No encontro com as autoridades o Papa citou o país como exemplo de tolerância, em um contexto geopolítico em que a religião é usada como "factor de confronto e violência"
Roma, 23 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Na última viagem internacional do Papa Francisco, do 20 ao
21 de setembro, a primeira em um Estado europeu, ao encontrar-se com as
autoridades albanesas, o papa disse que estava "muito feliz" por estar
"na nobre terra da Albânia, terra de heróis que sacrificaram suas vidas
pela independência do País, e terra de mártires que deram testemunho da
sua fé nos momentos difíceis de perseguição".
Por esta razão, a Albânia, onde os católicos representam 15% da
população, se classifica como um modelo actualíssimo de testemunho, em
uma fase histórica como a actual, marcada pelas acções violentas do Estado
Islâmico no Iraque e na Síria. O Santo Padre, em seu discurso perante
as autoridades, rebobinou a fita da memória nacional albanesa, manchada
pelo sangue ateu e comunista, mas capaz de ressurgir. “Passou-se já um
quarto de século – recorda o Papa – desde que a Albânia reencontrou o
caminho árduo mas emocionante da liberdade”. Liberdade que consentiu à
sociedade albanesa de "empreender um caminho de reconstrução material e
espiritual, de pôr em marcha uma grande quantidade de energia e
iniciativas, de abrir-se à colaboração e aos intercâmbios com os países
vizinhos dos Balcãs e do Mediterrâneo, com a Europa e com o mundo
inteiro".
Um novo caminho em nome dos "direitos humanos", entre os quais está
"a liberdade religiosa e de expressão do pensamento", considerada
"condição preliminar para o próprio desenvolvimento económico e social
de um País". O Papa Francisco se definiu até mesmo “feliz” pela
“pacífica convivência” e pela “colaboração entre os membros das
diferentes religiões": uma “feliz característica da Albânia, que deve
ser preservada com cuidado e atenção".
É um "bem valioso para o País", o "clima de respeito mútuo e
confiança recíproca entre católicos, ortodoxos e muçulmanos", que dá à
Albânia "uma especial importância em nosso tempo". É daqui que começa o
amargo diagnóstico papal da fase histórica actual, que observa que
“grupos extremistas, deturpam o verdadeiro sentido religioso e são
distorcidas e exploradas as diferenças entre as diferentes
denominações". Estes grupos fazem das diferenças religiosas "um factor
perigoso de conflito e de violência, em vez de ocasião de diálogo aberto
e respeitoso e de reflexão conjunta sobre o que significa crer em Deus e
seguir a sua lei".
A advertência do Bispo de Roma foi, portanto, clara e forte: "Ninguém
ache que pode se refugiar em Deus, enquanto projecta e perpetra actos de
violência e de abuso! Ninguém pegue a religião como pretexto para as
suas próprias acções contrárias à dignidade humana e aos seus direitos
fundamentais, principalmente o direito à vida e à liberdade religiosa de
todos".
O Papa, por trás do qual se erguia o imponente busto do herói
nacional da Albânia, Giorgio Castriota, conhecido como Scanderbeg,
reiterou o brilhante exemplo da "Terra das Águias", o que prova que "a
convivência pacífica e fecunda entre as pessoas e as comunidades
pertencentes às diferentes religiões não é apenas desejável, mas também
praticamente possível e praticável". Mas a convivência não é um monólito
indestrutível, mas sim “um valor que deve ser preservado e aumentado a
cada dia” por meio da “educação com relação às diferenças e das
específicas identidades abertas ao diálogo e à cooperação para o bem de
todos, com o exercício do conhecimento e da estima uns dos outros”.
Acima de tudo, trata-se de "um dom que sempre deve ser pedido ao Senhor
na oração”. “Que a Albânia - a esperança do Santo Padre – possa
continuar sempre por este caminho, tornando-se para muitos Países um
exemplo ao qual inspirar-se!”
Passado "o inverno do isolamento e das perseguições” e "finalmente
chegando a primavera da liberdade", a Albânia também tem sido capaz de
se reconciliar com a Igreja Católica, instituição essa que, como disse o
Papa, “tem sido capaz de retomar uma vida normal, restaurando a sua
hierarquia e retomando as fileiras de uma longa tradição". A
contribuição positiva da Igreja é claramente visível aos olhos de quem
visita a Albânia: "Foram construídos ou reconstruídos lugares de culto,
entre os quais está o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho em
Shkodra; foram fundadas escolas e importantes centros educativos e de
assistência, disponíveis para toda a população”. Portanto, a presença da
Igreja é percebida não apenas como "um serviço para a comunidade
católica, mas para toda a Nação".
O Papa Bergoglio recorda a Beata Madre Teresa, que, juntamente com os
mártires da Albânia (cujas fotos foram difundidas ao longo da estrada
que passou o Santo Padre para chegar ao palácio presidencial) se alegra
pelo empenho dos homens e mulheres de boa vontade "em fazer florescer a
Albânia", mas sublinha que hoje "são apresentados novos desafios a serem
respondidas". O convite do Papa é fazer "todo o esforço", para que "o
crescimento e o desenvolvimento sejam colocados à disposição de todos e
não só de uma parte da população". No contexto da globalização, o Papa
recorda que o meio ambiente deve ser protegido, bem como a criação e a
família.
(23 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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