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sábado, 25 de dezembro de 2021

Sou dinamite…

Assim se definia o autor da morte de Deus, Friedrich Wilhelm Nietzsche. 

No “Crepúsculo dos ídolos”, transmite-nos o seu pensamento sobre o processo de como o mundo verdadeiro se tornou uma fábula. Numa espécie de história da metafísica, vai desfiando o pensamento dos filósofos antigos, de Platão a Kant, demonstrando que a existência humana estava radicalmente equivocada, viciada nas origens, fazendo residir o sentido da vida terrena em Deus e num Além.

Desmascarando esta falácia divina, a que chama morte de Deus, apercebe-se que com ela desaparecem todos os valores que a visão transcendente da vida criou, mas ao mesmo tempo debate-se com um consequente e terrível abandono existencial, que o levaria à alienação mental.

Intitulando-se o arauto do novo devir, o eterno retorno, Nietzsche reafirma a vontade de poder, a criação do super-homem e a transvalorização de todos os valores – o desaparecimento de Deus será compensado pela divinização do homem.

Zaratustra, o seu profeta do devir, anuncia-nos o além homem. “O homem é algo que deve ser superado. Que fizestes vós para o superar? O homem em si mesmo tem desejos de transcendência. Até este momento, a transcendência personalizou-se em Deus. Mas agora, o homem deve transcender-se a si próprio e ao mundo terreno. Desaparecido o sentido transcendente da existência, o super-homem ergue-se no novo sentido da terra: o homem é uma corda estendida entre o animal e o além-homem: uma corda estendida sobre o abismo. Um perigoso passar para o outro lado, um perigoso permanecer no caminhar, um perigoso olhar para trás, um perigoso estremecer e parar”.

O super-homem é um novo estado da humanidade. Será um homem livre, capaz de dar-se a si mesmo o bem e o mal e de impor a lei da sua própria vontade, todos os valores dependem exclusivamente da sua autonomia absoluta. O novo homem será o encarregado de fazer a grande política, que governará as massas anónimas e despersonalizadas, sem medo a sacrificá-las para conseguir os seus objectivos pessoais.

Totalitarismos, pensamento débil, cepticismo moral e a constatação do absurdo existencial, são algumas das consequências do pensamento deste filósofo alemão do século XIX, pai do nihilismo contemporâneo.

Poeta, louco, profeta ou simplesmente um homem revoltado com a vida, com o mundo, com Deus, a quem até a beleza do amor humano lhe fugiu e o desencantou.

Porém, apelo ao leitor uma breve reflexão sobre a importância de algumas ideias que, aparentemente, tresloucadas, se foram enraizando na mentalidade filosófica e política, nomeadamente a partir da 1ª grande guerra mundial, com um exponencial e alarmante crescimento até aos nossos dias.

SALPICOS
FILOSÓFICOS
por
Agostinho dos Santos
Politólogo e Filósofo


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