Entretanto, cheguei à Igreja de São Roque. Entrei
tendo ficado surpreendida com a sua beleza ímpar. Decorria a missa dominical.
Que bom, fiquei feliz por poder participar. O refrão do salmo 17 referia: “Eu
vos amo, Senhor: Vós sois a minha força”. Depois da missa fui fazer uma visita
à Capela de São João Batista. Segundo alguma bibliografia facultada, o rei D.
João V promoveu um vasto programa de encomendas para grandes projetos
arquitetónicos e obras de arte, entre ao quais a Capela de São João Batista, estando
interessado em apresentar, através de um plano cultural, a imagem de um Estado
renovado e requintado, que em nada ficava atrás das principais potências
europeias da época. A sua construção teve lugar em Roma, entre os anos 1742 e
1747, obedecendo a um rigoroso programa arquitetónico e estético que incluía,
além da capela projetada por Luigi
Vanvitelli e Nicola Salvi, peças de culto e ornamentais.
A Corte portuguesa seguiu de
perto a elaboração do projeto, através de João Frederico Ludovice, ourives e
arquiteto. Foi totalmente produzida na cidade de Roma e consagrada pelo Papa
Bento XIV na Igreja de santo António dos Portugueses, antes de ser transportada
para a cidade de lisboa em três naus. Esta capela lateral de São João Batista,
uma das várias existentes, constitui uma verdadeira joia do barroco italiano,
ainda que alguns historiadores sejam de opinião de que é uma obra de arte
luso-italiana, uma vez que a direção artística do projeto é feita minuciosamente
a partir da cidade de Lisboa pelo Rei D. João V e pelo arquiteto Ludovice. Destaca-se
pela utilização de materiais pétreos e bronze na sua decoração que se insere no
barroco romano. O painel “Batismo de Cristo” constitui uma inigualável
composição de Mattia Moretti datada
de 1750.
Pela sua riqueza e esplendor, merece
certamente uma visita. Também uma visita merece o Museu de São Roque, instalado
no edifício contiguo à Igreja onde se podem observar peças de culto,
paramentos, alfaias litúrgicas e alguns documentos.
Fiquei fascinada com muita vontade de voltar brevemente. Que belo legado nos
deixou o rei D. João V, conhecido como o Magnânimo.
Quando observava a Capela passou
por mim o sacerdote que tinha celebrado a missa. Aproveitei para questionar:
“Para além desta Capela e da Capela do Santíssimo Sacramento qual a que
prefere?”. Surpreendido com a pergunta respondeu: “A Capela de Nossa Senhora da
Piedade”. Bem, já possuía mais um motivo para regressar.
Quando sai da Igreja chovia imenso. Contudo as pessoas continuavam a passear abrigando-se desportivamente quando os aguaceiros eram mais fortes. Confesso que também me soube bem passear à chuva. Agradeci reconhecida a Deus o bom momento histórico-cultural vivenciado que me trouxe ao pensamento o que há alguns dias ouvi, em tom de desabafo, de alguém que muito sofria e com quem estava plenamente solidária face aos seus padecimentos. Na verdade, Deus exigia-lhe muito. Tanta provação, tanto sofrimento físico. Parecia quase incompreensível em alguém que tinha passado a vida a fazer o bem a dedicar-se aos outros e à família. Só me ocorreu responder-lhe: “Deus tem uma grande predileção por ti e não nos dá mais sofrimento do que aquele que podemos suportar”. Acrescentei: “Já o referiram alguns santos”. Esboçou um sorriso esperançado. E nada melhor do que pedir a intercessão de Nossa Senhora da Misericórdia para ajudar todos os que sofrem algum padecimento ou vicissitude. Foi o que me ocorreu após esta visita a Igreja de São Roque, uma vez que todo o conjunto arquitetónico, incluindo o seu acervo, foi doado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por alvará régio de D. José I datado de 1768, e esta adotou a imagem da Virgem com o seu manto aberto, num gesto protetor que se estende a todos os grupos sociais - clero, nobreza e povo.
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