Homilia do Papa na missa com os idosos e avós
Roma, 28 de Setembro de 2014 (Zenit.org)
Durante a Santa Missa com os idosos e os avós celebrada
neste domingo, 28 de setembro, na Praça de São Pedro, o Santo Padre
Francisco pronunciou a seguinte homilia:
O Evangelho que acabamos de ouvir é acolhido hoje por nós como o Evangelho do encontro entre os jovens e os idosos: um encontro cheio de alegria, cheio de fé e cheio de esperança. Maria é jovem, muito jovem. Isabel é idosa, mas manifestou-se nela a misericórdia de Deus e há seis meses que ela e o marido Zacarias estão à espera de um filho. Maria, também nesta circunstância, nos indica o caminho: ir encontrar a parente Isabel, estar com ela naturalmente para a ajudar mas também e sobretudo para aprender dela, que é idosa, a sabedoria da vida. A primeira Leitura faz ecoar, através de várias expressões, o quarto mandamento: «Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dá» (Ex 20, 12). Não há futuro para um povo sem este encontro entre as gerações, sem os filhos receberem, com gratidão, das mãos dos pais o testemunho da vida. E, dentro desta gratidão a quem te transmitiu a vida, entra também a gratidão ao Pai que está nos céus.
Às vezes há gerações de jovens que, por complexas razões históricas e
culturais, vivem de forma mais intensa a necessidade de se tornar
autónomos dos pais, a necessidade quase de «libertar-se» do legado da
geração anterior. Parece um momento de adolescência rebelde. Mas, se
depois não se recupera o encontro, se não se volta a encontrar um
equilíbrio novo, fecundo entre as gerações, o resultado é um grave
empobrecimento para o povo, e a liberdade que prevalece na sociedade é
uma liberdade falsa, que se transforma quase sempre em
autoritarismo. Chega-nos esta mesma mensagem da exortação que o apóstolo
Paulo dirige a Timóteo e, através dele, à comunidade cristã. Jesus não
aboliu a lei da família e da passagem entre gerações, mas levou-a à
perfeição. O Senhor formou uma nova família, na qual prevalece, sobre os
laços de sangue, a relação com Ele e o cumprimento da vontade de Deus
Pai. Mas o amor por Jesus e pelo Pai leva à perfeição o amor pelos pais,
pelos irmãos, pelos avós, renova as relações familiares com a seiva do
Evangelho e do Espírito Santo. E, assim, São Paulo recomenda a Timóteo –
que é Pastor e, consequentemente, pai da comunidade – que tenha
respeito pelos idosos e os familiares e exorta a fazê-lo com atitude
filial: o idoso «como se fosse teu pai», «as mulheres idosas como se
fossem mães» (cf. 1 Tim 5, 1). O chefe da comunidade não está dispensado
desta vontade de Deus; antes, a caridade de Cristo impele a fazê-lo com
um amor maior. Como fez a Virgem Maria, que, apesar de Se ter tornado a
Mãe do Messias, sente-Se impelida pelo amor de Deus, que n’Ela Se está
fazendo carne, a ir sem demora ter com a sua parente idosa.
E, deste modo, voltamos a este «ícone» cheio de alegria e de
esperança, cheio de fé, cheio de caridade. Podemos pensar que a Virgem
Maria, quando Se encontrava em casa de Isabel, terá ouvido esta e o
marido Zacarias rezarem com as palavras do Salmo Responsorial de hoje:
«Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus, e a minha confiança desde a
juventude. (…) Não me rejeites no tempo da velhice, não me abandones,
quando já não tiver forças. (…) Agora, na velhice e de cabelos brancos,
não me abandones, ó Deus, para que anuncie a esta geração o teu poder, e
às gerações futuras, a tua força» (Sal 71/70, 5.9.18). A jovem Maria
ouvia e guardava tudo no seu coração. A sabedoria de Isabel e Zacarias
enriqueceu o seu espírito jovem; não eram especialistas de maternidade e
paternidade, porque para eles também era a primeira gravidez, mas eram
especialistas da fé, especialistas de Deus, especialistas da esperança
que vem d’Ele: é disto que o mundo tem necessidade, em todo o tempo.
Maria soube ouvir aqueles pais idosos e cheios de enlevo, aprendeu com a
sabedoria deles, e esta revelou-se preciosa para Ela, no seu caminho de
mulher, de esposa, de mãe. Assim, a Virgem Maria indica-nos o caminho: o
caminho do encontro entre os jovens e os idosos. O futuro de um povo
supõe necessariamente este encontro: os jovens dão a força para fazer
caminhar o povo e os idosos revigoram esta força com a memória e a
sabedoria popular.
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(28 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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