Debate no Meeting de Rímini sobre o grande escritor britânico
Roma, 26 de Agosto de 2013
“Minha casa é você: redescobrir-se humano lendo Dickens”.
Este foi o tema da conferência literária sobre o grande escritor
britânico no Meeting de Rímini.
Charles Dickens (1812-1870), escritor "social" por excelência da
era vitoriana, é, na verdade, o narrador do humano, dos sentimentos, a
única forma possível de redenção para os menos afortunados.
Alison Milbank, professora de literatura e teologia na Universidade
de Nottingham, destacou que o trabalho de Dickens sempre teve um aspecto
profundamente autobiográfico. Aos doze anos, o escritor teve que deixar
a escola para trabalhar na fábrica, entrando em contacto com classes
sociais com as quais nunca tinha convivido.
Foi durante essa experiência degradante que o jovem Dickens descobriu
a beleza da amizade e a riqueza das relações humanas. “Se há algo que
falta em Dickens”, diz a professora Milbank, “é a proposta de uma
solução colectiva para as necessidades sociais. Tudo passa através de
pequenos grupos de pessoas de boa vontade, redes de amizade, que podem
dar início à mudança”.
Quanto à época de Dickens, um fator não mudou: a exploração e a
miséria das crianças. Seu sofrimento e o de todos os personagens
"humildes" criados pela pena de Dickens se tornam a "lupa" que revela a
sociedade tal como ela é.
De acordo com o crítico literário Edoardo Rialti, especialista em
literatura inglesa, a obra de Dickens destaca o contraste entre a
"cidade da quantidade" e a "cidade da qualidade", duas realidades que se
tocam e às vezes se encontram.
Escravos da quantidade são personagens como o usurário Scrooge, o
protagonista de Um Conto de Natal: ele mede toda relação humana pelo
dinheiro. Outros têm como única referência o poder social, humano ou
psicológico. "Todos eles têm o deserto à sua volta e dentro de si".
Cada um desses personagens está "amarrado a uma corrente", muitas
vezes a do moralismo, como acontece com a Sra. Pardiggle, cujo moralismo
não cede nem mesmo diante da tragédia de uma mãe que perdeu o filhinho.
Neste caso, observa Rialti, "é uma cidade, a da qualidade, que entra na
outra cidade, a da quantidade. Uma mão estendida para as nossas
fraquezas".
O mesmo papel é desempenhado pelo pequeno deficiente Tim, que provoca
uma reviravolta na vida de Scrooge rompendo a sua "corrente". "É o
melhor presente que Scrooge já recebeu”, comenta Rialti, “e que lhe
permite ser, para Tim, o que na sua infância ninguém nunca tinha sido”.
O paradigma de Dickens é sempre o da misericórdia, e a resposta à
pobreza e à miséria é sempre a do humano, da abertura do coração. Toda
pessoa é um mistério. Diante dela, o homem sente uma inquietação
semelhante à que sente diante da morte.
“O nosso mistério precisa de alguém que o acolha. Dickens afirma que é
possível tornar-se humano quando encontramos o olhar de outro com quem
já nos sentimos em casa”, conclui Rialti.
in
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