Em entrevista, o purpurado convida os leigos a participarem da arena política e propõe a doutrina social como base para uma convivência humana em justiça, paz, liberdade e solidariedade
Madrid, 19 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Ivan de Vargas
O cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente
da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE),
se pronunciou nesta sexta-feira durante a II Jornada Social Católica
pela Europa, que acontece até o próximo domingo em Madrid.
A Europa social, como elemento constituinte de uma ordem baseada na
paz, é para o arcebispo “uma das maiores conquistas da história da
humanidade”, conforme ele explicou em sua apresentação “Uma Europa
Social?”.
O purpurado alemão recordou que a Igreja participa das preocupações e
das necessidades das pessoas e que “a doutrina social da Igreja ajuda a
assentar bases sólidas para uma convivência humana em justiça, paz,
liberdade e solidariedade”. Ele destacou que “a eficácia da doutrina
social da Igreja também depende, em particular, de os cristãos se
comprometerem na actividade política e social”. O presidente da COMECE
observou que “a rede do laicato católico na arena política em toda a
Europa é uma realidade que nós, como Igreja, temos que apoiar mais”.
Nesta breve entrevista exclusiva concedida a ZENIT, o cardeal
Reinhard Marx aborda os desafios da Igreja na Europa e, diante de uma
sociedade plural, propõe construir uma comunidade caracterizada pela
unidade na diversidade.
* * *
ZENIT: Quais são os desafios que a Igreja tem que enfrentar
para passar de uma Europa da economia para uma Europa dos valores, para
uma Europa mais social?
Cardeal Reinhard Marx: A Europa se identifica com a União Europeia,
um projeto em que existem outros aspectos além do meramente económico.
Às vezes, temos a impressão, como nos anos passados, de que é só um projecto económico. Mas, na sua origem, ele tinha como finalidade
construir a paz na Europa. Na próxima etapa, eu creio que se discutirá
como construir esta União de maneira que o aspecto social, de coesão,
também conte. Nós vivemos o momento da crise económica em que muita
gente sofreu. Neste sentido, a Igreja vai demandar agora que a Europa
crie mais sensibilidade social entre os países.
ZENIT: O mundo pós-moderno redefiniu o conceito de pessoa e a
forma de nos relacionarmos. Como satisfazer o desejo de transcendência?
Cardeal Reinhard Marx: Eu acho que isto não é assim na Europa, porque
ela é plural. Aqui existem muitas posições, maneiras diferentes de
encarar a vida diária. As pessoas, os jovens, podem decidir em
liberdade. Isto é bom, mas também nos leva ao desafio de saber agir
livremente e com responsabilidade. Liberdade e responsabilidade. A
Igreja tem que viver e propor um modelo em que o homem só encontra o seu
sentido quando se relaciona com o outro. Trata-se do conceito de pessoa
e não de um individualismo que encerra o homem em si mesmo. Olhando
para as pessoas, para os jovens de hoje, me encontrando com eles, eu não
acho que todos sejam egoístas. Não é verdade. Este conceito pode estar
presente especialmente nos meios de comunicação e na opinião pública,
mas eu sou optimista. Normalmente, os jovens querem construir a sua vida
se relacionando com os outros, em comunidade, em comunhão com os outros,
e não de maneira egoísta.
ZENIT: O papa Francisco recordou em muitas ocasiões que é
necessária essa cultura do encontro que o senhor menciona, mas também
falou da cultura do descarte. Como transmitir aos jovens a proposta do
Santo Padre?
Cardeal Reinhard Marx: Eu acho que a Igreja pode convidar todo o
mundo a desenvolver e viver o verdadeiro senso de comunidade, de
comunhão. A Igreja conta com pessoas de todas as línguas, de todas as
culturas. Em nossas comunidades nós já vivemos este sinal. Na linguagem
eclesial, nós nos referimos ao sacramento da unidade entre os homens. A
nossa contribuição à sociedade moderna consiste em mostrar que, numa
comunidade em que existem diversas culturas e línguas, é possível viver
juntos; que o encontro entre as pessoas é uma riqueza. A Igreja
considera que, para o futuro da sociedade moderna, isto é fundamental.
As nossas sociedades serão cada vez mais plurais. Portanto, o crucial é
criar uma sociedade capaz de ficar unida na diversidade. A Igreja
evidencia que isto é possível.
(19 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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