Cardeal Marto foi ordenado há 50 anos
| 8 Nov 21
Toninho teve infância feliz na freguesia de Tronco, no concelho de Chaves. Chegou ao fim da quarta classe e surpreendeu toda a gente com a notícia de que queria ser padre. Tinha aprendido o latim necessário para responder ao celebrante na missa, admirava a reação do seu pároco com as pessoas e até o imitava, às vezes, a pregar, a partir da varanda de casa. Mas a mãe gostava que ele fosse advogado e o pai que fosse para os Pupilos do Exército. Nada, o “pequenito” foi taxativo: ou ia para o seminário ou não iria estudar para lado nenhum. E Toninho, o nome por que era conhecido António Augusto dos Santos Marto, foi. Hoje é cardeal e bispo da diocese de Leiria Fátima.
Formou-se em Vila Real e no Porto e, antes de ser ordenado presbítero, em vez de ir estagiar para uma paróquia, como é hábito, preferiu fazer, com mais dois colegas, o estágio numa fábrica, como operário. Eram tempos de mudança na Igreja, com os ventos do Concílio Vaticano II e ele tinha ouvido falar do movimento dos chamados padres operários. O pai dir-lhe-ia, no dia da ordenação, fez este domingo, 7 de novembro, 50 anos: “Meu filho (…) só te quero pedir uma coisa: lembra-te sempre que vens de uma família humilde! Que não te suba o poder à cabeça! Trata sempre bem os pobres e os humildes!”. Esse pedido não o esqueceu nunca mais – confessou ele numa entrevista à agência Ecclesia, publicada este fim-de-semana.
Eram as periferias a que o Papa Francisco pede atenção a serem pré-anunciadas. Uma Igreja em saída às periferias. “Na altura não se usava esta expressão nem o meu pai a sabia…”, observa António Marto. “Hoje concretizo-a deste modo: ir às periferias, ao encontro dos que estão sós, abandonados e necessitados. É isso, os humildes e os pobres”, acrescenta.
António Marto foi estudar para Roma, por iniciativa do seu bispo, e já sabia que, ao regressar, iria ser professor de Teologia. E a verdade é que gostou tanto das mais de duas décadas de docência na Universidade Católica, no Porto, que, uma vez nomeado bispo, no ano 2000, chorou ao despedir-se da docência e não foi capaz de fazer uma despedida formal. Os alunos bateram-lhe palmas. E assim perderam um professor – “exigente”, mas “fraternal”.
Como bispo, percorreu as dioceses de Braga (auxiliar cerca de quatro anos), Viseu (titular, apenas dois) e foi nomeado em 2006 para as funções que ainda hoje exerce. O cardinalato surgiu em 2018, numa escolha do Papa Francisco, de quem António Marto é admirador – di-lo com assertividade na entrevista. Aespar de só completar os 75 anos no próximo ano, a data de resignação prevista pelo Direito Canónico, o próprio já disse a várias pessoas na diocese que quer sair e estará já a aguardar a nomeação do substituto.
Entende que um padre deve ser um homem de fé, mas também “tem de ser homem de relações próximas com todos, de acolhimento, atenção a cada um, de escuta, de partilha das alegrias e sofrimentos”. Se só tiver conhecimento e eloquência, “falta-lhe o coração, a humanidade”. Por isso dizia aos finalistas que iriam ser nomeados párocos que as suas “primeiras cartas credenciais” com que se apresentariam ao povo seriam “a relação humana”. O resto viria por acréscimo.
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