Entrevista ao Presidente da República da Arménia, sobre a memória histórica, a crise do oriente médio e o convite do Papa para visitar o país
Roma, 25 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
A abertura de uma exposição sobre os cristãos do Oriente
Médio, organizada pela Embaixada da Arménia junto à Santa Sé e a
audiência do Papa Francisco no Vaticano, estes são os dois eventos
principais que o presidente da República da Arménia, Serz Sargsyan, fez
na semana passada, durante sua viagem a Roma. O presidente oficialmente
convidou o Papa para ir a Arménia no próximo ano, por ocasião do
centenário do genocídio arménio.
A Agência Armenia News informa que o Papa aceitou o convite “com
prazer”, embora – também à luz das declarações do pe. Federico Lombardi –
a questão seja ainda reservada. As perseguições sofridas pelos arménios
há cem anos, as que sofrem os cristãos hoje no Oriente Médio e as novas
tensões na região de Nagorno-Karabakh, são as questões que o presidente
Sargsyan falou com ZENIT nesta entrevista.
ZENIT: Presidente, o senhor poderia falar sobre a exposição
"parábolas do Oriente. O cristianismo ante o desafio do novo milénio"?
- Sargsyan: Este importante evento é organizado em conjunto pela
nossa embaixada na Santa Sé e pela Comunidade de Santo Egídio, que tem
um compromisso extraordinário na questão dos cristãos orientais. Do
nosso lado, a posição geográfica da Arménia, nossa longa tradição cristã
e a presença de numerosas comunidades arménias em todos os países do
Oriente Médio, nos empurra a lembrar ao mundo a condição trágica, a
tempestade, que afecta os civis e, principalmente, os cristãos no Oriente
Médio. Parecia-me um dever participar na inauguração desta exposição
para incentivar aqueles que buscam através das imagens e palavras fazer
chegar a mensagem desesperada de milhões de cristãos à comunidade
internacional, que está se mobilizando cada vez mais nestas últimas
semanas, o que é um sinal positivo.
ZENIT: Em vista do que está acontecendo actualmente em
diferentes partes do mundo, você acha que o valor da memória está sendo
perdido?
- Sargsyan: A memória contribui para a prevenção dos crimes. Ocultar,
relativizar ou negar as atrocidades cometidas são tentativas que se
enfrentam e param diariamente para defender os valores fundamentais da
vida e para recordar que a diversidade é uma riqueza cultural e social
que deve ser promovida e não oprimida.
ZENIT: Sobre o genocídio arménio: o que você pode nos dizer
sobre a missa que o papa Francisco celebrou em São Pedro em Abril para
recordá-lo?
- Sargsyan: No próximo ano celebra-se o centenário do genocídio arménio serão realizadas muitas manifestações em memória das vítimas,
incluindo algumas de caráter religioso. A missa de Abril em São Pedro
terá um significado particular. Agradeço ao Papa por esta iniciativa.
Durante a reunião de sexta-feira passada nós falamos muito das vítimas
de um século atrás e as de hoje. Compartilhamos as mesmas preocupações e
reiteramos a mesma urgência nas acções de socorro e nas tentativas de
deter qualquer forma de violência. Pessoalmente, convidei o Papa para
visitar a Arménia em 2015.
ZENIT: Algumas horas atrás soube-se da notícia do assassinato
de um soldado arménio em Nagorno-Karabakh. Nos últimos meses, o
conflito se intensificou. Qual é a posição da República da Arménia sobre
o que está acontecendo?
- Sargsyan: Infelizmente, o regime de cessar-fogo, alcançado por um
tratado internacional, em 1994, é sistematicamente violado pelo
Azerbaijão há anos. Nós estamos comprometidos na prevenção de uma
escalada militar e na degeneração do processo de negociação, conduzido
sob a orientação da OSCE, o único apoiado pela comunidade internacional,
através dos esforços de três países co-negociadores: EUA, França e
Rússia.
Fazemo-lo activamente, aceitando as propostas da OSCE sobre a
consolidação do regime de trégua: a retirada dos chechenos da linha de
contacto e a implementação de mecanismos conjuntos de investigações sobre
violações da trégua. Azerbaijão rejeita todos. Infelizmente, a política
provocadora e agressiva do Azerbaijão causa perdas de vidas de soldados
em ambos os lados da Linha de Controle. Estamos muito preocupados com a
atitude das autoridades do Azerbaijão que estão cada vez mais engajados
em uma campanha "armenófoba" e militarista, que é um atentado potencial
à perspectiva da reconciliação.
ZENIT: Sobre o referendo como uma forma de exercício do
direito à auto-determinação. Na sua opinião, quais são as questões
paralelas entre Nagorno Karabakh e Escócia?
- Sargsyan: É digna da grande consideração, e da minha admiração
pessoal, a eleição da civilização e do método democrático do governo do
Reino Unido e das autoridades escocesas na gestão política da questão.
Independentemente dos resultados, tem sido fundamental o exercício do
direito inalienável à autodeterminação do povo da Escócia. No início dos
anos 90, também o povo de Nagorno Karabakh escolheu por meios
referenciais – pacíficos e inclusivos - em determinar seu próprio futuro. A
resposta do Azerbaijão foram pogroms contra os arménios na capital
Baku e Sumgait, deportações em massa e uma verdadeira e própria guerra
em grande.
(25 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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