Mons. Sigitas Tamkevičius, actual bispo de Kaunas, na Lituânia, narra os anos de prisão e sofrimento que resistiu pela fé em Deus
http://i1102.photobucket.com/albums/g447/paroquiagdl1/vidaparoquial/Titulos/zenit.gifRoma, 19 de Novembro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
No dia 9 de Novembro foi comemorado o 25º aniversário da
queda do Muro de Berlim, terrível barreira cinza que cortava o coração
da Europa. Como herança ainda permanecem hoje alguns fragmentos de
cimento na capital alemã e os testemunhos daqueles que pessoalmente
estavam envolvidos na exasperação ideológica daquelas décadas de ódio. A
batalha organizada pelo comunismo internacional contra o cristianismo é
um dos aspectos mais hediondos do século XX, que se revela em todo o
seu realismo percorrendo a longa lista de mártires, incluindo milhares
de sacerdotes diocesanos e religiosos, entre leigos e seminaristas, além
de uma centena de bispos e quatro cardeais.
A história que Mons. Sigitas Tamkevičius, agora bispo de Kaunas (Lituânia), narrou a José Miguel Cejas no livro El baile tras la tormenta (A dança depois da tempestade), oferece informações valiosas sobre a realidade de um sacerdote na União Soviética. O site Alfa y Omega propôs um trecho sobre a detenção, o posterior interrogatório e a prisão do então padre Sigitas.
O padre jesuíta foi parado pelas autoridades soviéticas, juntamente
com seus outros irmãos em 1983. "Subindo a van da KGB, subiu-me um suor
frio – diz mons. Tamkevičius -. Os porões da prisão, com os corredores
estreitos, os tectos altos, mal iluminados por lâmpadas fracas, com
manchas de humidade e fissuras, não inspiravam a serenidade”.
Diante de um austero funcionário e com uma forte luz nos olhos, o
actual arcebispo deu os seus dados, os quais não deixaram nenhuma dúvida
ao agente: "Uau! Você é Sigitas, do Comité para a Defesa dos Crentes,
que faz propaganda anti-soviética contra o Estado", exclamaram. O que
realmente interessava a eles - hoje revela o arcebispo - não era a sua
participação no Comité, mas a publicação da revista A Crónica da Igreja na Lituânia, uma revista organizada por Tamkevičius com outros quatro sacerdotes e enviada também para o exterior.
O objectivo desta publicação – em acordo com o bispo mons. Vicentas
Sladkevicius – era o de informar o mundo sobre os assédios aos quais
eram submetidos os eclesiásticos e os praticantes católicos na União
Soviética. Proibidas catequeses e conferências, era assim sufocado todo
desejo de evangelização. Durante as Missas, então, estava sempre
presente algum espião do Governo que tomava notas sobre homilias e
verificava que entre os presentes não houvesse ninguém além dos
habituais idosos.
Denunciar esta situação além da cortina de ferro, evidentemente,
preocupava os funcionários comunistas. Como diz mons. Tamkevičius ",
oito oficiais começaram a me interrogar um dia sim, um dia não. Não
podia imaginar que aquele interrogatório continuaria por seis meses!”.
Um longo período durante o qual – acrescenta o prelado – “Deus me deu a
força para não trair ninguém (...), nem sequer nos momentos de maior
fraqueza”.
O arcebispo explica que muitos, escutando o seu testemunho,
perguntam-lhe como é que foi possível resistir. A cada um deles explica
que o mérito não está nas suas forças, mas sim na sua perseverança na
fé. Aí está o segredo da salvação de mons. Tamkevičius.
Embora confinado em um canto escondido de uma cela, privado de tudo,
este sacerdote conseguiu assim mesmo celebrar a Eucaristia. “Na prisão
consegui comprar um pouco de pão e verifiquei que era de trigo – narra
-. Faltava-me só o vinho; em uma carta pedi à minha família uva passa
seca. A partir daquele momento tinha só que encontrar o melhor momento,
sabendo que o meu companheiro de cela, como acontecia no geral, era um
criminoso comum ao qual foi prometido reduzir a pena caso tivesse
fornecido algumas informações comprometedoras sobre mim”.
Bom momento que só acontecia quando o seu companheiro de cela dormia.
Naquele momento o sacerdote, de costas para a porta, coloca o estojo de
óculos na mesa e colocava um pedaço de pão e uma pequena tigela com uva
passa. Depois disso, pegava esta uva e começava a apertá-la entre os
dedos até conseguir alguma gota de vinho que, em casos excepcionais, é
válida para celebrar a Eucaristia.
Excepcional era também a alegria que enchia a alma de mons.
Tamkevičius naqueles momentos. "Experimentava uma alegria maior do que a
que tinha provado a primeira vez que celebrei a Missa na catedral de
Kaunas". O arcebispo estava convencido de que era devido ao fato de que
"Deus me confortava e me consolava"; presença que estava "do meu lado,
de forma inefável".
Daí a sua "força especial" escudo vital capaz de rejeitar qualquer
tentação de desconforto. O arcebispo recorda que, por vezes, para fugir
do perigo de que um olhar do seu companheiro de cela pudesse
surpreendê-lo, tinha que celebrar deitado na cama, de noite: “com as
Sagradas Espécies sobre a minha cama, transformada em altar”. Essas são
as recordações de mons. Tamkevičius, que representam um pedaço daquele
período de perseguição anti-cristã, durante o qual, no entanto, "os
braços de Jesus me sustentavam".
(19 de Novembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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