Fala no Meeting de Rimini, Tianyue Wu, docente chinês que não teme manifestar-se como católico
Roma, 21 de Agosto de 2013
"A filosofia em si não pode converter os não-crentes. É
necessário ter a paciência de propor o cristianismo às pessoas com uma
tradição forte e antiga”. Estas palavras são de Tianyue Wu, professor do
Departamento de Filosofia no Institute of Foreign Philosophy da Peking
University. Wu, católico, narrou a sua história e a situação dos
católicos na China durante o encontro que se realiza no Meeting de
Rimini, segunda-feira, 19 de Agosto.
O professor de filosofia explicou que os cristãos na China são
trinta milhões, e destes, seis milhões são católicos, apesar do fato de
que "professar a fé publicamente é difícil, se não impossível". Ainda
que - acrescentou - "pelo fato de que neste momento não haja nenhuma
ética predominante na China seja muito mais atraente a mensagem cristã".
Segundo o professor Wu, "a incongruência entre o crescimento económico e a espiritualidade levou a uma ‘Emergência-homem’ também na
China” e “precisamente em virtude dos desafios enfrentados pelos
cristãos chineses, a difícil condição oferece também grandes
oportunidades”.
O professor de filosofia falou também que toda a sua família é
católica, a começar pelo avô que estudou em uma missão católica e estava
pensando em se tornar sacerdote. Depois virou médico. Toda a família
frequentava a missa e os sacramentos. Com a morte do avô, alguns
familiares entraram no seminário, enquanto Tianyue, começou a ler os
textos do pregador John Bunyan e de Santo Agostinho. Matriculou-se na
Faculdade de Filosofia em Pequim, onde hoje é professor.
Anos difíceis da Universidade onde era problemático até mesmo usar
uma cruz no pescoço. Junto com sua esposa, o professor organizou um
grupo de leitura sobre Santo Thomas. "Ao longo de minhas conversas com
os rapazes – disse – percebi que já tinha sido plantada uma semente nos
seus corações, que lhes teria ajudado a captar os desafios desse momento
histórico".
O professor chinês narrou a história religiosa da China, que contava
com várias religiões primitivas já no segundo milénio antes de Cristo. O
catolicismo veio à China em 1582, com o padre jesuíta Matteo Ricci, que
era apreciado pelo imperador e pela classe dominante, a tal ponto que é
o único ocidental cujo túmulo está localizado na "Cidade Proibida".
O Servo de Deus Matteo Ricci, matemático, geógrafo, astrónomo,
traduziu para o chinês importantes obras da ciência e manteve óptimas
relações com os maiores representantes do confucionismo. O trabalho de
Ricci foi continuado pelo jesuíta Martino Martini, que obteve do Papa
Alexandre VII a possibilidade de aceitar, embora com reservas, que os
chineses convertidos ao cristianismo pudessem continuar os seus rituais
para os mortos e para Confúcio sem serem excomungados. Foi então o
Imperador Kangxi, que governou a China de 1654-1722, que emitiu um
decreto de livre pregação do cristianismo.
Os padres jesuítas estavam convencidos de que para favorecer a
propagação do cristianismo na China era necessário inculturá-lo buscando
uma união entre os ritos e a cultura local, enquanto que os padres
franciscanos e dominicanos eram de pareceres diametralmente opostos.
Chegou até 1713 quando, com a bulla “Ex Illa die”, Papa Clemente XI
rejeitou toda mediação com os ritos chineses. Em 1742 com a bulla “Ex
quo singulari”, Bento XIV proibiu toda discussão sobre os ritos
chineses.
A supressão da Companhia de Jesus em 1773, favoreceu os componentes
chineses anti-católicos, de tal forma que os imperadores Yongzheng e
Qianlong limitaram a liberdade de pregação do cristianismo. Em 1939 o
servo de Deus o Papa Pio XII tirou as proibições e permitiu que os
católicos chineses participassem dos ritos tradicionais. Mas um pouco
mais tarde, em 1949, com o advento do comunismo começaram as
perseguições. Em 1957, depois da rejeição da autoridade do Papa nasceu a
Igreja Patriótica chinesa. Hoje é o governo chinês que nomeia os
Bispos.
Neste contexto, são significativas as palavras que o professor Tobias
Hoffmann, professor de Filosofia Medieval na Catholic University of
America, pronunciou na abertura do encontro: "A fim de entender melhor a
cultura e o pensamento ocidental, devemos entender como os filósofos e
os homens de cultura do Oriente vivem e testemunham o Cristianismo em
seu contexto sociológico ".
in
Sem comentários:
Enviar um comentário