Homilia do Papa na Catedral Católica do Espírito Santo, Sábado, 29 de Novembro
Istambul, 30 de Novembro de 2014 (Zenit.org)
Apresentamos a Homilia do Santo Padre pronunciada
na Catedral Católica do Espírito Santo, Istambul, sábado, 29 de Novembro
de 2014.
No Evangelho, ao homem sedento de salvação, Jesus apresenta-Se como
a fonte onde saciar a sede, a rocha da qual o Pai faz brotar rios de
água viva para todos os que crêem n'Ele (cf. Jo 7, 38). Com esta
profecia, proclamada publicamente em Jerusalém, Jesus prenuncia o dom
do Espírito Santo que os seus discípulos hão-de receber após a sua
glorificação, isto é, depois da sua morte e ressurreição (cf. v. 39).
O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre
os crentes: de muitos faz um único corpo, o corpo de Cristo. Toda a
vida e missão da Igreja dependem do Espírito Santo; Ele tudo realiza.
A própria profissão de fé, como nos recorda São Paulo na primeira
Leitura de hoje, só é possível porque sugerida pelo Espírito Santo:
«Ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, senão pelo Espírito Santo» (1 Cor 12,
3b). Quando rezamos, fazemo-lo porque o Espírito Santo suscita em nós a
oração no coração. Quando rompemos o círculo do nosso egoísmo, saímos
de nós mesmos e nos aproximamos dos outros para encontrá-los,
escutá-los, ajudá-los, foi o Espírito de Deus que nos impeliu. Quando
descobrimos em nós uma capacidade inusual de perdoar, de amar a quem não
gosta de nós, foi o Espírito que Se empossou de nós. Quando deixamos de
lado as palavras de conveniência e nos dirigimos aos irmãos com aquela
ternura que aquece o coração, fomos de certeza tocados pelo Espírito
Santo.
É verdade! O Espírito Santo suscita os diversos carismas na
Igreja; à primeira vista, isto parece criar desordem, mas na realidade,
sob a sua guia, constitui uma imensa riqueza, porque o Espírito Santo é o
Espírito de unidade, que não significa uniformidade. Só o Espírito
Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade.
Quando somos nós a querer fazer a diversidade e fechamo-nos nos nossos
particularismos e exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a
querer fazer a unidade de acordo com os nossos projectos humanos,
acabamos por trazer a uniformidade e a homologação. Se, pelo contrário,
nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade
não se tornam jamais conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade
na comunhão da Igreja.
A multidão dos membros e dos carismas tem o seu princípio
harmonizador no Espírito de Cristo, que o Pai enviou, e continua a
enviar, para realizar a unidade entre os crentes. O Espírito
Santo faz a unidade da Igreja: unidade na fé, unidade na caridade,
unidade na coesão interior. A Igreja e as Igrejas são chamadas a
deixarem-se guiar pelo Espírito Santo, colocando-se numa atitude de
abertura, docilidade e obediência. É Ele que faz a harmonia na Igreja.
Vem-me à mente uma afirmação muito bela de São Basílio Magno: «Ipse harmonia est – Ele próprio é a harmonia».
Trata-se de uma visão de esperança, mas ao mesmo tempo fadigosa, pois
em nós está sempre presente a tentação de opor resistência ao Espírito
Santo, porque perturba, porque revolve, faz caminhar, impele a Igreja a
avançar. E é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias
posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel
ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e
domesticar. E a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo também quando
afasta a tentação de olhar para si mesma. E nós, cristãos, tornamo-nos
autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as
consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos
conduzir pelo Espírito. Ele é frescor, criatividade, novidade.
As nossas defesas podem manifestar-se com a excessiva fixação nas
nossas ideias, nas nossas forças – mas assim resvalamos no pelagianismo –
ou então com uma atitude de ambição e vaidade. Estes mecanismos
defensivos impedem-nos de compreender verdadeiramente os outros e
abrir-nos a um diálogo sincero com eles. Mas a Igreja, nascida do
Pentecostes, recebe em herança o fogo do Espírito Santo, que não enche
tanto a mente de ideias, como sobretudo faz arder o coração; é investida
pelo vento do Espírito, que não transmite um poder, mas habilita para
um serviço de amor, uma linguagem que cada um é capaz de compreender.
No nosso caminho de fé e de vida fraterna, quanto mais nos deixarmos
guiar humildemente pelo Espírito do Senhor, tanto mais superaremos as
incompreensões, as divisões e as controvérsias, tornando-nos sinal
credível de unidade e de paz; sinal credível de que o Senhor nosso
ressuscitou, está vivo.
Com esta jubilosa certeza, abraço a todos vós, queridos irmãos e
irmãs: o Patriarca Siro-Católico, o Presidente da Conferência Episcopal,
o Vigário Apostólico D. Pelâtre, os outros Bispos e Exarcas, os
presbíteros e os diáconos, as pessoas consagradas e os fiéis leigos,
pertencentes às várias comunidades e aos diversos ritos da Igreja
Católica. Desejo saudar, com afecto fraterno, o Patriarca de
Constantinopla, Sua Santidade Bartolomeu I, o Metropolita Siro-Ortodoxo,
o Vigário Patriarcal Arménio Apostólico e os responsáveis das
Comunidades Protestantes, que quiseram rezar connosco durante esta
celebração. Exprimo-lhes a minha gratidão por este gesto fraterno. Um
pensamento afectuoso dirijo ao Patriarca Arménio Apostólico Mesrob II,
assegurando-lhe a minha oração.
Irmãos e irmãs, voltemos o nosso pensamento para a Virgem Maria, a
Santa Mãe de Deus. Unidos a Ela, que no Cenáculo rezou com os Apóstolos à
espera do Pentecostes, peçamos ao Senhor que envie o seu Santo Espírito
aos nossos corações e nos torne testemunhas do seu Evangelho em todo o
mundo. Amen!
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(30 de Novembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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