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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dickens: o humano é a única chave para o social

Debate no Meeting de Rímini sobre o grande escritor britânico


Roma, 26 de Agosto de 2013


“Minha casa é você: redescobrir-se humano lendo Dickens”. Este foi o tema da conferência literária sobre o grande escritor britânico no Meeting de Rímini.

Charles Dickens (1812-1870), escritor "social" por excelência da era vitoriana, é, na verdade, o narrador do humano, dos sentimentos, a única forma possível de redenção para os menos afortunados.

Alison Milbank, professora de literatura e teologia na Universidade de Nottingham, destacou que o trabalho de Dickens sempre teve um aspecto profundamente autobiográfico. Aos doze anos, o escritor teve que deixar a escola para trabalhar na fábrica, entrando em contacto com classes sociais com as quais nunca tinha convivido.

Foi durante essa experiência degradante que o jovem Dickens descobriu a beleza da amizade e a riqueza das relações humanas. “Se há algo que falta em Dickens”, diz a professora Milbank, “é a proposta de uma solução colectiva para as necessidades sociais. Tudo passa através de pequenos grupos de pessoas de boa vontade, redes de amizade, que podem dar início à mudança”.
Quanto à época de Dickens, um fator não mudou: a exploração e a miséria das crianças. Seu sofrimento e o de todos os personagens "humildes" criados pela pena de Dickens se tornam a "lupa" que revela a sociedade tal como ela é.

De acordo com o crítico literário Edoardo Rialti, especialista em literatura inglesa, a obra de Dickens destaca o contraste entre a "cidade da quantidade" e a "cidade da qualidade", duas realidades que se tocam e às vezes se encontram.

Escravos da quantidade são personagens como o usurário Scrooge, o protagonista de Um Conto de Natal: ele mede toda relação humana pelo dinheiro. Outros têm como única referência o poder social, humano ou psicológico. "Todos eles têm o deserto à sua volta e dentro de si".

Cada um desses personagens está "amarrado a uma corrente", muitas vezes a do moralismo, como acontece com a Sra. Pardiggle, cujo moralismo não cede nem mesmo diante da tragédia de uma mãe que perdeu o filhinho. Neste caso, observa Rialti, "é uma cidade, a da qualidade, que entra na outra cidade, a da quantidade. Uma mão estendida para as nossas fraquezas".

O mesmo papel é desempenhado pelo pequeno deficiente Tim, que provoca uma reviravolta na vida de Scrooge rompendo a sua "corrente". "É o melhor presente que Scrooge já recebeu”, comenta Rialti, “e que lhe permite ser, para Tim, o que na sua infância ninguém nunca tinha sido”.

O paradigma de Dickens é sempre o da misericórdia, e a resposta à pobreza e à miséria é sempre a do humano, da abertura do coração. Toda pessoa é um mistério. Diante dela, o homem sente uma inquietação semelhante à que sente diante da morte.

“O nosso mistério precisa de alguém que o acolha. Dickens afirma que é possível tornar-se humano quando encontramos o olhar de outro com quem já nos sentimos em casa”, conclui Rialti.



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