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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

«The Giver: O Dador de Recordações»: uma película contra a cultura da morte erigida no regime

Meryl Streep, Jeff Bridges, Katie Holmes, Taylor Swift... 

Brenton Thwaites é o herói desta distopia que talvez
não se encontra tão longínqua...

Actualizado 31 de Agosto de 2014

Carmelo López-Arias / ReL

No cartaz nos Estados Unidos desde 15 de Agosto, ainda não há data prevista para a sua estreia em Espanha, mas os ecos da crítica católica e conservadora norte-americana chegam apresentando The Giver como uma película a ter em conta. A que há que acrescentar o seu potente arranque: 12,7 milhões de dólares de bilheteira no seu primeiro fim-de-semana.

O bestseller de Lois Lowry

Dirigida pelo australiano Phillip Noyce (Jogo de patriotas, O coleccionista de ossos, O americano impassível, Salt: um especialista do thriller e da acção), apresenta um elenco de luxo: Meryl Streep e Jeff Bridges como veteranos, Katie Holmes no esplendor do amadurecimento, e Taylor Swift, Odeya Rush e o protagonista, Brenton Thwaites, como prometedor gancho para os mais jovens. Todos eles convertem no cinema a célebre novela do mesmo nome que escreveu Lois Lowry em 1994 como primeira de uma série de quatro, convertidas para uns em objecto de culto e parte do currículo escolar, e para outros em leitura desaconselhável. A escritora, por certo, esteve presente e feliz na estreia.

The Giver é uma distopia comparável debaixo de muitos aspectos a 1984 de George Orwell ou Um mundo feliz de Aldous Huxley. Desenha um horrível mundo futuro no qual os seres humanos foram privados da sua capacidade de decisão fazendo-os crer que jamais existiram os sentimentos nem as emoções.

O conselho de sábios a que preside uma Meryl Streep com aparência de bruxa governa de forma totalitária e aparentemente benéfica debaixo de um princípio: "Quando as pessoas tem liberdade para escolher, escolhem mal".

Não obstante, o sistema perpetua a memória pretérita através de um homem: O Dador, Jeff Bridges, conservador de uma imensa biblioteca que guarda os segredos do passado para aconselhar com eles os sábios.

Brenton Twhaites é o chamado a substitui-lo quando morre, mas o descobrimento desse segredo terá consequências imprevistas para o regime, porque o jovem escolhe mudar o mundo revelando a verdade. (Ver abaixo o trailer.)
Entusiasmo generalizado
"É a película mais pró-vida jamais filmada", sustém um entusiasmado John Zmirak em The Blaze. Porquê? "Porque assinala um forte contraste entre uma vida rica, cheia de amor, família, risco e heroísmo", e "a existência estreita, superficial e cobarde que oferece a nossa tecnicista Cultura da Morte", que vê representados nos Sábios "os executivos filantrópicos da ONU", em Streep uma hipotética presidenta Hillary Clinton. Nessa sociedade "benevolente e perfeita" elimina-se os "defeituosos" e os anciãos, a natalidade está programada, o amor não existe e a eutanásia e o infanticídio praticam-se com assepsia: "Não desapareceu o assassinato, só lhe mudaram o nome", descobre horrorizado Jonas, o protagonista. De facto ele mesmo se verá envolvido na salvação de uma vida humana muito particular.

"The Giver é uma película poderosa, provocativa e que convida a pensar, e transmite uma formosa mensagem sobre o poder do amor e sobre o valor único de cada vida humana", com uma "formosa descrição da natureza imperecível da dignidade humana", afirma Charmaine Yoest, presidente de Americanos Unidos pela Vida.

E é "notavelmente pró-vida", assinala Nick Oslzyk para The Catholic World Report, "não tanto em termos de aborto como de eutanásia, provas genéticas e todo um painel de assuntos bioéticos e políticos. Os meninos são continuamente mencionados e aparecem ao longo de toda a película. Até que não se demonstre que os recém-nascidos são sãos, não se lhes permite ir para o seu lar, nem sequer dar-lhes nome".

"Fui vê-la porque me tinham dito que era uma sólida película pró-vida... E é!", exclama John Zuhlsforf, sacerdote católico e influente blogueiro (o Padre Z), que descobre nela certa imaginária cristã, ainda que deixa ao espectador encontrar onde.

Com efeito, para o seu produtor, Michael Flaherty, presidente de Walden Media, a fé tem um lugar "central" no filme, dado que o regime que descreve "não quer que as pessoas pense que existe uma autoridade acima da do governo" e "um Criador que adoptou as pessoas com livre arbítrio".

"The Giver é realmente um presente porque nos recorda os horríveis custos de mudar a liberdade pela ´comodidade’ de permitir que outros tomem por nós as decisões ´correctas´", conclui Anne Hendershott em Crisis Magazine: Jonas compreende, ao revelar-se o engano dos Sábios, que "sem a liberdade de tomar as decisões equivocadas não pode haver realmente decisões correctas".

Uma importante matização doutrinal
Ora bem: isto, que é certo desde o ponto de vista do livre arbítrio, constitui mesmo assim o único flanco débil de The Giver sugere-se que é só a liberdade de escolher, e não também o bem objectivo, o que destrói o Conselho presidido por Meryl Streep.

É o interessante matiz que introduz no seu blogue Daniel McInerny: "The Giver sustém que a escolha e a diversidade são as características definitivas da natureza humana. Esta é a verdade que Jonas luta por dar a conhecer. As boas memórias que Jonas recebe de O Dador mostram, por exemplo, que a religião é parte da verdade que nos faz humanos, mas é a religião ligada à escolha o que se exalta: a religião como expressão da diversidade humana, não a religião como culto ao único e verdadeiro Deus. Jonas também recebe memórias que exaltam o valor do matrimónio tradicional e da família, mas de novo o que se valoriza é uma entre as muitas, variadas e formosas formas nas quais o ser humano vive o seu amor, não o valor especial dessa instituição particular... Em resume, o que Jonas encontra mais além da distopia são as virtudes liberais (entendendo ´liberal´ no sentido filosófico), das quais a maior é a escolha, e não a caridade".

Contudo, a religiosa e crítica de cinema Irmã Rose Pacatt considera no National Catholic Register que "The Giver pode ser considerada uma película natalícia com muito da qual falar" e que "os catequistas profundos e criativos encontrarão nela um filão, especialmente se se analisa à luz da Doutrina Social Católica".



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