Aniversário de Francisco
Francisco completou 85 anos nesta sexta-feira, tornando-se um dos papas mais longevos e continuando a demonstrar uma energia e capacidade de ação que a maior parte dos observadores assinalaram, neste aniversário. Prepara-se agora para dar um impulso nas relações com a Igreja Ortodoxa.
Entre as felicitações que lhe chegaram neste dia de aniversário, 17 de dezembro, Francisco recebeu uma mensagem especial do Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Cirilo, e do Presidente Vladimir Putin, ambas de tom amistoso e manifestando a vontade de colaboração.
Cirilo, que se encontrou pela primeira vez com Francisco em Cuba, em 2016, dá os parabéns ao Papa escrevendo que “como primazes das duas maiores igrejas cristãs do mundo”, os dois têm “uma responsabilidade especial pelo destino da humanidade” e que, “embora permaneçam fiéis às suas tradições”, as duas igrejas “alcançaram… um alto nível de interação”, graças ao qual podem trabalhar juntas.
Putin enviou também “calorosas” saudações ao Papa Francisco pelo seu aniversário, elogiou a sua “contribuição pessoal para o desenvolvimento das relações entre as igrejas Ortodoxa Russa e Católica Romana” e sublinhou ainda, no telegrama enviado: “Estou convencido de que, fazendo esforços juntos, podemos realizar muito para defender os direitos e interesses dos cristãos e para desenvolver o diálogo inter-religioso.”
Depois das declarações do Papa de que espera encontrar muito em breve o patriarca Cirilo, possivelmente em Moscovo, e das mensagens destes dois responsáveis, parecem estar reunidas as condições para esse encontro. Faltará apenas acertar a data e outros aspetos operacionais. Para tal, o metropolita Hilarion, de Moscovo, que detém o pelouro das relações internacionais da Igreja Ortodoxa Russa, anunciou já que terá um encontro com o Papa no Vaticano, provavelmente na próxima semana.
Recorde-se que os responsáveis máximos do catolicismo e da ortodoxia (russa) não se encontravam desde o cisma de 1054, até que foi possível o encontro no aeroporto internacional José Martí, em Havana, entre Francisco e Cirilo, em 2016. Na altura, assinaram uma declaração conjunta, após a qual, segundo a agência SIR, o Papa Francisco terá dito: “Finalmente, irmão: é claro que esta é a vontade de Deus.” E Cirilo respondeu: “Mesmo que as nossas dificuldades ainda não tenham sido sanadas, existe a possibilidade de nos encontrarmos e isso é bom.”
Tal como tem feito com outras confissões cristãs, Francisco vem aproveitando eventos e encontros para desbravar terreno no sentido de uma maior cooperação com as Igrejas ortodoxas. Na recente viagem ao Chipre e à Grécia, manteve, nas duas capitais, encontros com responsáveis locais, chamando a atenção para as origens apostólicas comuns e para o contra-testemunho que representa a divisão.
Em Atenas, o Papa encontrou-se com o patriarca Jerónimo e admitiu responsabilidades da Igreja Católica na hostilização dos ortodoxos, pedindo perdão: “Venenos mundanos contaminaram-nos, a cizânia da suspeita aumentou a distância e deixámos de cultivar a comunhão. (…) Ações e opções que pouco ou nada têm a ver com Jesus e com o Evangelho, antes marcadas por sede de lucro e poder – com vergonha o reconheço, da parte da Igreja Católica –, fizeram murchar a comunhão. Deixámos, assim, que a fecundidade fosse comprometida pelas divisões.”
“A história – acrescentou Francisco – tem o seu peso e, hoje, sinto a necessidade de renovar aqui o pedido de perdão a Deus e aos irmãos pelos erros cometidos por tantos católicos. Contudo enche-nos de grande conforto a certeza de que as nossas raízes são apostólicas e que a planta de Deus, não obstante os agravos do tempo, cresce e dá frutos no mesmo Espírito”.
Em Chipre, no encontro com o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa, o Papa apontou caminhos para o futuro, ao afirmar: “Se deixarmos de lado teorias abstratas e trabalharmos juntos lado a lado, por exemplo, na caridade, na educação, na promoção da dignidade humana, redescobriremos o irmão e a comunhão amadurecerá por si mesma para louvor de Deus. Cada um manterá seus modos próprios de ser e o seu próprio estilo, mas, com o tempo, o trabalho conjunto aumentará a concórdia e revelar-se-á fecundo.”
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