Amnistia: “declínio humanitário” a Leste
Um grupo de 220 cidadãos afegãos, incluindo as jogadoras e seus familiares da Equipa Nacional de Futebol Juvenil Feminino do Afeganistão (num total de 115 pessoas), será acolhido em Portugal, depois de ter sido resgatado do país. O anúncio foi feito pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal) e pela Romulus T. Weatherman Foundation, num comunicado enviado ao 7MARGENS pelo JRS.
O grupo incluirá ainda pessoas que trabalharam para as forças armadas portuguesas, bem como outras famílias já referenciadas pelo JRS Portugal, diz ainda o comunicado.
A mesma informação recorda que o resgate das jogadoras de futebol e das suas famílias já se iniciara no final de Setembro, numa operação integralmente financiada fundação The Romulus T. Weatherman. As famílias tinham sido levadas inicialmente para casas-abrigo no Afeganistão e depois disso foram transportadas para Lisboa, numa operação que, ainda assim, durou semanas.
Citados no comunicado do JRS, Elizabeth H. Weatherman e Andrew P. Duncan, co-representantes da The Romulus T. Weatherman Foundation, afirmam: “Não obstante as boas notícias, temos consciência de que a realidade é agridoce e que centenas de pessoas ficaram de fora destes aviões. Estas duas centenas representam apenas uma pequena fração das dezenas de milhares de pessoas desesperadas por escapar do Afeganistão e que merecem uma oportunidade.”
Os responsáveis destacam o trabalho de vários governos para ajudar nas operações de resgaste de afegãos e dizem que o financiamento é insuficiente para apoiar a reinstalação de milhares de afegãos. “As crianças do Afeganistão são vítimas inocentes e o governo dos Estados Unidos tem a obrigação moral de garantir a sua segurança e criar um futuro melhor para elas. Tentamos fazer a coisa certa, em nome da nossa família e do nosso país, mas sabemos que há muito trabalho ainda por ser feito.”
O director do JRS Portugal afirma que “quando a sociedade civil e o governo se unem, centenas de vidas podem ser salvas”, destacando o trabalho de colaboração entre as duas instituições e os organismos públicos envolvidos: Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ministério da Defesa Nacional, Secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, Presidência do Conselho de Ministros e Alto Comissariado para as Migrações.
O declínio humanitário entre a Polónia e a Bielorrússia
No mesmo dia em que o JRS anunciava o acolhimento dos 220 afegãos, a Amnistia Internacional Portugal anunciou que reuniu com responsáveis governamentais, com o objectivo de procurar soluções para as políticas e mecanismos de migração e asilo.
O encontro dos responsáveis da AI-Portugal com a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, e a secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, decorreu no passado dia 10, e destinava-se a apresentar recomendações da organização defesa dos direitos humanos “sobre o papel da rede consular portuguesa no acolhimento de refugiados e requerentes de asilo em Portugal”. Informou a AI num comunicado enviado ao 7MARGENS.
“A União Europeia e Portugal precisam de encontrar soluções eficazes e céleres para dar uma reposta efectiva a quem necessita de ajuda porque se viu obrigado a fugir de um país onde a sua segurança, liberdade e dignidade não eram garantidas”, afirmou Pedro Neto, director executivo da organização, a propósito do encontro. “Aquela a que se chama ‘crise de refugiados’ não é nada mais do que uma crise de solidariedade, liderança e entreajuda da União Europeia, onde falhamos todos os dias para com aqueles que depositaram toda a sua esperança numa Europa acolhedora, compassiva, justa e humana. Também Portugal tem um papel fundamental neste caminho de solidariedade.”
A Amnistia recorda a campanha “Eu Acolho” [ver 7MARGENS], na qual recolheu cerca de 15 mil assinaturas só em Portugal, e que era um dos projectos com que a organização tem acompanhado as questões de migrantes e refugiados.
O apelo à “criação de rotas legais e seguras, a partilha de responsabilidades no acolhimento de refugiados entre todos os Estados europeus e o desenvolvimento de mecanismos capazes de garantir um melhor acolhimento e integração destas pessoas” têm sido as orientações da AI nesta área.
Pedro Neto recorda ainda a tensão o outro foco actual de tensão política sobre o tema: “A tensão na fronteira Polónia–Bielorrússia, que tem deixado tantas pessoas num limbo inseguro e indigno, sem terem para onde ir e sem acesso a cuidados médicos, é um reflexo do declínio de dois países às suas responsabilidades humanitárias. É para a mudança verdadeira deste comportamento que temos de trabalhar com urgência.”
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