Conflitos sem sentido
No dia 21 de Novembro encontrava-me em Roma a participar no VII Congresso Mundial sobre as Migrações. Nesse dia os congressistas foram recebidos pelo Papa Francisco e eu cumprimentei-o e entreguei-lhe um livro e uma carta da comunidade Tamera, que desde há cerca de vinte anos vive numa herdade em Relíquias, concelho de Odemira e procura caminhos de construção da paz no respeito pela ecologia e a diversidade. Nesse mesmo dia, as carmelitas missionárias com muitos amigos promoviam na Casa da Cultura, em Beja, uma vigília pela paz. Muitas pessoas e grupos afluíram e encheram o espaço físico. Pela arte, a música, as mensagens, a oração e o silêncio exprimiram a importância e a beleza da paz. Desde Roma associei-me também à iniciativa e marquei presença com o envio de uma breve mensagem, que, a seguir, transcrevo, pois a paz é um bem sempre a construir, parafraseando a famosa frase do Papa Paulo VI na encíclica Populorum progressio (O Progresso dos Povos): o desenvolvimento é o novo nome da paz.
No dia 21 de Novembro encontrava-me em Roma a participar no VII Congresso Mundial sobre as Migrações. Nesse dia os congressistas foram recebidos pelo Papa Francisco e eu cumprimentei-o e entreguei-lhe um livro e uma carta da comunidade Tamera, que desde há cerca de vinte anos vive numa herdade em Relíquias, concelho de Odemira e procura caminhos de construção da paz no respeito pela ecologia e a diversidade. Nesse mesmo dia, as carmelitas missionárias com muitos amigos promoviam na Casa da Cultura, em Beja, uma vigília pela paz. Muitas pessoas e grupos afluíram e encheram o espaço físico. Pela arte, a música, as mensagens, a oração e o silêncio exprimiram a importância e a beleza da paz. Desde Roma associei-me também à iniciativa e marquei presença com o envio de uma breve mensagem, que, a seguir, transcrevo, pois a paz é um bem sempre a construir, parafraseando a famosa frase do Papa Paulo VI na encíclica Populorum progressio (O Progresso dos Povos): o desenvolvimento é o novo nome da paz.
Desde que existe vida no planeta terra sempre houve conflitos. É a luta pela subsistência que opõe os seres que procuram a sobrevivência e o bem estar e fazem depender isso da mesma coisa, em vez de a partilharem, para que todos possam subsistir. A razão de fundo desta atitude é a tendência individualista e egoísta de cada ser, que nega a sua relação como própria da sua existência. Na Bíblia diz-se logo nas primeiras páginas que apenas houve satisfação no ser humano quando este encontrou a sua complementaridade, homem e mulher. Mas logo a seguir vem o pecado de querer ser como Deus, negando a relação com o criador e da inveja de Caim a respeito do seu irmão Abel, que o leva ao homicídio, matando Abel.
Neste paradigma bíblico temos a explicação dos conflitos, que tem oposto irmãos, famílias e povos, porque negam a relação fundamental da sua constituição, feitos uns para os outros, para se ajudarem no seu percurso de vida, unindo as suas capacidades para tornarem o mundo mais belo e harmonioso.
O crente é chamado a descobrir a sua relação com o criador e com os irmãos de caminho, fazendo das suas vidas complementos que se harmonizam e não opositores que se digladiam e aniquilam. E porque a inteligência e a vontade nem sempre vêm as coisas desta maneira e decidem de acordo com essa visão, no respeito pelas razões dos outros e pela sua liberdade, como proceder?
Caminhos para a paz: consagrados e comunidades
As expressões de beleza, como a arte, a música, o canto, o teatro, os ritos, etc. fascinam e encantam. Fazem esquecer os conflitos, vencem a nossa agressividade e ajudam a humanidade a superar as divergências. O crente confia no poder da oração. Por isso Nossa Senhora em Fátima pediu aos Pastorinhos oração pelo fim da guerra e a paz no mundo. Mas precisamos de rezar sem cessar, para não cairmos em tentação. Isto recomendou Jesus aos seus apóstolos e a nós.
Mas nunca devemos esquecer que sem justiça para todos, sem desenvolvimento integral da pessoa e de relações transparentes entre todos, a paz não será possível. Isto exige complementaridade e partilha solidária dos meios de subsistência. Sem respeito pela dignidade de cada ser e sem justiça na distribuição dos meios para o bem de todos, a paz não será possível.
Mas a paz começa nas relações imediatas e próximas de cada pessoa. Começa por nós, no nosso coração que ama a todos e se reconcilia sempre que ofende alguém. Grandes modelos e testemunhos de paz e de vida reconciliada são as comunidades da vida consagrada através da história, desde S. Basílio e S. Bento, passando por S. Francisco de Assis, S. Domingos, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Jesus até aos nossos dias, muitos dos seus fundadores ainda entre nós. Assim deveriam ser também todas as comunidades cristãs.
No próximo domingo vamos dar início ao novo ano litúrgico, com o início do tempo do Advento e do ano da vida consagrada, convocado pelo nosso Papa. Na diocese de Beja acolheremos o nosso Bispo Coadjutor, D. João Marcos, que nos vem ajudar a percorrer os caminhos da vida cristã num processo de reconciliação contínua, até que Cristo seja tudo em todos, como se exprime S. Paulo e ele repetia no último domingo, na igreja dos Jerónimos, no dia da sua ordenação episcopal. Foi muito belo ver a igreja repleta com muitos amigos e famílias numerosas, acompanhadas dos seus filhos. Fiquei muito contente ao reconhecer muitos rostos das nossas comunidades alentejanas.
Com o testemunho dos consagrados e o impulso do nosso Bispo Coadjutor queremos continuar a construir caminhos de paz, de alegria e de esperança para todos, banindo do nosso meio a agressividade e procurando sempre viver reconciliados uns com os outros, com a natureza do nosso lindo Alentejo e desta maneira agradar a Deus, que nos criou e cuja felicidade é a nossa.
† António Vitalino, Bispo de Beja
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