Testemunho de Frei Patrício Sciadini, ocd, superior do Convento Carmelita no Cairo
Cairo, 22 de Agosto de 2013
Apresentamos a seguir o testemunho de Frei Patrício Sciadini, ocd, superior do Convento Carmelita no Cairo.
Agradeço a Deus porque neste momento histórico do povo do Egipto, da
Igreja no Egipto, ele me deu a possibilidade de viver aqui como
Carmelita na igreja de Santa Teresinha de Shubra, Cairo. A presença
carmelitano-teresiana iniciou-se em 1926. Os carmelitas construíram a
belíssima Basílica de Santa Teresa de Shubra, uma Basílica estilo
bizantino. O povo seja cristão como muçulmano tem uma grande devoção a
Santa Teresa do Menino Jesus. Não há dia que não venham visitar a nossa
Basílica várias pessoas. E até tem um metro que tem o nome de Santa
Teresa.
A presença do Carmelo através das obras é muito importante. As obras
são a maneira com que nós, cristãos, podemos actuar na educação e na
saúde e através de um bom tratamento delicado e no estilo do evangelho,
podemos sem dúvida anunciar o reino do amor que Jesus nos tem ensinado. E
o testemunho é o anúncio mais belo de Cristo que todos podem ler. O
livro do evangelho nem sempre todos podem ler, mas todos podem ler o
livro que é a vida do cristão.
Nestes dias estamos expectadores de uma situação muito dura e difícil
no Egipto. Uma situação que os pessimistas vêem como difícil de ter
solução e que os optimistas vêem com fáceis soluções. Nem 8 e nem 80. Sem
dúvida vai precisar tempo. As palavras do Papa Francisco que nestes
últimos dias tem feito referência ao Egipto são para nós motivo de
estímulo e de coragem. A fé e a violência são inconciliáveis. A fé é
sempre portadora da paz e o anúncio de Deus não pode ser unido à
violência. A violência é sempre uma força destruidora. Todas as grandes
guerras iniciaram num lugar muito pequenino, que é o coração humano.
Jesus nos tem avisado com uma extrema clareza: “é do coração que saem
divisões, homicídios, roubos, adultérios e toda forma de mal”. É o
caminho da conversão que deve nos levar a olhar o outro com olhos de
amor e de misericórdia. O mundo não se faz através de tratados, de
firmas, de leis, o mundo novo se faz através de relacionamentos, de
diálogo, de busca sincera e especialmente compreendendo que nossa vida é
serviço e não sermos servidos. E seremos capazes de amar a todos com um
amor que não conhece limites.
Muitas são as lições que podemos aprender desta situação do Egipto. A
primeira é sem dúvida a lição sublime do DIÁLOGO. É preciso criar espaço
para o diálogo e jamais o diálogo se faz com as armas nas mãos, prontos
e atirar o gatilho. O diálogo exige sermos desarmados no coração, nas
palavras, nos gestos. O diálogo é capacidade de ver com os olhos nossos
irmãos que vivem ao nosso redor. A porta do diálogo jamais poderá ser
fechada. Quando se fecha a porta do diálogo não há como encontrar saída
de bem e de paz duradoura. O diálogo não se aprende nos livros, mas sim
na vida, desde o anúncio do nosso caminho humano.
Aprendemos quando o medo entra nos corações a lição da ESCUTA do
outro. Saber escutar sem preconceitos, sem prevenções e sem a
manipulação do pensamento do outro. A escuta é fundamental, é a pedra
fundamental para a construção de todo o futuro. Escutar não o triunfo
dos tanques de guerra, nem da metralhadora, mas escutar o choro das
crianças que pedem o fim da guerra e das mortes, o choro dos pais e das
mães que pedem que a morte seja sempre vencida pela vida. O desespero da
multidão anónima que com seu trabalho silencioso constrói o futuro do
país.
Aprendemos a compreender o mistério da CONVIVÊNCIA RELIGIOSA. A
religião é sempre e deve ser sempre ponto de encontro para todos, homens
e mulheres de boa vontade. A fé não é uma camisa que se coloca e se
tira todos os dias, faz parte da nossa maneira de pensar e de agir, de
ser. A fé em Deus exige de cada um de nós o respeito, o amor pela fé do
outro, e o respeito e o amor pelos lugares de culto do outro. Todo lugar
do culto é lugar da presença pacífica e amorosa de Deus. Sim, vimos
igrejas cristãs sendo atacadas, mas o cristão neste momentos deve se
lembrar das palavras de Jesus e não pode responder com a mesma solução de
destruição. É necessário sermos fermento de paz e de esperança.
Aprendemos a ESPERANÇA. A esperança é uma semente que jamais morre,
ela onde cai encontra um pouquinho de terra e vai germinar. Ela brota,
ela cresce e nos mantém firme com o olhar cheio de esperança para o
amanhã. Não há coração porquanto fechado e duro que seja, onde não haja
um “espaçozinho” de terra boa da esperança. Vejamos tudo isto com olhos
novos e fortalecidos pela oração. Na escola da guerra se aprende o amor à
vida.
in
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