Kairós, termo grego para um tempo propício, facilitador, oportuno, é muito usado no Novo Testamento e vem associado a sinais reveladores para serem lidos com sabedoria, não cientificamente, apenas. Kairós pode ser o agora da passagem deste ano litúrgico para o seguinte; tempo de avaliação da primeira vinda a ser feita por Jesus Cristo na sua gloriosa segunda vinda. As palavras do Evangelho são bem claras. E se o próprio Jesus não nos tivesse certificado que ninguém sabe quando é este «depois de uma grande aflição…de forças dos céus abaladas» (Mc 13, 24-25), seríamos tentados a pensar neste tempo de céus a aquecer, de covid-19 a assustar e de civilização transtornada pela pseudo-religião acelerada, sem Deus, sem Cristo, sem Igreja e sem fé na vida eterna. Será que a pergunta de Jesus já é resposta a esta falsa religião: «mas quando o Filho do Homem voltar encontrará fé sobre a terra?» (Lc 18,8).
Neste tempo de contradições entre ciências e ideologias; entre ciências e políticas arbitrárias, extravagantes e absurdas sem liberdade nem respeito pela vida humana; e entre os milhares de gurus fundadores de pseudo-religiões, logo abraçadas por muitos aflitos, perplexos e ansiosos entre o credo da Igreja católica e as muitas crenças concorrentes contraditórias. Como encontrar sossego e paz com tanta angústia? Como resolver tantos problemas? Ainda, agora, em plena covid-19, se recordaram, em Glasgow, outras pestes e ameaças da podridão do ar, da água e das florestas mundiais. Tudo males da ecologia! Mas esquecem a ecologia do coração, da mente, das consciências, dos adictos ligados a máquinas dos media e do prazer e a lucros em círculo vicioso. E assim não se vai lá. O único que pode resolver e salvar deste problema e colossal armadilha é o Filho de Deus. Mas como conseguir? Se poucos jovens se podem apoiar em pais, educadores e amigos cristãos a sério? E se em igrejas, mais vazias, poucos sabem ensinar a rezar; se mestres de todos os quadrantes se contradizem uns aos outros nas suas opiniões e levam à confusão, ao stresse depressivo e à lástima dos suicídios de jovens que não vêm futuro com esperança?
As leituras bíblicas destes dias repetem: «vigiai e orai porque não sabeis o dia nem a hora». Orar, mesmo com dúvidas e pouca fé, como me aconselhou um colega, ateu confesso, já seria um passo para a paz interior, diferente de tantos consumos de palavras e substâncias alienantes, que impedem o pensar pensado e multiplicam as agonias opressivas e depressivas sem fim melhor. Neste mudar de ano e o anúncio do julgamento final, última palavra, e do encontro com os nossos irmãos, neste quinto dia mundial dos pobres, a leitura da Bíblia pode transformar-se em lampejo que acende a luz da consciência. Essa leitura sobre Cristo, feita com o coração, nestes tempos de aflição pode ajudar. Ligado a essa leitura, temos um recurso humano, livre, mas talvez bloqueado, no íntimo de cada um, que pode ser ativado: a consciência do bem e do mal e do amor do Pai. Mas a consciência só funciona des-alienada e solta, com sinceridade do coração. Jesus deixou claro: «o que fizerdes ao mais pequeno dos meus a Mim o fazeis. Tive fome e destes-Me de comer, tive sede… Foi a Mim que o fizestes» (cf Mt 25, 31-46). Eu estou em cada um dos pobres, e vivi como o mais pobre de todos. Como tantos da pandemia, só tive uma mulher que Me ungiu com perfume de 300 denários; e logo o pequeno bolseiro Judas, disse que era preferível dar isso aos pobres e tirar a Mim, pobre, o que ela dava para o meu funeral. Por ser ladrão. «Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde for proclamado o Evangelho, há de contar-se também, em sua memória, o que ela fez» (Mc. 14, 9). Inseparáveis, diz o Papa, são Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho. Espera-se que a luz da coração ilumine esta união no coração antes de chegar a morte inevitável e o julgamento de Cristo Rei do Universo. E antes que matem o Cristo pobre, n’Ele, em nós e nos pobres. Os pobres mortos com a fome, as vítimas inocentes com o aborto, os doentes com a eutanásia e os indefesos com armas assassinas. A vida, o alimento, o ar e água pura, os oceanos e as florestas são bens de vida, comuns a pobres e a ricos; mas, se corrompidos, matam ricos e pobres, como a pandemia, as calamidades, poluições e corrupções dos homens, que esta sociedade não pode ou não quer controlar. A partilha dos bens que Deus dá é para todos. No julgamento, os que tiverem feito o bem irão para a vida eterna e os que tiverem feito o mal irão para a condenação eterna (cf. Mt 25,46).
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