente.
A mensagem é nítida: a mudança climática é um dos maiores obstáculos
para a erradicação da pobreza no mundo. Nós declaramos: "Quando aqueles
que menos provocaram a mudança climática são os mais atingidos por ela, a
questão é de injustiça. São urgentemente necessárias soluções
equitativas".
Somos herdeiros de dois séculos de marcantes ondas de evolução
tecnológica, das revoluções industriais às digitais. Vimos milhões de
pessoas serem retiradas da pobreza em todo o mundo e algumas doenças
serem erradicadas para sempre.
No entanto, o crescimento da economia durante este período teve um
custo. Cerca de um milhar de milhões de pessoas ainda passam fome. O mundo em que
vivemos hoje vai se tornando mais desigual.
Com o nosso modelo de progresso e de crescimento, especialmente
dependente do uso de combustíveis fósseis, nós tivemos um impacto
decisivo sobre a natureza. Terras, florestas, desertos, geleiras, rios e
mares estão mudando.
Seja através de colheitas mais pobres, de terras mais áridas, de
oceanos mais ácidos ou de eventos climáticos mais extremos e
imprevisíveis, muitas vezes desastrosos, o impacto da mudança climática é
inconfundível e cientificamente comprovado, acima de qualquer dúvida. E
ele afecta a nós todos.
Os pobres são afectados mais duramente
Num mundo que dispõe de comida suficiente para todos, mas no qual
existe cerca de um milhar de milhões de pessoas passando fome, as alterações
climáticas ameaçam colocar, além delas, mais 20% da população em risco
de fome até 2050.
Grande parte do planeta fértil que nos foi dado para que o
protegêssemos, cultivássemos e dele desfrutássemos já foi corrompida.
Nós nos tornamos indiferentes ao dano que estamos causando, tanto ao
mundo natural quanto aos nossos irmãos e irmãs mais pobres. Essa
indiferença provocou uma crise que é urgente encararmos.
No fundo, este é um debate sobre o que nós gostaríamos de viver: um
desenvolvimento inclusivo e em harmonia com a natureza, ou um
desenvolvimento que exclui e que destrói.
"A protecção do meio ambiente tem sido subordinada ao desenvolvimento económico, prejudicando a biodiversidade, abusando das reservas de água e
de outros recursos naturais e poluindo o ar" (Aparecida).
Encruzilhadas
As etapas políticas que surgem à nossa frente nos impõem desafios
reais, mas nós ainda os vemos como oportunidades sem precedentes para
imprimir um tom positivo ao futuro, à nossa vida e à das gerações
vindouras.
Há uma clara mensagem para os nossos líderes: nós chegamos a uma encruzilhada e a necessidade de fazer uma escolha é gritante.
A primeira estrada é a de continuarmos destruindo a maravilhosa
criação de Deus. O aquecimento e os seus decorrentes climas extremos
atingirão níveis sem precedentes na próxima geração e 40% dos pobres do
mundo, que têm um papel mínimo na poluição global, são os que mais vão
sofrer.
A segunda estrada é aquela em que a humanidade assume a sua
responsabilidade comum para moldar uma ética de cuidado e de protecção da
terra para as gerações futuras, com decisões políticas e económicas
guiadas por um profundo senso de responsabilidade e de preocupação com o
bem comum.
Vamos seguir a segunda estrada!
Moldado pelo respeito à vida e, sobretudo, à dignidade da pessoa
humana, um mundo mais saudável, mais seguro, mais justo, mais próspero e
mais sustentável é possível. Um desenvolvimento sustentável autêntico é
viável, técnica e politicamente.
Para este fim, os esforços conjuntos dos líderes mundiais em
responder ao desafio ecológico é um teste da sua opção preferencial
pelos pobres e uma oportunidade real de colocar essa opção pelos pobres
no centro dos sistemas e dos processos globalizados. É uma oportunidade
que precisa ser aproveitada.
(24 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário