Entrevista com Juliette Choe, obstetra e autora do livro "Sede fecundos e multiplicai-vos"
Roma, 19 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Christian Redier
Juliette Chove é uma obstetra e uma das primeiras mulheres a
fazer um Master no Pontifício Instituto "João Paulo II" para os Estudos
sobre o Matrimónio e a Família, em Roma. Agora, se dedica a acompanhar
casais inférteis e hipoférteis e lhes dá razões para esperar, sob a protecção de Santa Ana, em Auray, perto de Vannes, na Bretanha (França),
onde João Paulo II se encontrou com as famílias no dia 20 de setembro de
1996. Acaba de publicar na editora Téqui um livro com um título
significativo: “Soyez féconds et multipliez-vous” (Sede fecundos e
multiplicai-vos). ZENIT a entrevistou.
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ZENIT: Antes de mais nada, vamos esclarecer: qual a diferença entre a infertilidade a hipofertilidade?
Juliette Chove: Basta consultar as definições dadas pela OMS
(Organização Mundial da Saúde, ndr). A infertilidade é a ausência de
concepção após um ano de relações sexuais abertas à vida. A
hipofertilidade refere-se aos casais que começaram uma gravidez sem
conseguir leva-la ao fim, ou seja, os casos dos casais que tiveram
abortos espontâneos. Se a infertilidade ou hipofertilidade podem ser
possivelmente corrigidas com o tratamento médico, a esterilidade, pelo
contrário, é a impossibilidade definitiva de conceber. Isso afecta o 3-4%
dos casais. É um termo que soa um pouco forte demais e é por isso que
se fala de hipofertilidade ou infertilidade. Pode-se também definir o
conceito de esterilidade “primária”, ou seja, os casais que desejam um
primeiro filho, ou "secundária" para casais que têm dificuldade de
conceber após o nascimento de pelo menos um filho.
ZENIT: Exemplos da Bíblia podem ajudar a viver esta que, para alguns casais, é um verdadeiro “sofrimento”?
Juliette Chove: Lendo a história de Ana e Joaquim, percebi que
Joaquim tinha implorado a Deus lembrando-lhe a sua obra com Abraão e
Sara, enquanto Ana foi consolada lembrando-se da sua avó Ana, mãe de
Samuel. A história desses casais da Bíblia que conheceram a esterilidade
pode falar aos casais de hoje: as suas reacções, as suas orações, os
seus gritos, o seu caminho de fé, a sua gradual submissão ao plano de
Deus para eles. Ela nos mostra que Deus está presente ao lado daqueles
que sofrem, e que Ele os quer e os torna férteis. Estas histórias também
nos lembram que cada criança é um dom de Deus, que deve ser acolhida,
abrindo o próprio coração e deixando-se possivelmente educar, purificar
por ele, para, talvez, recebe-la melhor e elevá-la sob o olhar do Pai.
ZENIT: Você mora perto do santuário de Sainte-Anne d'Auray,
na Bretanha (França), que, desde o início, atrai os casais inférteis ou
hipoférteis. Poderia contar-nos a história deste santuário?
Juliette Chove: Por muitos séculos, este lugar é caracterizado pela
devoção a Santa Ana, provavelmente desde o início da cristianização da
região. Esta devoção se desenvolveu particularmente no século XVII, após
as aparições de Santa Ana a Nicolazic Yvon, um camponês bretão,
respeitado pela sua honestidade e piedade, que muitas vezes era
consultado por seus vizinhos. Nicolazic foi guiado por uma mão segurando
uma tocha que o acompanha nas noites em que trabalhava até tarde e às
vezes vê uma senhora vestida de luz. Na noite de 25 de Julho de 1624, um
dia antes de seu aniversário, a senhora se revela a ele com o nome de
Ana, mãe de Maria, pedindo-lhe para reconstruir a capela, que foi
dedicada a ela e tinha sido destruída 924 anos e 6 meses antes, porque ,
assim disse, Deus queria que ela fosse venerada aqui.
