Páginas

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Francisco em Santa Marta: "Não tenha medo da gratituidade de Deus"

Na homilia desta terça-feira, o Santo Padre falou sobre quando confiamos em Deus, "mas não muito"


Roma, 04 de Novembro de 2014 (Zenit.org)


Na lei do Reino de Deus "a recompensa não é necessária", porque Ele se doa gratuitamente, recordou o Papa Francisco na homilia desta terça-feira na Missa em Santa Marta.

O Papa observou que, às vezes, por egoísmo ou desejo de poder, rejeitamos a festa à qual o Senhor nos convida gratuitamente. E, às vezes, confiamos em Deus, “mas não muito."

O Papa falou em sua homilia sobre a parábola no Evangelho de hoje: um homem dá uma grande festa, mas os convidados inventam desculpas para não ir. Uma parábola que nos faz pensar porque "todos nós gostamos de ir a uma festa, gostamos de ser convidado", mas nesta festa "havia algo que três convidados não gostavam".

Francisco explicou que um dos convidados disse que precisava ver um terreno que tinha comprado, “precisava vê-lo para se sentir poderoso”: "vaidade, orgulho, poder; não queria ficar sentado como um entre muitos”. Outro comprou cinco bois e estava centrado nos negócios; não queria "perder tempo" com outras pessoas. O último se desculpou dizendo que era casado e não queria levar a mulher para a festa. O Santo Padre observou que os três tinham uma preferência por si mesmos, não queriam participar de uma festa, e explicou que eles não sabiam o que era uma festa, porque para eles há "sempre interesse”, aquilo que Jesus explicou como “compensação".

O pontífice disse que se o convite tivesse sido, por exemplo: “Venha, eu tenho dois ou três amigos de negócios que vêm de outro país, podemos fazer algo juntos", certamente ninguém teria recusado, mas o que assustou foi a gratuitidade. Ser um como os outros, não... o egoísmo está no centro de tudo. É muito difícil ouvir a voz de Jesus, a voz de Deus quando estamos centrados em nós mesmos, “quando não se vê o horizonte porque o horizonte é ele mesmo. E por trás disso não há nada mais profundo: é o medo da gratuidade, temos medo da gratuitidade de Deus. É tão grande que nos assusta."

E isso acontece, esclareceu o Papa, "porque as experiências de vida muitas vezes nos fizeram sofrer", como aconteceu com os discípulos de Emaús, que deixam Jerusalém; ou Tomé que quis tocar para acreditar. Voltando a um provérbio popular, Francisco lembrou que, quando "a esmola é demais até o Santo desconfia”, porque a gratuitidade é demasiada. “E quando Deus nos oferece um banquete, pensamos que seria melhor não se meter”.

Aliás, o Papa alertou que "ficamos mais seguros nos nossos pecados, nos nossos limites, quando estamos em casa; sair da nossa casa para atender ao convite de Deus, à casa de Deus, com os outros? Não. Sinto medo. E todos nós cristãos temos este medo: escondido dentro...católicos, mas não muito. Confiantes no Senhor, mas não muito. Este "mas não muito" marca a nossa vida, nos faz pequenos".

Em seguida, o Santo Padre disse que uma coisa o faz pensar é que “quando o servo conta tudo isso ao seu senhor, o senhor se enfurece porque foi desprezado. E chama todos os pobres, os aleijados, pelas praças e ruas da cidade. O Senhor pede ao servo que obrigue as pessoas a participarem da festa”. Muitas vezes, o Senhor deve fazer a mesma coisa connosco, com as provações", afirmou. "Obrigá-los, porque aqui haverá a festa da gratuitidade. Obrigar aquele coração, aquela alma a acreditar que há gratuitidade, que o dom de Deus é grátis, que a salvação não se compra: é um grande presente, que o amor de Deus... é o maior presente! Isto é gratuitidade. E nós temos medo e por isso pensamos que a santidade se faz através das nossas coisas, e com o tempo nos tornamos um pouco pelagianos, certo? A santidade, a salvação é gratuitidade."

Ao finalizar a homilia, o Bispo de Roma recordou que Jesus "pagou a festa com a sua humilhação até a morte, e morte de cruz. E esta é a grande gratuitidade". Quando olhamos para o Crucifixo, pensamos "esta é a entrada para a festa": "Sim, Senhor, eu sou um pecador, eu tenho muitas coisas, mas olho para Ti e vou à casa do Pai. Eu confio, não será ficarei desiludido, porque Tu pagaste tudo". Por fim, o Pontífice disse que "a Igreja nos pede para não termos medo da gratuitidade de Deus". Apenas, "devemos abrir nossos corações para fazer de nossa parte tudo o que podemos; mas a grande festa será feita por Ele."

Sem comentários:

Enviar um comentário