Frank Duff e Museu
Em janeiro de 2020, por ocasião de participar no congresso da GAPA (alcoolismo) em Dublin, visitei a casa de Frank Duff, Myra House, em Francis Street, e rezei pela sua beatificação, já a pensar no centenário da Legião de Maria, ali fundada. Cruza-se, porém, o pensamento de que os inícios da Legião foram de 1917 a 1921, a coincidir com a revolução bolchevique, saída da Rússia da I Grande Guerra, já em 1917 (fim da guerra?), o início da República de Weimar com comunistas, as aparições de Fátima, a independência da Irlanda, a morte de Sidónio Pais, 1918, pneumónica espanhola, 1918, morte de Francisco Marto, 1919, e de Jacinta Marto 1920…
Em 1917, Frank Duff lançava a associação, um grupo, inspirado nas conferências de S. Vicente de Paulo e na leitura do “Tratado da Verdadeira Devoção” de S. Luis Grignon de Monfort. A Legião de Maria era iniciada e em 7 de setembro de 1921 estava fundada, mas sem conseguir aprovação diocesana. Neste centenário conta já com cerca de 20 milhões de associados. Em 2009 celebrou o 70º aniversário de existência em Portugal, em que participei em Fátima, que me proporcionou a oportunidade de refletir na coincidência de eventos convergentes e divergentes tão significativos desta nota.
O comunismo leninista-marxista implantava uma estrutura ateia rígida, à base de células comandadas como marionetes, de forma difusa e obediência a cúpulas autoritárias e despóticas. Frank Duff devoto de Maria e de Jesus organizava outro tipo de “células,” com o nome de Legião de Maria, que se iriam contrapor aos erros comunistas marxistas ateus. Nossa Senhora foi explícita: se os seus pedidos de oração, desagravo e reparação fossem atendidos os erros seriam evitados. O leigo Frank Duff, já estava muito envolvido com as Conferências de S. Vicente de Paulo e com os “Pioneiros” (estes prometem não consumir bebidas alcoólicas para desagravar o Sagrado Coração de Jesus), e com a evangelização de mulheres da rua. No ato de ser pedida autorização à Superiora Geral de uma congregação para usar uma sala, a revolução irlandesa interrompeu a ligação telefónica (Frank DUFF, Autobiografia,1997, p.39), mas a reunião terá ido por diante. Nas reuniões de grupos, nos anos 1917-1921, os membros rezavam o rosário e tornavam-se devotos à Imaculada Conceição da SS. Virgem, lendo o “Tratado da Verdadeira Devoção” de S. Luis de Monfort, devoção associada à L.M. desde o início (R. Bradshaw, Frank Duff, Lisboa 1998, pp. 101-103).
A Legião de Maria adotou os nomes latinos das legiões romanas na sua organização, e tornou-se também devota da Medalha Milagrosa e da Imaculada Conceição. A Legião de Maria cumpriu mesmo a profecia de S. Luis Grignon de Monfort de 1712 (deste santo). Cito e resumo: “Prevejo que muitos…virão enraivecidos… rasgar este pequeno escrito…Sepultarão este livrinho nas trevas e no silêncio de uma arca a fim de que não seja publicado. Atacarão mesmo e perseguirão aqueles que o lerem e puserem em prática”. O manuscrito perdeu-se até 1842, escondido numa arca, e só em 1843 foi publicado. E Monfort acrescenta: tudo me faz esperar “um grande esquadrão de corajosos e valentes soldados de Jesus e Maria, de ambos os sexos, que combaterão o mundo, o demónio e a natureza corrompida nos tempos perigosos que, mais do que nunca, se aproximam!” (In S. Luís de Monfort, “Tratado da Verdadeira Devoção” 4º ed. do livro, (das Edições Monfortinas), 1994, Vila do Conde, 1994, p. 98). Reparem no termo “esquadrão “ de Jesus e Maria! Desde o seu início que os “legionários” vivem o princípio: «quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais o será a Jesus Cristo» (Tratado…, n.120), tal como S. João Paulo II viveu o “totus tuus, Maria”. Perante estas coincidências de eventos e de datas, uns encolherão os ombros, outros, “meditam-nas” no seu coração e vivem-nas. Durante a visita à casa Myra, que guarda o museu de Frank Duff, observámos que tudo estava já preparado para o centenário. Os cerca de 20 milhões da L.M. terão crescido com Jesus e Maria à frente e vão certamente continuar a celebrar nestes tempos em que se vivem tantos males dos erros de ódio anticristão entre irmãos, anunciados por Nossa Senhora, e as dores de mais que uma pandemia de males. O muito bem que se faz trará esperança de que, finalmente, triunfe o Imaculado Coração de Maria.
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