No início, o clero é muito relutante em reconhecer que a visão de
Nicolazic veio do céu. Santa Ana incentiva o vidente, que sofreu muitas
injustiças. No dia 7 de Março de 1625, guiado pela luz da tocha
luminosa, Nicolazic descobre uma estátua da mãe da Virgem Maria, que era
venerada nos primeiros séculos antes que a capela fosse destruída, e
foi enterrada em um campo. A partir do dia seguinte, os peregrinos,
alertados alertou misteriosamente começam a chegar em Ker Anna. Na
frente da multidão que se reúne em torno da estátua, o bispo de Vannes
ordena uma investigação eclesiástica. A veneração da imagem de Santa Ana
foi finalmente aprovada e a capela pode ser reconstruida no mesmo lugar
de antes, sob a orientação de Nicolazic mesmo.
Depois das aparições, Nicolazic e a sua mulher, Guillemette, que
sofria de infertilidade, tiveram quatro filhos. Seu primeiro filho
nasceu depois de uma década de espera e de oração confiante a Santa Ana.
Os peregrinos nunca deixaram de ir à Sainte-Anne d'Auray, mesmo em
tempos difíceis, como durante a revolução francesa ou as guerras. É uma
grande graça para a Diocese de Vannes ter este santuário onde as pessoas
podem vir confiar à avó de Cristo as alegrias e tristezas, tanto
casados como célibes, com ou sem filhos, leigos ou consagrados, etc. Os
casais aspirantes vêm para pedir a Santa Ana e Nicolazic, que conheceram
a prova da esterilidade. A mesma rainha Ana da Áustria invocou a sua
santa padroeira. Vários outros casais menos conhecidos têm dado
testemunho da intercessão de Santa Ana para eles. Além disso, a história
do nascimento dos filhos de Nicolazic, por sua vez, é lembrado durante a
vigília do Grande Perdão (festa de Santa Ana) e um espectáculo de luzes e
sons relembra as aparições.
ZENIT: Desde 2009, por iniciativa de um casal de Sainte-Anne
d'Auray, uma peregrinação oficial acontece no início de Setembro...
Juliette Chove: Sim, alguns casais se reúnem para rezar juntos, para
compartilhar, para formar-se e apoiar-se uns aos outros. Os testemunhos
daqueles que participaram demonstra como estes dias os tranquilizaram,
os encorajaram. Alguns tiveram a alegria de acolher um filho depois
dessa peregrinação. Os casais também podem vir em peregrinação a
qualquer momento do ano para recolher-se em oração na estátua de Santa
Ana ou no túmulo de Nicolazic. Também podem escrever uma intenção de
oração ou agradecimento pelos favores recebidos no livro de dedicatória,
e visitar aquela que nós chamamos a "Sala do Tesouro", na qual estão
expostos muitos ex-votos oferecidos em reconhecimento de uma graça
especial recebida por intercessão de Santa Ana. Entre estas, há muitas
peças de enxoval, doadas por casais para agradecer Santa Ana de terem
vencido a infertilidade.
ZENIT: Você tem um Master (é como se fosse uma especialização
latu-sensu no Brasil, ndt.) em fertilidade e sexualidade conjugal
conseguido no Instituto João Paulo II, que depende hoje da Pontifícia
Universidade Lateranense de Roma. O que é este instituto?
Juliette Chove: O Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos
sobre Matrimónio e Família foi fundado pelo mesmo João Paulo II em 1981.
Conhecido como o "Papa da família", quis criar um lugar onde as pessoas
envolvidas no atendimento às famílias pudessem receber na Igreja uma
formação de nível universitário. Assim, os sacerdotes, seminaristas,
religiosos e leigos responsáveis pela formação afectiva e sexual da
juventude, da preparação para o matrimónio, do acompanhamento de casais e
famílias, do ensino dos métodos naturais de regulação da fertilidade,
etc., possam, assim, promover a visão da Igreja Católica sobre o amor
humano e a sexualidade no plano de Deus. O ensinamento é baseado nas
catequeses do início do pontificado de João Paulo II, sob o título de
"Teologia do Corpo", e as encíclicas sobre a família: Humanae Vitae,
Familiaris Consortio, Deus Caritas Est.
(19 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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