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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Que aprender com a guerra do Egipto?

Testemunho de Frei Patrício Sciadini, ocd, superior do Convento Carmelita no Cairo


Cairo, 22 de Agosto de 2013


Apresentamos a seguir o testemunho de Frei Patrício Sciadini, ocd, superior do Convento Carmelita no Cairo. 

Agradeço a Deus porque neste momento histórico do povo do Egipto, da Igreja no Egipto, ele me deu a possibilidade de viver aqui como Carmelita na igreja de Santa Teresinha de Shubra, Cairo. A presença carmelitano-teresiana iniciou-se em 1926. Os carmelitas construíram a belíssima Basílica de Santa Teresa de Shubra, uma Basílica estilo bizantino. O povo seja cristão como muçulmano tem uma grande devoção a Santa Teresa do Menino Jesus. Não há dia que não venham visitar a nossa Basílica várias pessoas. E até tem um metro que tem o nome de Santa Teresa.

A presença do Carmelo através das obras é muito importante. As obras são a maneira com que nós, cristãos, podemos actuar na educação e na saúde e através de um bom tratamento delicado e no estilo do evangelho, podemos sem dúvida anunciar o reino do amor que Jesus nos tem ensinado. E o testemunho é o anúncio mais belo de Cristo que todos podem ler. O livro do evangelho nem sempre todos podem ler, mas todos podem ler o livro que é a vida do cristão. 

Nestes dias estamos expectadores de uma situação muito dura e difícil no Egipto. Uma situação que os pessimistas vêem como difícil de ter solução e que os optimistas vêem com fáceis soluções. Nem 8 e nem 80. Sem dúvida vai precisar tempo. As palavras do Papa Francisco que nestes últimos dias tem feito referência ao Egipto são para nós motivo de estímulo e de coragem. A fé e a violência são inconciliáveis. A fé é sempre portadora da paz e o anúncio de Deus não pode ser unido à violência. A violência é sempre uma força destruidora. Todas as grandes guerras iniciaram num lugar muito pequenino, que é o coração humano. Jesus nos tem avisado com uma extrema clareza: “é do coração que saem divisões, homicídios, roubos, adultérios e toda forma de mal”. É o caminho da conversão que deve nos levar a olhar o outro com olhos de amor e de misericórdia. O mundo não se faz através de tratados, de firmas, de leis, o mundo novo se faz através de relacionamentos, de diálogo, de busca sincera e especialmente compreendendo que nossa vida é serviço e não sermos servidos. E seremos capazes de amar a todos com um amor que não conhece limites.

Muitas são as lições que podemos aprender desta situação do Egipto. A primeira é sem dúvida a lição sublime do DIÁLOGO. É preciso criar espaço para o diálogo e jamais o diálogo se faz com as armas nas mãos, prontos e atirar o gatilho. O diálogo exige sermos desarmados no coração, nas palavras, nos gestos. O diálogo é capacidade de ver com os olhos nossos irmãos que vivem ao nosso redor. A porta do diálogo jamais poderá ser fechada. Quando se fecha a porta do diálogo não há como encontrar saída de bem e de paz duradoura. O diálogo não se aprende nos livros, mas sim na vida, desde o anúncio do nosso caminho humano.

Aprendemos quando o medo entra nos corações a lição da ESCUTA do outro. Saber escutar sem preconceitos, sem prevenções e sem a manipulação do pensamento do outro. A escuta é fundamental, é a pedra fundamental para a construção de todo o futuro. Escutar não o triunfo dos tanques de guerra, nem da metralhadora, mas escutar o choro das crianças que pedem o fim da guerra e das mortes, o choro dos pais e das mães que pedem que a morte seja sempre vencida pela vida. O desespero da multidão anónima que com seu trabalho silencioso constrói o futuro do país.

Aprendemos a compreender o mistério da CONVIVÊNCIA RELIGIOSA. A religião é sempre e deve ser sempre ponto de encontro para todos, homens e mulheres de boa vontade. A fé não é uma camisa que se coloca e se tira todos os dias, faz parte da nossa maneira de pensar e de agir, de ser. A fé em Deus exige de cada um de nós o respeito, o amor pela fé do outro, e o respeito e o amor pelos lugares de culto do outro. Todo lugar do culto é lugar da presença pacífica e amorosa de Deus. Sim, vimos igrejas cristãs sendo atacadas, mas o cristão neste momentos deve se lembrar das palavras de Jesus e não pode responder com a mesma solução de destruição. É necessário sermos fermento de paz e de esperança.

Aprendemos a ESPERANÇA. A esperança é uma semente que jamais morre, ela onde cai encontra um pouquinho de terra e vai germinar. Ela brota, ela cresce e nos mantém firme com o olhar cheio de esperança para o amanhã. Não há coração porquanto fechado e duro que seja, onde não haja um “espaçozinho” de terra boa da esperança. Vejamos tudo isto com olhos novos e fortalecidos pela oração. Na escola da guerra se aprende o amor à vida.



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