Um «património que apela aos grandes valores da humanidade, da solidariedade, da partilha, do apego à terra, à família e amigos»
Em entrevista à Agência ECCLESIA, José António Falcão salienta que este “galardão vem reconhecer um dos traços mais significativos da região alentejana” e representa o culminar de um processo para o qual “trabalharam muitas pessoas e organizações ao longo de diversos anos”.
O professor e historiador lembra que o cante alentejano, na sua génese, é um património que “apela aos grandes valores da humanidade, da solidariedade, da partilha, do apego à terra, à família e aos amigos”.
Realça ainda a sua estreita ligação ao culto religioso, por exemplo “na celebração de tradições religiosas muito importantes como as do Menino Jesus, de Nossa Senhora, e de muitos outros aspectos da fé cristã”.
A Diocese de Beja olha para este reconhecimento internacional dado ao cante alentejano como uma oportunidade para continuar a contribuir para a sua divulgação e promoção.
“Hoje temos um Alentejo diferente, um Alentejo que se modernizou, que está a conseguir vencer em diversas frentes a sua crise mais importante, que é uma crise demográfica e portanto isto pode ser também uma maneira de mostrar a verdadeira realidade da região”, acredita o presidente do DPHA da Diocese de Beja.
Por outro lado, abre também uma janela de oportunidade para o “desenvolvimento de um turismo cultural bem sustentado, porque naturalmente serão muitas mais as pessoas que quererão conhecer de perto esta realidade do cante alentejano”.
José António Falcão conclui recordando “alguns padres e leigos que tiveram um papel importantíssimo na recolha, na inventariação, na salvaguarda e até na valorização” desta tradição musical
Em especial o padre António Cartageno, músico e pároco em Beja “que, juntamente com o cónego António Aparício, teve um papel fundamental” nesta área.
Também “o padre António Marvão, uma figura um pouco esquecida hoje mas que foi um importante musicólogo e deu um contributo muito relevante para esta causa, através de “um trabalho muito aturado, com vários livros e conferências”.
“Mas não foram só sacerdotes, foram etnógrafos, investigadores, professores das mais diversas capacidades que deram um importante contributo para a promoção do cante, dentro e fora do Alentejo, e que nós temos de recordar hoje”, conclui o investigador.
A candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade foi formalmente apresentada no comité internacional da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura a 28 de Março de 2013.
Depois de considerar a candidatura “exemplar”, a organização deu-lhe provimento esta quinta-feira em Paris.
JCP
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